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Einstein inclui pais no tratamento 24h por dia
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
NA ÉPOCA em que o médico Sulim Abramovici, 54, formou-se, há 30 anos, na Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, as crianças internadas tinham
de se contentar com duas visitas dos pais por semana.
Hoje, Sulim, coordenador do Departamento
de Pediatria do Hospital
Israelita Albert Einstein,
lidera um complexo de
atendimento às crianças
(do nascimento até os 18
anos), em que mães e pais
participam nas 24 horas
do dia, todos os dias, do
tratamento de seus filhos.
"O objetivo da presença dos
pais é atenuar o trauma da internação e reduzir o estresse e o
sofrimento da criança", diz
Abramovici.
A ala pediátrica do Albert
Einstein foi eleita por 29% dos
pediatras ouvidos pelo Datafolha como a melhor de São Paulo. O hospital também ficou em
primeiro lugar entre os pediatras quanto à UTI (escolhida
por 39%), ao pronto-socorro
(preferência de 25%) e ao centro cirúrgico (eleito por 27%).
Uma grande brinquedoteca
com cores fortes que parece
inspirada nas obras do artista
plástico catalão Juan Miró
(1893-1983) domina a entrada
da ala pediátrica. Encostados
em uma parede, dois computadores permitem conexão pela
internet. Em outra parede,
consoles de videogame. Logo
ao lado, crianças estão doentes.
À esquerda de quem sai do
elevador, no 12º andar, está a
internação. São 20 leitos. À direita, fica a UTI pediátrica
-nove leitos. Nem parece.
Em vez de boxes, as crianças
na terapia intensiva ficam em
quartos, como acontece na internação. Ali, cada família faz
sua própria decoração com desenhos, fotos, brinquedos, balões, faixas. Todos os quartos da
UTI pediátrica têm acesso a luz
natural ("Gera um efeito antidepressivo para pacientes e familiares", diz a pediatra intensivista Marta Pessoa Cardoso).
A única diferença em relação
aos quartos comuns de internação, além dos aparelhos para
monitorização, são as câmeras
de vídeo, "big brother" inescapável. As enfermeiras "espiam"
o tempo todo.
O Departamento de Pediatria integra a maternidade, o
centro obstétrico, a medicina
fetal, a UTI neonatal, a internação pediátrica e a UTI pediátrica, a clínica de especialidades
pediátricas e a de imunizações.
Segundo Abramovici, a idéia
é "acompanhar" a evolução da
criança desde antes de seu nascimento, reforçando os vínculos entre hospital e paciente,
além de ampliar o conhecimento e a confiança de parte a parte. Vista de outro modo, é uma
forma de "fidelizar" o paciente
ao hospital.
A morte e a dor, principalmente quando envolvem crianças, são difíceis de engolir. Até
bem pouco tempo atrás, a morte em pediatria era tabu, como
se os médicos dessa especialidade -pensamento mágico-
só cuidassem dos bebês lindos e
saudáveis das propagandas de
produtos infantis. "O médico
não sabia lidar com o outro lado
disso", diz Abramovici.
No Einstein, hoje, médicos e
toda a família, criança incluída,
são preparados para lidar com a
morte, quando ela começa a se
impor. "É uma experiência difícil, mas muito enriquecedora,
acompanhada pelo comitê de
bioética do hospital."
Tem alguma parte legal na
ala pediátrica? Tem, sim senhor. Todos os dias, antes do almoço e antes do jantar, dois
grandes bolos de chocolate são
assados. O cheirinho gostoso
que toma conta dos corredores
do setor serve para abrir o apetite da criançada. O bolo mesmo, no entanto, só vem depois
da comida "séria".
Também tem a estratégia dos
jogos e das brincadeiras, o que
serve para afastar o estresse da
internação. A psicóloga Priscila
Canazza, por exemplo, todos os
dias visita os quartos da pediatria, para distribuir jogos e
brinquedos. "Isso ajuda a desligar as crianças da realidade do
hospital", diz ela.
Quando os pacientes melhoram um pouquinho mais e conseguem freqüentar o playground do Miró lá na entrada
da internação, a brincadeira
permite construir laços de solidariedade com outros doentes
e seus familiares. "Muitas
crianças, depois da alta, fazem
questão de vir visitar os amiguinhos que ainda ficaram no hospital", afirma Priscila.
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