São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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País entra na guerra ao lado das democracias

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil do regime autoritário do Estado Novo entrou na Segunda Guerra ao lado dos EUA e das demais democracias ocidentais. O rompimento de relações diplomáticas com Alemanha e Itália e as bases cedidas aos americanos no Nordeste em 1941 tornavam o Brasil um país inegavelmente hostil ao Eixo.
Até julho de 1942, o Brasil perdeu 13 navios na guerra que os submarinos alemães faziam ao comércio dos aliados. Mas em agosto, o submarino alemão U-507 afundou seis embarcações nos mares do Nordeste. O Baependy teve 270 mortos, incluindo soldados do Exército. O Araraquara teve 131 mortos. O Aníbal Benévolo teve 150 mortos. O Itagiba teve 36 mortos. O Arará, que tinha parado para socorrer o Itagiba, teve 20 mortos. Só o pequeno veleiro Jacira, com seis tripulantes, escapou de ter vítimas.
Foi o equivalente brasileiro de Pearl Harbor: um ataque surpresa, com número elevado de mortos e feridos. Vargas teve que sair do muro e declarar guerra. Mas o Brasil não era um país preparado para a guerra moderna. Havia apenas 197.891 veículos no país em 1942, dos quais só 7.088 eram caminhões. Ainda assim, a Força Expedicionária Brasileira (FEB), composta por 25.334 homens, cumpriu seu papel com galhardia, apesar da contradição de pertencer a uma ditadura aliada a democracias que combatiam ditaduras semelhantes à brasileira.
O mesmo Exército que levou Vargas ao poder tramou sua queda. "Os problemas do regime resultaram mais da inserção do Brasil no quadro das relações internacionais do que das condições políticas internas do país. Essa inserção impulsionou as oposições e abriu caminho a divergências no interior do governo", escreveu o historiador Boris Fausto.
Espanha e Portugal, outros países com ditaduras assemelhadas, escaparam da guilhotina ao se manterem neutros. Vargas apoiou os aliados vencedores, mas caiu assim mesmo. O caudilho caiu de modo elegante. Ao contrário de Pedro 2º, não precisou ir ao exílio no exterior. Foi "exilado" para São Borja (RS), de onde voltaria, agora eleito, para o capítulo final de sua vida política. (RICARDO BONALUME NETO)


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