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Equipe de Bush analisa opções militares e políticas
JANE PERLEZ
DAVID E. SANGER
THOM SHANKER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Em seu discurso de quinta-feira
à noite, o presidente George W.
Bush identificou o inimigo, de
modo decidido, em sua guerra
contra o terrorismo: "De hoje em
diante toda nação que continuar a
hospedar ou apoiar o terrorismo
será vista pelos EUA como um regime hostil".
Apesar de sua aparência cristalina, as palavras e a nova estratégia
que brotaram daí foram o produto de sete dias de intensos intercâmbios -na Casa Branca e em
Camp David- entre os membros
do Conselho de Guerra de Bush.
Seus líderes acumularam experiência em vários conflitos distintos: a Guerra Fria, para o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld; a
Guerra do Golfo, para o secretário
de Estado, Colin Powell, e o vice-presidente, Dick Cheney; a Guerra do Vietnã, para todos eles.
Cheney, secretário da Defesa na
primeira administração Bush,
ofereceu ao presidente opções militares, diplomáticas e políticas.
Powell, chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas durante a
Guerra do Golfo, era então uma
voz bastante precavida e tem sido
agora novamente um advogado
da prudência.
Rumsfeld defendia, mesmo antes de 11 de setembro, que os militares deveriam se readequar para
enfrentar as "ameaças assimétricas" -que foi exatamente o que
atingiu seu prédio [o Pentágono".
Mas o perfil de um plano de
guerra frequentemente emerge
das conversas particulares entre
dois recém-chegados ao mundo
dos campos de batalha, George
W. Bush e Condoleezza Rice, sua
assessora de segurança nacional.
Isso se tornou evidente no último fim de semana. O Conselho de
Guerra reuniu-se em Camp David
por sete horas naquilo que os participantes chamaram de "um intenso debate" sobre como definir
e deflagrar a guerra, um debate
em que Bush era descrito por vários participantes como, acima de
tudo, um ouvinte. No domingo de
manhã, depois que os outros partiram, Bush convocou Rice.
"Aqui está o que eu quero fazer", disse a Rice, uma ex-professora da Universidade de Stanford
e especialista em Rússia que foi
coordenadora de política exterior
em sua campanha.
Quando Rice começou a tomar
notas, segundo informou um assessor da Casa Branca, Bush lhe
disse que a guerra ao terrorismo
aconteceria em etapas, tendo início com um ataque mais específico contra Bin Laden, suas operações e seus protetores afegãos,
mas eventualmente incluindo todas as operações terroristas e os
países que as patrocinassem.
As anotações de Rice formaram
a base de um encontro da segunda de manhã dos "principais".
Suas notas também forneceram
as sementes da retórica robusta
que Bush usou em seu discurso e
da estratégia que as autoridades
na Casa Branca, no Pentágono e
no Departamento de Estado dizem que irão utilizar enquanto caças, navios e soldados americanos
se dirigem a seu destino.
A estratégia em etapas nasceu
da percepção de que levaria semanas para conduzir as forças militares ao Golfo Pérsico e ao sul da
Ásia. Mas isso teve também o benefício de suprimir -ou pelo menos deixar em segundo plano-
as diferenças dentro do Conselho
de Guerra.
Os assessores responsáveis por
construir uma coalizão multilateral para combater o terrorismo,
conduzido por Powell e o subsecretário de Estado, Richard Armitage, defenderam com convicção
que o primeiro ataque deveria ser
contra um alvo claramente relacionado com os ataques contra o
World Trade Center e Pentágono.
O argumento mais sólido, recomendado por Rumsfeld e pelo secretário-adjunto da Defesa, Paul
Wolfowitz, defendia a ampliação
do ataque, de modo a incluir outros Estados patrocinadores do
terrorismo, sobretudo o Iraque.
Tratava-se de um argumento
-e eles sabiam disso- que atingiria especialmente o presidente
Bush, que sabe muito bem que
Saddam Hussein sobreviveu à
Presidência de seu pai e à Presidência de Clinton.
Enquanto Bush e seu Conselho
de Guerra estavam pressionando
os Estados para mudarem seus
hábitos, a crise forçava os membros da própria equipe de segurança nacional do presidente a
mudar os seus.
Nos primeiros meses de sua
Presidência, membros da equipe
de segurança nacional estavam
seguros sobre tudo, desde o abandono do tratado de mísseis antibalísticos de 1972 até como lidar
com a China e a Coréia do Norte.
A revista "Time" perguntava
para onde Colin Powell fora, sugerindo que, apesar de seu status
de estrela, ele tinha pouco a apresentar em seus seis meses de governo.
Poucos dias antes do ataque,
uma fofoca publicada em "The
Washington Post" já especulava
sobre os possíveis sucessores de
Rumsfeld. No dia 11 de setembro,
ele partiu às pressas de seu escritório no Pentágono para dar assistência aos feridos nos primeiros minutos após um avião sequestrado ter atingido o prédio.
Os ataques coordenados à cidade de Nova York e ao Pentágono
"foram a pior prova dos "desconhecidos desconhecidos" de que
ele gosta de falar", disse um assessor de Rumsfeld.
Colin Powell, que estava no Peru quando os ataques ocorreram,
voou de volta aos EUA imediatamente e, na sexta-feira, dia 14,
conversou com mais de 80 de seus
colegas em todo o mundo, por telefone ou pessoalmente em sua
sala no Departamento de Estado.
Subitamente, ele estava no meio
das coisas, prevenindo o general
Pervez Musharraf, presidente do
Paquistão, de que ele tinha a opção de cooperar ou ser transformado em um Estado pária.
Ele falou várias vezes com o
príncipe Bandar bin Sultan, o embaixador saudita nos EUA, enquanto a Arábia Saudita se esforçava para tentar conciliar sua
amizade com Washington com as
consequências que um ataque ao
mundo islâmico poderia acarretar ao reino.
Várias vezes no dia, qualquer
pessoa sintonizada nos canais de
notícia encontraria o secretário de
Estado explicando a política adotada ou participando de entrevistas junto com líderes do mundo
em visita aos EUA.
Pairando sobre tudo, estava
Cheney, que também tinha dado
a impressão de ter desaparecido e
que ressurge no centro dos problemas.
Mas, no dia 11 de setembro, ele
era o homem no "bunker" da Casa Branca e, no fim de semana seguinte, ele retornou aos holofotes
para descrever a política que estava emergindo em um tom poderosamente calmo.
Por trás do palco, Cheney aparece como tendo sido algo como
uma força unificadora. E, na semana passada, depois de ocorrido
o encontro de Camp David, Condoleezza Rice, cujos amigos dizem que ela tem uma obsessão
pela ordem, havia estabelecido o
aparato de segurança nacional em
moldes rigorosos.
Todo o Conselho de Segurança
Nacional se reuniu, em cada manhã, com o presidente Bush na
Casa Branca.
Rice agendou uma segunda reunião, sem o presidente, um pouco
mais tarde.
Várias vezes ao longo da semana, Rumsfeld e Powell participaram das reuniões por meio de videoconferências.
Desde que o presidente Bush retornou à Casa Branca, Rice poucas vezes saiu de seu lado. Ao lado
de sua voz e da do vice-presidente, as mais importantes são a de
Rumsfeld e Powell.
Mas o Conselho de Guerra todo
está mergulhando no desconhecido. Durante a campanha, Bush
criticou seu predecessor por envolver-se em conflitos regionais
sem ter uma saída estratégica. Na
luta contra o terrorismo global o
termo "saída estratégica" tem
pouco significado.
Do mesmo modo, Bush sempre
argumentou que os EUA não deveriam entrar em um conflito sem
ser capaz de sair vitorioso. Nesse
caso, e os membros do Conselho
de Guerra devem concordar, a vitória virá em pedacinhos e provavelmente nunca será definitiva.
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