São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2001

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TELEVISÃO

Apresentador elogia terroristas

Por causa de comentários contra a ação americana, Bill Maher, da ABC, perde anunciantes

Reuters
Maher, que perdeu anunciantes por causa de comentários no ar


DE WASHINGTON

Bill Maher, apresentador do "Politicamente Incorreto", polêmico programa da rede de TV norte-americana ABC, perdeu seus principais patrocinadores e poderá ficar sem contrato depois de ter elogiado a coragem dos terroristas que cometeram os atentados em Nova York e Washington e chamado de covarde a estratégia militar dos EUA.
Em seu programa da última segunda-feira, Maher criticou a estratégia de guerra habitual dos EUA, alegando que militares têm medo de combater o inimigo de perto. "Temos enviado mísseis a uma distância de 3.200 quilômetros dos alvos. Isso é covardia. Ficar dentro de um avião enquanto ele explode num prédio - digam o que vocês quiserem dizer- não é covardia."
O programa de Maher tem o formato de "talk show" e reúne normalmente quatro convidados com pontos de vista conflitantes e demasiadamente polêmicos para os padrões norte-americanos. Quando começou, o programa era transmitido por um canal por assinatura.
No começo do ano, foi comprado pela ABC na esteira do sucesso de audiência durante a batalha eleitoral de 2000. Uma das convidadas habituais do programa era Barbara Olson, ex-promotora que estava no avião que se chocou contra o Pentágono e que, antes de morrer, telefonou a seu marido, o advogado-geral do governo, Ted Olson.

Covardia
Maher fez seus comentários polêmicos ao concordar com a opinião do escritor Dinesh D'Souza, um dos convidados daquela noite. D'Souza discordava da idéia de que os sequestradores dos aviões eram covardes por terem matado civis.
"Embora acredite que Bush (o presidente George W. Bush) esteja fazendo um bom trabalho, uma das idéias que ouço frequentemente é a de que as pessoas que fizeram isso são covardes. Isso não é verdade. Vejam o que fizeram. Em primeiro lugar, são um bando de pessoas dispostas a entregar suas próprias vidas. Ninguém desistiu no meio do caminho. Todos se estouraram contra pedaços de concreto", afirmou o escritor no programa.
Maher concordou com o escritor e, numa inversão de raciocínio, chamou os militares norte-americanos de covardes por dispararem mísseis de longe.

Ameaças
A reação contra Maher foi imediata. As companhias Federal Express e Sears retiraram seus comerciais e o patrocínio que davam ao programa sob alegação de que milhares de consumidores teriam telefonado para protestar. Telespectadores ameaçaram Maher pelo telefone. Um radialista prometeu bater no apresentador quando encontrá-lo.
Na terça-feira, a rede ABC divulgou nota defendendo o programa, mas há dúvidas sobre sua viabilidade financeira depois da saída dos dois principais patrocinadores. "Politicamente Incorreto" é um show que celebra a liberdade de expressão. Ao mesmo tempo em que permanecemos sensíveis em relação ao clima atual depois da tragédia da semana passada e continuamos a ajudar os telespectadores a lidar com os eventos, é preciso manter um espaço para expressar as diversas opiniões na nação."

Desculpas
Na terça-feira, Maher desculpou-se ao vivo para tentar salvar seu programa. O apresentador alegou que seu intuito foi criticar o governo por ter impedido que os militares fossem "até o fim" na Guerra do Iraque.
A polêmica ocorre num momento em que a imprensa norte-americana fomenta o clima patriótico da população. Há alguns dias, o conhecido apresentador de TV Dan Rather chorou de emoção ao relatar os atentados no "Late Show with David Letterman".
Desde os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, os meios de comunicação têm se esforçado para suavizar os danos emocionais da população. Imagens de cadáveres mutilados e de suicídios são raras e, ao menos num primeiro momento, jornais decidiram adiar a discussão e a investigação de eventuais falhas nos sistemas de inteligência e de segurança do país.
O presidente da rede CNN, Walter Isaacson, reconheceu que a prioridade da imprensa tem sido a de fazer a população "compreender e aceitar o episódio emocionalmente".
(MARCIO AITH)


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