São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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REAL EM CRISE
FHC convoca equipe para reunião de emergência; BC descarta controlar câmbio

Governo discute disparada do dólar

LEONARDO SOUZA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente FHC convocou a cúpula da equipe econômica para uma reunião de emergência hoje. Devem ser discutidas novas medidas para tentar conter a disparada do dólar, cujo valor em relação ao real subiu 45,3% desde o início do ano. Na semana passada, a moeda dos EUA se valorizou em 5,39%, em consequência do nervosismo nos mercados após os atentados terroristas nos EUA.
Foram chamados os ministros Pedro Malan (Fazenda), Sergio Amaral (Desenvolvimento) e Pedro Parente (Casa Civil), além do presidente do Banco Central, Armínio Fraga. A reunião será no final da tarde, no Planalto.
O convite foi feito pelo presidente na última sexta-feira, no mesmo dia em que o BC decidiu elevar de zero para 10% a alíquota do depósito compulsório sobre os depósitos a prazo, depois de o dólar ter fechado em R$ 2,835 -novo recorde no Plano Real.
Uma das medidas que devem ser adotadas é o saque da primeira parcela de US$ 4,6 bilhões do novo empréstimo acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O dinheiro já está à disposição do país há mais de uma semana. O valor do total do empréstimo aprovado, neste mês, com o Fundo foi de US$ 15,6 bilhões.
Com os recursos da primeira parcela, o governo reforçaria o saldo das reservas cambiais. Isso daria maior poder ao BC para intervir no mercado. Isto é, poderia vender mais dólares, o que contribuiria para derrubar a cotação.

Controle do câmbio
No mercado financeiro, há a expectativa de que o governo adote outras medidas para segurar a volatilidade do dólar. Especialistas avaliam que a alta do compulsório foi apenas a primeira delas.
Há no mercado quem espere que o BC adote algum tipo de controle do fluxo de capitais e do câmbio. A possibilidade foi descartada, porém, pelo órgão.
"Isso é uma bobagem. Quem me conhece sabe que eu não acredito nessas coisas como saída para nada", disse Armínio Fraga ontem, por meio de sua assessoria.
Fraga teme que as especulações sobre eventual adoção de mecanismos de controle do fluxo de capitais piorem ainda mais as expectativas sobre a taxa de câmbio. "Tenho consciência do mal que a simples menção do tema pode causar à nossa economia", disse.
Com a alta do compulsório, o BC vai retirar R$ 10 bilhões de circulação do mercado (os recursos ficarão retidos no BC). A estratégia foi reduzir a disponibilidade dos bancos para comprar dólar e fazer com que os juros no mercado, de forma indireta, subissem.
O dinheiro que ficará parado no BC está quase todo aplicado em títulos, principalmente em CDBs. Com menos oferta para aplicação, os juros desses papéis tendem a subir, para atrair recursos.
Assim, investidores que têm comprado dólar podem partir para títulos, que talvez rendam mais.
Para alguns especialistas, no entanto, essa medida isolada não é suficiente para conter o dólar. Por isso avaliam que o governo deverá adotar outros mecanismos para reduzir a pressão sobre o câmbio. Ou usar com mais vigor as armas de que dispõe, como elevar os juros e as intervenções no câmbio.
Na reunião do Planalto, também serão discutidas propostas para incentivar as exportações, aproveitando que a alta do dólar favorece a venda do produto brasileiro no exterior. O aumento do saldo comercial contribuiria para reduzir as pressões sobre o dólar.


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