São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Segurança supera a tecnologia

DA REPORTAGEM LOCAL

A EXCELÊNCIA de um hospital depende mais da segurança dos processos dentro da instituição do que dos recursos tecnológicos. É a avaliação de entidades certificadoras nacionais e internacionais que atuam em mais de 200 hospitais do país. Estima-se que 5 milhões de pessoas morram por ano, no mundo, vítimas de erros de medi-cação e de outras intercorrências no hospital. No Brasil, não há dados sobre isso. Na última década, as instituições brasileiras, seguindo tendência mundial, têm procurado essas empresas para a avaliação de rotinas hospitalares e de indicadores de qualidade e de desempenho.
No geral, a acreditação é uma comparação detalhada dos serviços e métodos de uma instituição com um conjunto de padrões preestabelecidos e aprovados por organismos nacionais e internacionais.
Há ao menos três tipos de acreditação no Brasil: as nacionais ONA (Organização Nacional de Acreditação) e CQH (Compromisso com a Qualidade Hospitalar), a norte-americana JCI (Joint Commission International) e a canadense CCHSA (conselho de acreditação de serviços de saúde).
A diferença entre elas vai do preço cobrado - de R$ 5.000 a R$ 300 mil, dependendo da empresa, do tamanho do hospital e da sua complexidade - às exigências de mudanças impostas para a certificação.
A ONA, por exemplo, prioriza o gerenciamento de risco e da rotina e os indicadores de qualidade e de desempenho. As acreditadoras americana e canadense focam o trabalho na segurança da assistência ao paciente. A diferença é que a JCI exige que os hospitais brasileiros sigam os padrões dos americanos, e a canadense adaptou seus padrões ao Brasil.
"A qualidade da assistência não é exclusiva do ato médico, passa por todos os profissionais", diz Rubens José Corvelo, superintendente do IQG (Instituto Qualisa de Gestão), que representa a CCHSA. Para ele, mais importante do que fazer um ranking das melhores instituições é definir quais são as mais seguras.
Segundo Maria Manuela dos Santos, superintendente do CBA (Consórcio Brasileiro de Acreditação), que representa a JCI, a realidade de falhas de processos num hospital só muda quando se cria uma cultura de avaliação permanente nos serviços, situação ainda restrita a poucas instituições.
"Às vezes, um hospital pequeno possui uma qualidade assistencial tão boa quanto outro que tem toda a tecnologia avançada disponível. O impacto da tecnologia na segurança e na qualidade assistencial é muito pequeno", diz Fábio Leite Gastal, que dirige a ONA.
Na sua opinião, a avaliação do médico sobre a qualidade de um hospital é muito subjetiva e normalmente focada na experiência pessoal de cada um. "Os médicos escolhem um hospital pensando para onde iriam se ficassem doentes. Eles fazem uma opção de classe", diz.
Para uma avaliação mais isenta das instituições, dizem os especialistas, seria necessário existir parâmetros técnicos, como a taxa de infecção hospitalar, que pudessem ser comparados entre eles. No Brasil, não há uma padronização oficial de indicadores de performance de hospitais nem no sistema público, nem no privado.

Contestações
O médico Haino Burmester, coordenador do núcleo técnico do CQH, questiona as certificações pagas. "Elas preparam a organização para a certificação da qualidade e elas próprias certificam. Guardadas as proporções, é como "pôr a raposa para cuidar do galinheiro"."
O CQH é um programa de qualidade hospitalar gratuito, mantido há 15 anos pela APM (Associação Paulista de Medicina) e pelo Cremesp (conselho de medicina paulista).
A médica Manuela dos Santos contesta: "Se pago para ter acreditação, quero ter boa qualidade. Se deixo a cargo do Estado, sempre vai ter político pressionando." (CLÁUDIA COLLUCCI)


Texto Anterior: Datafolha entrevistou mil médicos de várias áreas de especialização
Próximo Texto: Procura leva Einstein a dobrar de tamanho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.