São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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UNÂNIME
Presidente obtém 90% popularidade, marca jamais alcançada por seus antecessores

Aprovação a Bush quebra recorde

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Para um presidente eleito há menos de um ano com menos votos que seu principal adversário e acusado de ter usado o poder do pai para escapar do grande desafio militar de sua geração, a Guerra do Vietnã, George W. Bush atingiu ontem um marco surpreendente na política norte-americana: tornou-se o presidente mais popular da história dos EUA, após prometer eliminar o terrorismo internacional.
Pesquisa realizada pelo Gallup na sexta-feira e no sábado, após o discurso histórico de Bush ao Congresso, revela que nove em cada dez norte-americanos aprovam sua administração.
Trata-se do maior índice já obtido por um ocupante da Casa Branca desde que o instituto começou a medir popularidade presidencial, em 1938.
O índice de aprovação a Bush ultrapassa os 89% obtidos no final da Guerra do Golfo (1991) por seu pai, George Bush, e os 84% do ex-presidente Franklin Roosevelt depois do ataque japonês a Pearl Harbor, em 1941.
A mesma pesquisa revela uma associação entre as duas guerras da família Bush: a atual, contra o terrorismo, e a de 1991, contra o Iraque.
Embora não existam provas de que o presidente iraquiano, Saddam Hussein, esteja envolvido nos ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono, 73% dos entrevistados aprovam hoje uma ação militar contra o Iraque e 68% defendem a retirada de Saddam do poder.
Os números mostram a reviravolta que os atentados causaram nos rumos e no poder da Presidência de Bush. Segundo pesquisa do mesmo Gallup concluída um dia antes dos ataques, apenas 51% dos norte-americanos aprovavam sua administração. Em menos de duas semanas, a popularidade do presidente saltou 35 pontos percentuais.
Especialistas vêem no comportamento da opinião pública norte-americana causas mais complexas que o simples clima de união nacional e o patriotismo verificados em tempos de guerra. "O desejo de autoproteção é um elemento importante agora", diz Gary Langer, jornalista da rede ABC que se debruçou sobre pesquisas nos últimos 15 anos para descobrir os fatores que afetam a popularidade de presidentes. "O ataque foi o primeiro contra o território continental dos EUA e contra civis. Os americanos não apóiam Bush apenas por patriotismo, mas também por um medo acima do normal; todos querem que o presidente dê certo."
Segundo Langer, os norte-americanos tendem mais a apoiar ações contra terroristas do que ações militares humanitárias ou exclusivamente em defesa de um país amigo. Pesquisas conduzidas entre 1986 e 1990 mostram que uma média de 80% dos norte-americanos sempre aprovaram ações militares contra países como o Irã, a Síria e "qualquer nações do Oriente Médio" que apóie o terror. Numa pesquisa de 1994, 77% dos norte-americanos apoiavam "quaisquer ações necessárias, inclusive a ação militar", para impedir que a Coréia do Sul tivesse acesso a armas nucleares.
Na pesquisa Gallup divulgada ontem, o medo da população ficou claro. Apenas 7% dos norte-americanos estão "extremamente confiantes" de que os EUA conseguirão evitar novos atentados em seu território.
Com tanto receio e senso patriótico dos norte-americanos, há quem indague se sua popularidade recorde decorre de alguma de suas virtudes ou é produto de um sistema automático por meio do qual a população protege seus líderes em períodos de guerra.
Conhecido pela oratória deficiente e estigmatizado pela falta de experiência externa, Bush reagiu no início da crise de forma vacilante, demorando para retornar a Washington e tornando-se refém de seu serviço secreto.
Depois, seguiu os passos que lhe foram sugeridos por um editorial do "The New York Times", adotou um discurso bélico e não saiu da frente das câmeras.
Com o pronunciamento histórico de quinta-feira, Bush consolidou o apoio da população e a união do Congresso mesmo sem ter sido um bom comunicador.
No entanto Langer vê méritos próprios do presidente. "Bush não assume a dor das pessoas ao discursar, mas, numa reação estranha, as pessoas é que sentem sua dor e suas dificuldades. Temos compaixão por ele."
Ontem, a Casa Branca esforçou-se para mostrar que o presidente teve participação ativa na confecção de seu discurso de quinta-feira. Divulgou recados (supostamente) escritos pelo presidente ordenando o chefe da equipe que escreve suas falas incluísse idéias e trechos no texto lido no Congresso. Ao referir-se aos terroristas, Bush teria sugerido a inclusão da seguinte frase: "Esse é um inimigo que não conseguirá fugir para sempre".



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