São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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Para economistas, controle é retrocesso

DA REPORTAGEM LOCAL
E DO PAINEL S.A.

O eventual controle cambial é considerado um retrocesso na política econômica do governo. Economistas ouvidos pela Folha rechaçaram a adoção da medida.
Para Raul Velloso, especialista em contas públicas, recorrer a alguma medida de controle cambial seria a ""negação de toda a postura que o governo manteve nos últimos anos". "É impensável. Significa o rompimento do esforço de integração com o resto do mundo."
O especialista afirma que, antes de adotar medidas ""extremas", a equipe econômica teria alternativas, como desaquecer mais ainda a economia ou buscar apoio internacional -leia-se pedir novo empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Neste mês, o Fundo ratificou um novo empréstimo para o Brasil, no valor de US$ 15,6 bilhões -a primeira parcela, de US$ 4,6 bilhões, já está disponível para reforçar as reservas cambiais.
Em julho, o Banco Central havia anunciado que usaria US$ 6 bilhões até dezembro, em intervenções lineares. Com essas intervenções, em uma média de US$ 50 milhões por dia, esperava conter a escalada do dólar. O próprio BC tratou de descumprir a regra desde o dia 11 passado, data dos atentados terroristas aos EUA. Naquele dia foram vendidos US$ 150 milhões em papel-moeda. No seguinte, mais US$ 120 milhões.
Mas o dólar não pára de subir. Na última semana, a cotação da moeda bateu quatro recordes seguidos: US$ 1 passou a valer R$ 2,835. E a valorização no ano saltou para 45,3%.
""Qualquer controle cambial seria contrário ao modelo que o governo tem defendido. Não é um problema de saída de dólares do Brasil. É de ingresso", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank. ""Com o controle, pode ocorrer estabilização [da cotação" a curto prazo, mas a médio e longo prazos o país seria punido pela mudança nas regras do jogo."
A possibilidade de o governo acabar com a política de câmbio flutuante é descartada pelo economista-chefe do ABN-Amro Asset Management, Hugo Penteado. "O câmbio fixo ou a volta de um sistema de bandas, como em janeiro de 99, não duraria uma semana. Hoje o cenário externo está pior que o daquela época."
Em janeiro de 99, o Brasil adotou a banda cambial. Foi criada uma faixa na qual o dólar poderia flutuar. O compromisso do BC era não deixar o dólar ficar acima do teto cambial (R$ 1,32) nem abaixo do piso (R$ 1,20). Sempre que o valor do dólar ameaçava romper o teto, o BC vendia dólares. O sistema fracassou: o BC torrou US$ 2,8 bilhões em dois dias e decidiu, desde então, deixar o câmbio flutuar livremente.
(FABRICIO VIEIRA e JOSÉ ALAN DIAS)


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