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UNÂNIME
Presidente obtém 90% popularidade, marca jamais alcançada por seus antecessores
Aprovação a Bush quebra recorde
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Para um presidente eleito há
menos de um ano com menos votos que seu principal adversário e
acusado de ter usado o poder do
pai para escapar do grande desafio militar de sua geração, a Guerra do Vietnã, George W. Bush
atingiu ontem um marco surpreendente na política norte-americana: tornou-se o presidente mais popular da história dos
EUA, após prometer eliminar o
terrorismo internacional.
Pesquisa realizada pelo Gallup
na sexta-feira e no sábado, após o
discurso histórico de Bush ao
Congresso, revela que nove em
cada dez norte-americanos aprovam sua administração.
Trata-se do maior índice já obtido por um ocupante da Casa
Branca desde que o instituto começou a medir popularidade presidencial, em 1938.
O índice de aprovação a Bush
ultrapassa os 89% obtidos no final
da Guerra do Golfo (1991) por seu
pai, George Bush, e os 84% do ex-presidente Franklin Roosevelt depois do ataque japonês a Pearl
Harbor, em 1941.
A mesma pesquisa revela uma
associação entre as duas guerras
da família Bush: a atual, contra o
terrorismo, e a de 1991, contra o
Iraque.
Embora não existam provas de
que o presidente iraquiano, Saddam Hussein, esteja envolvido
nos ataques terroristas ao World
Trade Center e ao Pentágono,
73% dos entrevistados aprovam
hoje uma ação militar contra o
Iraque e 68% defendem a retirada
de Saddam do poder.
Os números mostram a reviravolta que os atentados causaram
nos rumos e no poder da Presidência de Bush. Segundo pesquisa do mesmo Gallup concluída
um dia antes dos ataques, apenas
51% dos norte-americanos aprovavam sua administração. Em
menos de duas semanas, a popularidade do presidente saltou 35
pontos percentuais.
Especialistas vêem no comportamento da opinião pública norte-americana causas mais complexas que o simples clima de
união nacional e o patriotismo verificados em tempos de guerra.
"O desejo de autoproteção é um
elemento importante agora", diz
Gary Langer, jornalista da rede
ABC que se debruçou sobre pesquisas nos últimos 15 anos para
descobrir os fatores que afetam a
popularidade de presidentes. "O
ataque foi o primeiro contra o território continental dos EUA e
contra civis. Os americanos não
apóiam Bush apenas por patriotismo, mas também por um medo
acima do normal; todos querem
que o presidente dê certo."
Segundo Langer, os norte-americanos tendem mais a apoiar
ações contra terroristas do que
ações militares humanitárias ou
exclusivamente em defesa de um
país amigo. Pesquisas conduzidas
entre 1986 e 1990 mostram que
uma média de 80% dos norte-americanos sempre aprovaram
ações militares contra países como o Irã, a Síria e "qualquer nações do Oriente Médio" que apóie
o terror. Numa pesquisa de 1994,
77% dos norte-americanos apoiavam "quaisquer ações necessárias, inclusive a ação militar", para
impedir que a Coréia do Sul tivesse acesso a armas nucleares.
Na pesquisa Gallup divulgada
ontem, o medo da população ficou claro. Apenas 7% dos norte-americanos estão "extremamente
confiantes" de que os EUA conseguirão evitar novos atentados em
seu território.
Com tanto receio e senso patriótico dos norte-americanos, há
quem indague se sua popularidade recorde decorre de alguma de
suas virtudes ou é produto de um
sistema automático por meio do
qual a população protege seus líderes em períodos de guerra.
Conhecido pela oratória deficiente e estigmatizado pela falta
de experiência externa, Bush reagiu no início da crise de forma vacilante, demorando para retornar
a Washington e tornando-se refém de seu serviço secreto.
Depois, seguiu os passos que lhe
foram sugeridos por um editorial
do "The New York Times", adotou um discurso bélico e não saiu
da frente das câmeras.
Com o pronunciamento histórico de quinta-feira, Bush consolidou o apoio da população e a
união do Congresso mesmo sem
ter sido um bom comunicador.
No entanto Langer vê méritos
próprios do presidente. "Bush
não assume a dor das pessoas ao
discursar, mas, numa reação estranha, as pessoas é que sentem
sua dor e suas dificuldades. Temos compaixão por ele."
Ontem, a Casa Branca esforçou-se para mostrar que o presidente
teve participação ativa na confecção de seu discurso de quinta-feira. Divulgou recados (supostamente) escritos pelo presidente
ordenando o chefe da equipe que
escreve suas falas incluísse idéias e
trechos no texto lido no Congresso. Ao referir-se aos terroristas,
Bush teria sugerido a inclusão da
seguinte frase: "Esse é um inimigo
que não conseguirá fugir para
sempre".
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