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REAL EM CRISE
FHC convoca equipe para reunião de emergência; BC descarta controlar câmbio
Governo discute disparada do dólar
LEONARDO SOUZA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente FHC convocou a
cúpula da equipe econômica para
uma reunião de emergência hoje.
Devem ser discutidas novas medidas para tentar conter a disparada do dólar, cujo valor em relação ao real subiu 45,3% desde o
início do ano. Na semana passada, a moeda dos EUA se valorizou
em 5,39%, em consequência do
nervosismo nos mercados após
os atentados terroristas nos EUA.
Foram chamados os ministros
Pedro Malan (Fazenda), Sergio
Amaral (Desenvolvimento) e Pedro Parente (Casa Civil), além do
presidente do Banco Central, Armínio Fraga. A reunião será no final da tarde, no Planalto.
O convite foi feito pelo presidente na última sexta-feira, no
mesmo dia em que o BC decidiu
elevar de zero para 10% a alíquota
do depósito compulsório sobre os
depósitos a prazo, depois de o dólar ter fechado em R$ 2,835 -novo recorde no Plano Real.
Uma das medidas que devem
ser adotadas é o saque da primeira parcela de US$ 4,6 bilhões do
novo empréstimo acertado com o
FMI (Fundo Monetário Internacional). O dinheiro já está à disposição do país há mais de uma semana. O valor do total do empréstimo aprovado, neste mês, com o
Fundo foi de US$ 15,6 bilhões.
Com os recursos da primeira
parcela, o governo reforçaria o
saldo das reservas cambiais. Isso
daria maior poder ao BC para intervir no mercado. Isto é, poderia
vender mais dólares, o que contribuiria para derrubar a cotação.
Controle do câmbio
No mercado financeiro, há a expectativa de que o governo adote
outras medidas para segurar a volatilidade do dólar. Especialistas
avaliam que a alta do compulsório foi apenas a primeira delas.
Há no mercado quem espere
que o BC adote algum tipo de
controle do fluxo de capitais e do
câmbio. A possibilidade foi descartada, porém, pelo órgão.
"Isso é uma bobagem. Quem
me conhece sabe que eu não acredito nessas coisas como saída para nada", disse Armínio Fraga ontem, por meio de sua assessoria.
Fraga teme que as especulações
sobre eventual adoção de mecanismos de controle do fluxo de capitais piorem ainda mais as expectativas sobre a taxa de câmbio.
"Tenho consciência do mal que a
simples menção do tema pode
causar à nossa economia", disse.
Com a alta do compulsório, o
BC vai retirar R$ 10 bilhões de circulação do mercado (os recursos
ficarão retidos no BC). A estratégia foi reduzir a disponibilidade
dos bancos para comprar dólar e
fazer com que os juros no mercado, de forma indireta, subissem.
O dinheiro que ficará parado no
BC está quase todo aplicado em
títulos, principalmente em CDBs.
Com menos oferta para aplicação,
os juros desses papéis tendem a
subir, para atrair recursos.
Assim, investidores que têm
comprado dólar podem partir para títulos, que talvez rendam mais.
Para alguns especialistas, no entanto, essa medida isolada não é
suficiente para conter o dólar. Por
isso avaliam que o governo deverá
adotar outros mecanismos para
reduzir a pressão sobre o câmbio.
Ou usar com mais vigor as armas
de que dispõe, como elevar os juros e as intervenções no câmbio.
Na reunião do Planalto, também serão discutidas propostas
para incentivar as exportações,
aproveitando que a alta do dólar
favorece a venda do produto brasileiro no exterior. O aumento do
saldo comercial contribuiria para
reduzir as pressões sobre o dólar.
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