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ENSINO
Setor privado ganha alunos no
nível superior e perde no médio
DA SUCURSAL DO RIO
O setor privado ampliou seu espaço na educação brasileira de
2001 para 2004. As escolas e universidades particulares atendiam
em 2001 9,1 milhões de alunos.
Quatro anos depois, passaram a
atender 10,3 milhões. Com isso,
sua participação no total de estudantes passou de 17,9% para
19,4% do total.
Essa variação, no entanto, foi
bastante diferente entre os níveis
de ensino. No superior, as particulares cresceram 36,4% em número de alunos, passando a absorver 948 mil estudantes a mais.
Já no ensino médio, o efeito foi
justamente o contrário, e o setor
privado diminuiu 24,9%, perdendo 477 mil alunos. Com isso, as
escolas privadas de ensino médio,
que antes atendiam 21,4% do total
de estudantes, perderam espaço
para as públicas e representavam,
no ano passado, apenas 15,1% do
total de alunos.
Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da
Fundação Getulio Vargas, o que
explica que o setor privado tenha
crescido no superior ao mesmo
tempo em que diminuiu no ensino médio foi a dinâmica da expansão da educação pública.
"No ensino médio, pode estar
havendo alguma migração das escolas particulares para as públicas, já que nesse nível de ensino se
percebe uma expansão do setor
público capaz de atender parte da
demanda que antes era da rede
privada. O mesmo não acontece
no ensino superior, no qual o
crescimento do setor público é
muito pequeno e incapaz de atender a demanda", diz Quadros, que
coordenou um estudo encomendado pela Federação Nacional das
Escolas Particulares sobre o setor
privado no país.
A Pnad 2004 mostra também
que o ritmo de redução na taxa de
analfabetismo adulto continua
lento, longe da meta do governo
Lula de erradicar o analfabetismo
até o final de seu mandato.
O número de analfabetos com
mais de 15 anos de idade, que era
de 14,788 milhões em 2002, caiu
para 14,654 milhões em 2004,
uma redução de 134 mil analfabetos. Com isso, a taxa foi diminuída de 11,8% em 2002 para 11,2%
no ano passado.
"A redução do analfabetismo
parece ocorrer muito mais por
um movimento inercial, em razão
da morte das gerações mais velhas, do que pelo efeito de eventuais políticas para a área, que são
inconsistentes e intermitentes",
avalia José Marcelino Pinto, professor da USP de Ribeirão Preto e
ex-diretor do Inep (instituto de
estatística e avaliação do MEC).
Reynaldo Fernandes, atual presidente do Inep, reconhece que a
meta de erradicação do analfabetismo até 2006 é muito difícil de
ser cumprida: "As pessoas mais
velhas dificilmente voltam à escola. Programas de alfabetização são
muito importantes, mas o mais
importante é educar as novas gerações. A meta é realmente muito
difícil de ser cumprida, mas vale a
pena buscá-la".
Todos os dados de alfabetização
e escolarização na pesquisa demonstraram avanços quando
comparados com os da década
passada. Na comparação de 2003
para 2004, no entanto, a única faixa etária do ensino básico onde
foi verificado avanço foi na de 5 e
6 anos, onde a porcentagem de
crianças fora da escola caiu de
21,3% para 18,2%.
Na faixa de 7 a 14 anos, não houve variação de 2003 para 2004 nesse percentual, que ficou em 2,8%.
De 15 a 17, também houve tendência de estabilidade, mas com ligeiro aumento de 17,6% para 17,8%.
Para Reynaldo Fernandes, presidente do Inep, a expansão da escolarização na faixa etária de 7 a
14 anos chegou ao limite porque
já está num patamar muito baixo:
"Há crianças que ficam doentes,
mudam de cidade, perdem a escola. Em algumas regiões, esse
percentual ainda pode cair um
pouco mais, mas dificilmente
chegaremos a ter 0% de crianças
fora da escola. Nenhum país do
mundo tem isso".
Fernandes diz, no entanto, que
ainda é preciso avançar mais na
escolarização das crianças e adolescentes com menos de sete anos
e entre 15 e 17. "Sabemos que ainda existe uma evasão forte da escola da quinta à oitava série. É nisso que precisamos melhorar."
José Marcelino Pinto, no entanto, vê com preocupação a estabilidade na taxa de escolarização de 7
a 14 anos.
"O aumento de 9.400 no número de crianças fora da escola de
2003 para 2004 de 7 a 14 não é nada positivo, já que o ensino nesta
faixa é obrigatório desde 1971. O
que é positivo é a melhora da média de anos de estudo, fato que
provavelmente está ligado aos
programas de correção de fluxo
escolar", diz o ex-diretor do Inep.
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