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Para economistas, controle é retrocesso
DA REPORTAGEM LOCAL
E DO PAINEL S.A.
O eventual controle cambial é
considerado um retrocesso na
política econômica do governo.
Economistas ouvidos pela Folha
rechaçaram a adoção da medida.
Para Raul Velloso, especialista
em contas públicas, recorrer a alguma medida de controle cambial seria a ""negação de toda a
postura que o governo manteve
nos últimos anos". "É impensável. Significa o rompimento do esforço de integração com o resto
do mundo."
O especialista afirma que, antes
de adotar medidas ""extremas", a
equipe econômica teria alternativas, como desaquecer mais ainda
a economia ou buscar apoio internacional -leia-se pedir novo
empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Neste mês,
o Fundo ratificou um novo empréstimo para o Brasil, no valor de
US$ 15,6 bilhões -a primeira
parcela, de US$ 4,6 bilhões, já está
disponível para reforçar as reservas cambiais.
Em julho, o Banco Central havia
anunciado que usaria US$ 6 bilhões até dezembro, em intervenções lineares. Com essas intervenções, em uma média de US$ 50
milhões por dia, esperava conter a
escalada do dólar. O próprio BC
tratou de descumprir a regra desde o dia 11 passado, data dos atentados terroristas aos EUA. Naquele dia foram vendidos US$ 150 milhões em papel-moeda. No seguinte, mais US$ 120 milhões.
Mas o dólar não pára de subir.
Na última semana, a cotação da
moeda bateu quatro recordes seguidos: US$ 1 passou a valer R$
2,835. E a valorização no ano saltou para 45,3%.
""Qualquer controle cambial seria contrário ao modelo que o governo tem defendido. Não é um
problema de saída de dólares do
Brasil. É de ingresso", diz Carlos
Kawall, economista-chefe do Citibank. ""Com o controle, pode
ocorrer estabilização [da cotação"
a curto prazo, mas a médio e longo prazos o país seria punido pela
mudança nas regras do jogo."
A possibilidade de o governo
acabar com a política de câmbio
flutuante é descartada pelo economista-chefe do ABN-Amro Asset Management, Hugo Penteado.
"O câmbio fixo ou a volta de um
sistema de bandas, como em janeiro de 99, não duraria uma semana. Hoje o cenário externo está
pior que o daquela época."
Em janeiro de 99, o Brasil adotou a banda cambial. Foi criada
uma faixa na qual o dólar poderia
flutuar. O compromisso do BC
era não deixar o dólar ficar acima
do teto cambial (R$ 1,32) nem
abaixo do piso (R$ 1,20). Sempre
que o valor do dólar ameaçava
romper o teto, o BC vendia dólares. O sistema fracassou: o BC torrou US$ 2,8 bilhões em dois dias e
decidiu, desde então, deixar o
câmbio flutuar livremente.
(FABRICIO VIEIRA e JOSÉ ALAN DIAS)
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