São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Futuro
Indústria depende cada vez menos do minério de ferro

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO da
Reportagem Local

A economia mundial depende hoje menos do ferro e do aço do que dependia há 20 anos.
E as pesquisas que buscam descobrir novos substitutos para esses metais devem acentuar essa tendência nos próximos anos.
A abundância de minério de ferro, porém, faz com que seu preço continue imbatível em comparação com o de seus possíveis substitutos, como o plástico, quando existe a necessidade do uso de um material em larga escala.
Esse quadro -de abundância e redução no uso- faz com que cientistas afirmem que já deixou de ter grande importância estratégica possuir reservas minerais.

Importância
``A atual cultura é muito diferente da que predominava nas décadas de 40 a 60. Não faz mais sentido investir pesadamente em reservas minerais. Já existe oferta em abundância dos principais metais e a demanda por eles só tende a diminuir'', diz Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Ele lembra que a maioria dos países já encerrou o ciclo de investimentos em infra-estrutura, que exige muita aplicação de aço e ferro, e que a informatização pode mudar o setor de transportes, com menor demanda de metais.

Preço
Iran Machado, professor do Instituto de Geociências da Unicamp, afirma que os preços dos principais bens minerais e metais caíram, de modo lento e gradual, no decorrer deste século como resultado da maior oferta.
Ele diz, porém, que especular sobre os preços dos minérios nas próximas décadas seria ``um exercício extremamente difícil''.
Machado acrescenta que ``não se deve ignorar que o minério de ferro é importante para a Vale muito mais pelo volume exportado do que pelo preço da tonelada''.
E esse preço é definido em negociações periódicas com as grandes siderúrgicas japonesas e alemãs.
Sérgio Missina, analista de mineração do Banco Fator, diz que a substituição do minério de ferro por outras matérias-primas acontecerá de forma lenta e gradual.
Ele destaca a tendência de uma maior utilização de pelotas, atendendo às exigências de preservação do meio ambiente.
A maioria dos investimentos em minério de ferro estão se concentrando em usinas de pelotização.
``A produção de pelotas no Brasil deve passar de 67 milhões de toneladas em 1995 para 78 milhões no ano 2000. As projeções indicam uma demanda de 80 milhões.''
O analista não acredita em um crescimento relevante da demanda por minério de ferro. A expectativa é de um aumento de apenas 5% de 1995 ao ano 2000.
Vantagem competitiva
Eduardo Damasceno, professor de economia mineral da Escola de Minas e vice-diretor da Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), por sua vez, aposta que vai se manter firme a procura por aço nas próximas décadas.
Os especialistas concordam que o aço e o ferro estão sendo gradualmente substituídos, mas acreditam que a abundância de minério de ferro é tão grande que valerá a pena continuar usando intensamente esses metais, ainda que ``misturados'' com outros.
A quantidade de aço que se usa hoje em vários produtos, a começar pelos automóveis, é bem menor do que era há 10 anos.
A Volkswagen informa, por exemplo, que os 350 mil carros modelo Gol fabricados no ano passado pesavam, cada um, 850 kg, sendo que 14% do peso correspondia a produtos sintéticos (como plástico e borracha).
Além disso, lembra Damasceno, a indústria tem usado cada vez mais ligas de aço com outros materiais, como nióbio e molibdnênio -mas o aço continua a fornecer a base para essas ligas.


Colaborou Antonio Carlos Seidl, da Reportagem Local

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã