São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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Equipe de Bush analisa opções militares e políticas

JANE PERLEZ
DAVID E. SANGER
THOM SHANKER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Em seu discurso de quinta-feira à noite, o presidente George W. Bush identificou o inimigo, de modo decidido, em sua guerra contra o terrorismo: "De hoje em diante toda nação que continuar a hospedar ou apoiar o terrorismo será vista pelos EUA como um regime hostil".
Apesar de sua aparência cristalina, as palavras e a nova estratégia que brotaram daí foram o produto de sete dias de intensos intercâmbios -na Casa Branca e em Camp David- entre os membros do Conselho de Guerra de Bush.
Seus líderes acumularam experiência em vários conflitos distintos: a Guerra Fria, para o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld; a Guerra do Golfo, para o secretário de Estado, Colin Powell, e o vice-presidente, Dick Cheney; a Guerra do Vietnã, para todos eles.
Cheney, secretário da Defesa na primeira administração Bush, ofereceu ao presidente opções militares, diplomáticas e políticas.
Powell, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas durante a Guerra do Golfo, era então uma voz bastante precavida e tem sido agora novamente um advogado da prudência.
Rumsfeld defendia, mesmo antes de 11 de setembro, que os militares deveriam se readequar para enfrentar as "ameaças assimétricas" -que foi exatamente o que atingiu seu prédio [o Pentágono".
Mas o perfil de um plano de guerra frequentemente emerge das conversas particulares entre dois recém-chegados ao mundo dos campos de batalha, George W. Bush e Condoleezza Rice, sua assessora de segurança nacional.
Isso se tornou evidente no último fim de semana. O Conselho de Guerra reuniu-se em Camp David por sete horas naquilo que os participantes chamaram de "um intenso debate" sobre como definir e deflagrar a guerra, um debate em que Bush era descrito por vários participantes como, acima de tudo, um ouvinte. No domingo de manhã, depois que os outros partiram, Bush convocou Rice.
"Aqui está o que eu quero fazer", disse a Rice, uma ex-professora da Universidade de Stanford e especialista em Rússia que foi coordenadora de política exterior em sua campanha.
Quando Rice começou a tomar notas, segundo informou um assessor da Casa Branca, Bush lhe disse que a guerra ao terrorismo aconteceria em etapas, tendo início com um ataque mais específico contra Bin Laden, suas operações e seus protetores afegãos, mas eventualmente incluindo todas as operações terroristas e os países que as patrocinassem.
As anotações de Rice formaram a base de um encontro da segunda de manhã dos "principais". Suas notas também forneceram as sementes da retórica robusta que Bush usou em seu discurso e da estratégia que as autoridades na Casa Branca, no Pentágono e no Departamento de Estado dizem que irão utilizar enquanto caças, navios e soldados americanos se dirigem a seu destino.
A estratégia em etapas nasceu da percepção de que levaria semanas para conduzir as forças militares ao Golfo Pérsico e ao sul da Ásia. Mas isso teve também o benefício de suprimir -ou pelo menos deixar em segundo plano- as diferenças dentro do Conselho de Guerra.
Os assessores responsáveis por construir uma coalizão multilateral para combater o terrorismo, conduzido por Powell e o subsecretário de Estado, Richard Armitage, defenderam com convicção que o primeiro ataque deveria ser contra um alvo claramente relacionado com os ataques contra o World Trade Center e Pentágono.
O argumento mais sólido, recomendado por Rumsfeld e pelo secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, defendia a ampliação do ataque, de modo a incluir outros Estados patrocinadores do terrorismo, sobretudo o Iraque.
Tratava-se de um argumento -e eles sabiam disso- que atingiria especialmente o presidente Bush, que sabe muito bem que Saddam Hussein sobreviveu à Presidência de seu pai e à Presidência de Clinton.
Enquanto Bush e seu Conselho de Guerra estavam pressionando os Estados para mudarem seus hábitos, a crise forçava os membros da própria equipe de segurança nacional do presidente a mudar os seus.
Nos primeiros meses de sua Presidência, membros da equipe de segurança nacional estavam seguros sobre tudo, desde o abandono do tratado de mísseis antibalísticos de 1972 até como lidar com a China e a Coréia do Norte.
A revista "Time" perguntava para onde Colin Powell fora, sugerindo que, apesar de seu status de estrela, ele tinha pouco a apresentar em seus seis meses de governo.
Poucos dias antes do ataque, uma fofoca publicada em "The Washington Post" já especulava sobre os possíveis sucessores de Rumsfeld. No dia 11 de setembro, ele partiu às pressas de seu escritório no Pentágono para dar assistência aos feridos nos primeiros minutos após um avião sequestrado ter atingido o prédio.
Os ataques coordenados à cidade de Nova York e ao Pentágono "foram a pior prova dos "desconhecidos desconhecidos" de que ele gosta de falar", disse um assessor de Rumsfeld.
Colin Powell, que estava no Peru quando os ataques ocorreram, voou de volta aos EUA imediatamente e, na sexta-feira, dia 14, conversou com mais de 80 de seus colegas em todo o mundo, por telefone ou pessoalmente em sua sala no Departamento de Estado.
Subitamente, ele estava no meio das coisas, prevenindo o general Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, de que ele tinha a opção de cooperar ou ser transformado em um Estado pária.
Ele falou várias vezes com o príncipe Bandar bin Sultan, o embaixador saudita nos EUA, enquanto a Arábia Saudita se esforçava para tentar conciliar sua amizade com Washington com as consequências que um ataque ao mundo islâmico poderia acarretar ao reino.
Várias vezes no dia, qualquer pessoa sintonizada nos canais de notícia encontraria o secretário de Estado explicando a política adotada ou participando de entrevistas junto com líderes do mundo em visita aos EUA.
Pairando sobre tudo, estava Cheney, que também tinha dado a impressão de ter desaparecido e que ressurge no centro dos problemas.
Mas, no dia 11 de setembro, ele era o homem no "bunker" da Casa Branca e, no fim de semana seguinte, ele retornou aos holofotes para descrever a política que estava emergindo em um tom poderosamente calmo.
Por trás do palco, Cheney aparece como tendo sido algo como uma força unificadora. E, na semana passada, depois de ocorrido o encontro de Camp David, Condoleezza Rice, cujos amigos dizem que ela tem uma obsessão pela ordem, havia estabelecido o aparato de segurança nacional em moldes rigorosos.
Todo o Conselho de Segurança Nacional se reuniu, em cada manhã, com o presidente Bush na Casa Branca.
Rice agendou uma segunda reunião, sem o presidente, um pouco mais tarde.
Várias vezes ao longo da semana, Rumsfeld e Powell participaram das reuniões por meio de videoconferências.
Desde que o presidente Bush retornou à Casa Branca, Rice poucas vezes saiu de seu lado. Ao lado de sua voz e da do vice-presidente, as mais importantes são a de Rumsfeld e Powell.
Mas o Conselho de Guerra todo está mergulhando no desconhecido. Durante a campanha, Bush criticou seu predecessor por envolver-se em conflitos regionais sem ter uma saída estratégica. Na luta contra o terrorismo global o termo "saída estratégica" tem pouco significado.
Do mesmo modo, Bush sempre argumentou que os EUA não deveriam entrar em um conflito sem ser capaz de sair vitorioso. Nesse caso, e os membros do Conselho de Guerra devem concordar, a vitória virá em pedacinhos e provavelmente nunca será definitiva.



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