São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O `PAI' DA VALE
Supernavios baratearam custo do transporte
Eliezer moldou empresa ao mundo

e da Sucursal do Rio

Nenhuma outra empresa estatal brasileira tem sua história tão ligada a um homem só quanto a Companhia Vale do Rio Doce a Eliezer Batista da Silva, 73.
``A Vale não seria o que é hoje sem o Eliezer'', diz o ex-ministro Delfim Netto. Engenheiro, matemático, membro da Academia de Ciências da Rússia, ele idealizou a estratégia de desenvolvimento da CVRD.
Presidente da Vale duas vezes (61 a 64 e 79 a 86), ministro das Minas e Energia de João Goulart, secretário de Assuntos Estratégicos de Collor, presidente da Rio Doce Internacional, ele transformou uma modesta mineradora em empresa globalizada antes de isso virar moda.
A chave da transformação foi o conceito de sócios-consumidores: os compradores fechavam contratos de longo prazo (15 anos) e ainda investiam na Vale.
Isso permitiu não só o ingresso de dinheiro barato que alavancou o crescimento da estatal, como propiciou a transferência de tecnologia para o país.
Foi graças à parceria com os japoneses que a Vale conseguiu fazer o que era considerado impossível na ocasião (anos 50/60): transportar o bem mais pesado e barato -o minério de ferro- pela rota mais longa do mundo a preços competitivos.
A exportação de minério de ferro do Brasil para o Japão só foi possível graças à construção de navios de 100 mil toneladas -inexistentes à época- e de portos capazes de abastecê-los.
``Ele é um sonhador com currículo, concretizou seus planos'', define Paulo Yokota, consultor e economista. ``É a personalidade empresarial brasileira mais conhecida e respeitada no Japão.''
Segundo Yokota, a parceria com os japoneses deve-se à amizade entre Batista e Koichi Inada, um matemático da Universidade de Tókio que morava no Brasil e tinha participado do grupo que planejou a recuperação econômica japonesa.
Eles aplicaram seus conhecimentos de lógica matemática e logística para juntar a vontade de crescer da Vale com a necessidade de recursos naturais para a economia japonesa. Até hoje o Japão é o maior cliente da Vale.
A história de Batista está ligada à Vale há muito tempo. Ele nasceu em Nova Era, no coração do quadrilátero ferrífero de Minas.
Talvez por isso, Batista seja reticente em relação à privatização da estatal. Ele não quis falar à reportagem antes do leilão.
Mas a Folha apurou que Batista preferia a venda ``aos pedaços'' da CVRD. Se é para vender, que seja pela fórmula mais lucrativa -dizem amigos seus.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO e CHICO SANTOS)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã