São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Einstein inclui pais no tratamento 24h por dia

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

NA ÉPOCA em que o médico Sulim Abramovici, 54, formou-se, há 30 anos, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, as crianças internadas tinham de se contentar com duas visitas dos pais por semana. Hoje, Sulim, coordenador do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein, lidera um complexo de atendimento às crianças (do nascimento até os 18 anos), em que mães e pais participam nas 24 horas do dia, todos os dias, do tratamento de seus filhos.
"O objetivo da presença dos pais é atenuar o trauma da internação e reduzir o estresse e o sofrimento da criança", diz Abramovici.
A ala pediátrica do Albert Einstein foi eleita por 29% dos pediatras ouvidos pelo Datafolha como a melhor de São Paulo. O hospital também ficou em primeiro lugar entre os pediatras quanto à UTI (escolhida por 39%), ao pronto-socorro (preferência de 25%) e ao centro cirúrgico (eleito por 27%).
Uma grande brinquedoteca com cores fortes que parece inspirada nas obras do artista plástico catalão Juan Miró (1893-1983) domina a entrada da ala pediátrica. Encostados em uma parede, dois computadores permitem conexão pela internet. Em outra parede, consoles de videogame. Logo ao lado, crianças estão doentes.
À esquerda de quem sai do elevador, no 12º andar, está a internação. São 20 leitos. À direita, fica a UTI pediátrica -nove leitos. Nem parece.
Em vez de boxes, as crianças na terapia intensiva ficam em quartos, como acontece na internação. Ali, cada família faz sua própria decoração com desenhos, fotos, brinquedos, balões, faixas. Todos os quartos da UTI pediátrica têm acesso a luz natural ("Gera um efeito antidepressivo para pacientes e familiares", diz a pediatra intensivista Marta Pessoa Cardoso). A única diferença em relação aos quartos comuns de internação, além dos aparelhos para monitorização, são as câmeras de vídeo, "big brother" inescapável. As enfermeiras "espiam" o tempo todo.
O Departamento de Pediatria integra a maternidade, o centro obstétrico, a medicina fetal, a UTI neonatal, a internação pediátrica e a UTI pediátrica, a clínica de especialidades pediátricas e a de imunizações.
Segundo Abramovici, a idéia é "acompanhar" a evolução da criança desde antes de seu nascimento, reforçando os vínculos entre hospital e paciente, além de ampliar o conhecimento e a confiança de parte a parte. Vista de outro modo, é uma forma de "fidelizar" o paciente ao hospital.
A morte e a dor, principalmente quando envolvem crianças, são difíceis de engolir. Até bem pouco tempo atrás, a morte em pediatria era tabu, como se os médicos dessa especialidade -pensamento mágico- só cuidassem dos bebês lindos e saudáveis das propagandas de produtos infantis. "O médico não sabia lidar com o outro lado disso", diz Abramovici.
No Einstein, hoje, médicos e toda a família, criança incluída, são preparados para lidar com a morte, quando ela começa a se impor. "É uma experiência difícil, mas muito enriquecedora, acompanhada pelo comitê de bioética do hospital."
Tem alguma parte legal na ala pediátrica? Tem, sim senhor. Todos os dias, antes do almoço e antes do jantar, dois grandes bolos de chocolate são assados. O cheirinho gostoso que toma conta dos corredores do setor serve para abrir o apetite da criançada. O bolo mesmo, no entanto, só vem depois da comida "séria".
Também tem a estratégia dos jogos e das brincadeiras, o que serve para afastar o estresse da internação. A psicóloga Priscila Canazza, por exemplo, todos os dias visita os quartos da pediatria, para distribuir jogos e brinquedos. "Isso ajuda a desligar as crianças da realidade do hospital", diz ela.
Quando os pacientes melhoram um pouquinho mais e conseguem freqüentar o playground do Miró lá na entrada da internação, a brincadeira permite construir laços de solidariedade com outros doentes e seus familiares. "Muitas crianças, depois da alta, fazem questão de vir visitar os amiguinhos que ainda ficaram no hospital", afirma Priscila.


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