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Segurança supera a tecnologia
DA REPORTAGEM LOCAL
A EXCELÊNCIA de um hospital depende mais
da segurança dos processos dentro da instituição do que dos recursos tecnológicos.
É a avaliação de entidades certificadoras
nacionais e internacionais que atuam em mais de 200
hospitais do país. Estima-se que 5 milhões de pessoas
morram por ano, no mundo, vítimas de erros de medi-cação e de outras intercorrências no hospital. No
Brasil, não há dados sobre
isso. Na última década, as
instituições brasileiras,
seguindo tendência mundial, têm procurado essas
empresas para a avaliação
de rotinas hospitalares e
de indicadores de qualidade e de desempenho.
No geral, a acreditação é uma
comparação detalhada dos serviços e métodos de uma instituição com um conjunto de padrões preestabelecidos e aprovados por organismos nacionais e internacionais.
Há ao menos três tipos de
acreditação no Brasil: as nacionais ONA (Organização Nacional de Acreditação) e CQH
(Compromisso com a Qualidade Hospitalar), a norte-americana JCI (Joint Commission
International) e a canadense
CCHSA (conselho de acreditação de serviços de saúde).
A diferença entre elas vai do
preço cobrado - de R$ 5.000 a
R$ 300 mil, dependendo da
empresa, do tamanho do hospital e da sua complexidade - às
exigências de mudanças impostas para a certificação.
A ONA, por exemplo, prioriza o gerenciamento de risco e
da rotina e os indicadores de
qualidade e de desempenho. As
acreditadoras americana e canadense focam o trabalho na
segurança da assistência ao paciente. A diferença é que a JCI
exige que os hospitais brasileiros sigam os padrões dos americanos, e a canadense adaptou
seus padrões ao Brasil.
"A qualidade da assistência
não é exclusiva do ato médico,
passa por todos os profissionais", diz Rubens José Corvelo,
superintendente do IQG (Instituto Qualisa de Gestão), que representa a CCHSA. Para ele,
mais importante do que fazer
um ranking das melhores instituições é definir quais são as
mais seguras.
Segundo Maria Manuela dos
Santos, superintendente do
CBA (Consórcio Brasileiro de
Acreditação), que representa a
JCI, a realidade de falhas de
processos num hospital só muda quando se cria uma cultura
de avaliação permanente nos
serviços, situação ainda restrita
a poucas instituições.
"Às vezes, um hospital pequeno possui uma qualidade
assistencial tão boa quanto outro que tem toda a tecnologia
avançada disponível. O impacto da tecnologia na segurança e
na qualidade assistencial é
muito pequeno", diz Fábio Leite Gastal, que dirige a ONA.
Na sua opinião, a avaliação
do médico sobre a qualidade de
um hospital é muito subjetiva e
normalmente focada na experiência pessoal de cada um. "Os
médicos escolhem um hospital
pensando para onde iriam se ficassem doentes. Eles fazem
uma opção de classe", diz.
Para uma avaliação mais
isenta das instituições, dizem
os especialistas, seria necessário existir parâmetros técnicos,
como a taxa de infecção hospitalar, que pudessem ser comparados entre eles. No Brasil, não
há uma padronização oficial de
indicadores de performance de
hospitais nem no sistema público, nem no privado.
Contestações
O médico Haino Burmester,
coordenador do núcleo técnico
do CQH, questiona as certificações pagas. "Elas preparam a
organização para a certificação
da qualidade e elas próprias
certificam. Guardadas as proporções, é como "pôr a raposa
para cuidar do galinheiro"."
O CQH é um programa de
qualidade hospitalar gratuito,
mantido há 15 anos pela APM
(Associação Paulista de Medicina) e pelo Cremesp (conselho
de medicina paulista).
A médica Manuela dos Santos contesta: "Se pago para ter
acreditação, quero ter boa qualidade. Se deixo a cargo do Estado, sempre vai ter político pressionando."
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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