São Paulo, sábado, 25 de julho de 1998

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PARA ONDE VAI O DINHEIRO
Venda visa deter explosão da dívida

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

A equipe econômica venceu as discussões internas do governo federal e conseguiu que o dinheiro a ser obtido com a venda da Telebrás seja integralmente destinado ao abatimento da dívida federal.
Outra ala do governo -antes liderada pelo então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que morreu em abril- defendia que os recursos seriam muito mais úteis no reforço de investimentos públicos do que na redução da dívida do setor público, que hoje soma R$ 328 bilhões e custa mais de R$ 50 bilhões anuais em juros.
Pesou a favor dos economistas oficiais a necessidade de responder à crise da Ásia, que tornou os investidores internacionais mais desconfiados com as economias em desenvolvimento.
Ao demonstrar preocupação em reduzir a dívida pública, ainda que os resultados obtidos até agora não sejam muito expressivos (veja gráfico ao lado), o governo pretende dar uma imagem mais segura do país ao capital externo.
Em outra privatização polêmica do governo Fernando Henrique Cardoso, a da Companhia Vale do Rio Doce, a equipe econômica foi derrotada e só metade do dinheiro foi destinada a abater a dívida (a outra metade foi para investimentos). Já dos R$ 8,2 bilhões arrecadados com a venda das concessões para exploração da banda B da telefonia celular, só R$ 500 milhões foram destinados à educação.

Enxugando gelo
À primeira vista, o argumento dos que defendem o uso do dinheiro da privatização em investimentos faz sentido: consumir a verba no pagamento de alguns meses de juros de uma dívida que vem crescendo sem parar desde 1993 equivale a enxugar gelo.
Supondo que a Telebrás seja vendida à vista pelo preço mínimo de R$ 13,47 bilhões, por exemplo, todo o desgaste político enfrentado para vender a estatal seria compensado por um valor equivalente a seis meses de gastos federais com o pagamento dos juros.
Já nas mãos do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária), o dinheiro seria suficiente para assentar pelo menos 336 mil famílias de sem-terra (mais do que foi feito em todo o governo FHC).
O ministro José Serra (Saúde) poderia adiar por dois anos sua preocupação em prorrogar a cobrança da CPMF, a principal fonte de recursos de sua pasta. Paulo Paiva (Planejamento) poderia quase triplicar os investimentos previstos no Orçamento da União.

Bola de neve
Mas a equipe econômica pode se valer de outra metáfora glacial para defender seu ponto de vista: utilizando o dinheiro da privatização para abater a dívida pública, o governo federal tenta conter o crescimento de uma bola de neve.
Sobre os títulos da dívida pública federal incide uma taxa de juros média de 25% ao ano, segundo os dados do Banco Central.
A essa taxa, títulos no valor de R$ 13,47 bilhões hoje, se não resgatados com o dinheiro da venda da Telebrás, equivaleriam a uma dívida de R$ 36,77 bilhões -quase o triplo do valor inicial- no final do próximo governo.
Em outras palavras, o uso do dinheiro obtido com a venda da Telebrás no abatimento da dívida significaria, para o próximo presidente, uma economia de R$ 23,3 bilhões. O suficiente para assentar, no mínimo, 582 mil famílias.



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