São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Maioria afirma que mulher não deve trabalhar fora

da Reportagem Local

Se dentro de casa as mulheres enfrentam dificuldades, fora dela os avanços obtidos pelo feminismo não estão assegurados. Para 70% dos brasileiros com 16 anos ou mais, é melhor que a mulher não trabalhe fora quando o homem ganha bem.
O percentual é obviamente mais alto entre os homens, que vêem sua função de provedor ameaçada. Mas também é surpreendentemente alto entre as próprias mulheres: apenas 37% acham que quando o marido ganha bem a mulher também deveria trabalhar.
As opiniões só se invertem quando o universo pesquisado fica restrito às pessoas com diploma de nível superior. Nesse segmento da população, 56% apóiam que a mulher trabalhe fora de casa.
Porém, entre os que não estudaram além do 1º grau, estrato ao qual pertence a maioria dos brasileiros, 76% gostariam que a mulher ficasse restrita apenas ao trabalho doméstico.
Baseada em pesquisas que fez entre mulheres da zona Sul do Rio de Janeiro, Lena Lavinas afirma que as filhas de mães de classe média que trabalham fora já assimilaram a idéia de autonomia financeira das mulheres.
"À medida que as classes populares ampliarem sua escolaridade, pode ser que elas também assimilem a idéia da autonomia feminina", avalia.
Em trabalho feito para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Lena mostrou que o rendimento das mulheres está limitado a 2/3 do que ganham os homens.
Em boa parte dos casos, isso ocorre devido ao que Lena chama de segregação ocupacional: as mulheres ficam restritas a funções mal-remuneradas, enquanto os homens se ocupam da produção de riqueza, em empregos que pagam melhor.
A pesquisa Datafolha ratifica esses dados e mostra que as conquistas femininas no mercado de trabalho ainda são limitadas: segundo 83% dos homens e 74% das mulheres, o marido é quem tem o maior rendimento dentro de casa.
A diferença nas respostas indica outro preconceito: uma parcela dos homens parece ter vergonha em admitir que ganha menos do que a mulher.
Mais do que os homens, as mulheres acham que o fato de um cônjuge ganhar mais do que o outro atrapalha o relacionamento -especialmente quando é ela quem ganha menos.
Para a socióloga Elisabete Bilac, o aumento do desemprego, em vez de incentivar a ida da mulher ao mercado de trabalho para compensar a perda da renda do marido, tende a agravar o discurso de volta da mulher para casa.
Ela lembra que nos países desenvolvidos essa idéia tem ganhado força. As mulheres que trabalham tendem a ser vistas como competidoras, que disputam a mesma vaga da força de trabalho masculina.
No Brasil, esse temor talvez explique a vontade de 79% dos homens de que as mulheres que trabalham voltem para casa. (JRT)




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