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Maioria afirma que mulher não deve trabalhar fora
da Reportagem Local
Se dentro de casa as mulheres
enfrentam dificuldades, fora dela
os avanços obtidos pelo feminismo não estão assegurados. Para
70% dos brasileiros com 16 anos
ou mais, é melhor que a mulher
não trabalhe fora quando o homem ganha bem.
O percentual é obviamente mais
alto entre os homens, que vêem
sua função de provedor ameaçada.
Mas também é surpreendentemente alto entre as próprias mulheres: apenas 37% acham que
quando o marido ganha bem a
mulher também deveria trabalhar.
As opiniões só se invertem quando o universo pesquisado fica restrito às pessoas com diploma de
nível superior. Nesse segmento da
população, 56% apóiam que a mulher trabalhe fora de casa.
Porém, entre os que não estudaram além do 1º grau, estrato ao
qual pertence a maioria dos brasileiros, 76% gostariam que a mulher ficasse restrita apenas ao trabalho doméstico.
Baseada em pesquisas que fez
entre mulheres da zona Sul do Rio
de Janeiro, Lena Lavinas afirma
que as filhas de mães de classe média que trabalham fora já assimilaram a idéia de autonomia financeira das mulheres.
"À medida que as classes populares ampliarem sua escolaridade,
pode ser que elas também assimilem a idéia da autonomia feminina", avalia.
Em trabalho feito para o Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), Lena mostrou que o
rendimento das mulheres está limitado a 2/3 do que ganham os
homens.
Em boa parte dos casos, isso
ocorre devido ao que Lena chama
de segregação ocupacional: as mulheres ficam restritas a funções
mal-remuneradas, enquanto os
homens se ocupam da produção
de riqueza, em empregos que pagam melhor.
A pesquisa Datafolha ratifica esses dados e mostra que as conquistas femininas no mercado de trabalho ainda são limitadas: segundo 83% dos homens e 74% das
mulheres, o marido é quem tem o
maior rendimento dentro de casa.
A diferença nas respostas indica
outro preconceito: uma parcela
dos homens parece ter vergonha
em admitir que ganha menos do
que a mulher.
Mais do que os homens, as mulheres acham que o fato de um
cônjuge ganhar mais do que o outro atrapalha o relacionamento
-especialmente quando é ela
quem ganha menos.
Para a socióloga Elisabete Bilac,
o aumento do desemprego, em vez
de incentivar a ida da mulher ao
mercado de trabalho para compensar a perda da renda do marido, tende a agravar o discurso de
volta da mulher para casa.
Ela lembra que nos países desenvolvidos essa idéia tem ganhado
força. As mulheres que trabalham
tendem a ser vistas como competidoras, que disputam a mesma vaga da força de trabalho masculina.
No Brasil, esse temor talvez explique a vontade de 79% dos homens de que as mulheres que trabalham voltem para casa.
(JRT)
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