São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

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Quanto vale
Governo definiu preço mínimo em R$ 10,36 bi e foi contestado

da Reportagem Local

O preço total da Companhia Vale do Rio Doce varia de R$ 10,17 bilhões a R$ 13,4 bilhões, dependendo do autor da avaliação.
Para o governo, ela vale, no mínimo, R$ 10,36 bilhões. Esse número é resultado da multiplicação dos R$ 26,67 fixados como preço mínimo de cada ação que vai a leilão pelo total de ações da empresa.
O valor mínimo foi obtido pela média dos preços das ações da empresa nos 90 pregões das Bolsas de Valores anteriores à data da definição do preço (5 de março de 1997).
Na sexta-feira, a ação ordinária da Vale estava em R$ 28,90, cerca de 10% a mais que o valor fixado.
Os R$ 10,17 bilhões foram o maior valor proposto pelo consórcio consultor, responsável pela modelagem de venda da empresa.
O valor de R$ 13,4 bilhões é a conversão para real dos US$ 12,66 bilhões encontrados, em avaliação paralela, pelo banco norte-americano Salomon Brothers.
Consórcios
O BNDES contratou dois consórcios de empresas para tentar chegar ao valor final da Vale.
O primeiro, Associação Vale Brasil, propôs R$ 11,3 bilhões. O Salomon Brothers, que integrou esse grupo, fez ainda uma avaliação individual, de R$ 13,4 bilhões.
O outro consórcio, do qual faziam parte a Merrill Lynch e Projeta, fixou o preço em R$ 10,17 bilhões. O governo preferiu os R$ 10,36 bilhões, com base nas ações. Mas não receberá esse valor, pois detém apenas 51,13% do capital da empresa. O restante já está nas mãos da iniciativa privada.
Se vendesse toda a sua participação no capital da Vale pelo preço mínimo de leilão, o governo faturaria R$ 5,3 bilhões.
Como há um desconto nas ações oferecidas aos empregados da empresa, esse valor se reduziria, no mínimo, em R$ 328,8 milhões, caindo para R$ 4,97 bilhões.
Suspeita
Na opinião do GAT (Grupo de Assessoramento Técnico) da Comissão Especial da Câmara dos Deputados que acompanha a privatização da Vale, o preço definido pelo governo está subavaliado em, pelo menos, R$ 2 bilhões.
O GAT chegou a esse valor com base nas diferenças de quantidades das reservas minerais da Vale anteriores e posteriores a uma auditagem feita em 1996.
O GAT sustenta ainda que a Merrill Lynch não poderia ter atuado na avaliação da Vale porque é dona da corretora sul-africana Smith Borkum Hare, que presta serviços para a Anglo American, uma das empresas interessadas no leilão.
Por isso, as avaliações feitas pela Merrill Lynch foram colocadas em dúvida por adversários da venda da Vale, entre eles o deputado Miro Teixeira, (PDT-RJ).
O presidente mundial da Merrill Lynch, Winthrop Smith Jr., negou com veemência o fornecimento de qualquer informação, confidencial ou não, pela Smith Borkum Hare à Anglo American.
(CHICO SANTOS e ANTONIO CARLOS SEIDL)

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