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Futuro
Indústria depende
cada vez menos do
minério de ferro
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO da
Reportagem Local
A economia mundial depende hoje
menos do ferro e do aço do que
dependia há 20 anos.
E as pesquisas que buscam descobrir novos substitutos para esses
metais devem acentuar essa tendência nos próximos anos.
A abundância de minério de ferro, porém, faz com que seu preço
continue imbatível em comparação com o de seus possíveis substitutos, como o plástico, quando
existe a necessidade do uso de um
material em larga escala.
Esse quadro -de abundância e
redução no uso- faz com que
cientistas afirmem que já deixou
de ter grande importância estratégica possuir reservas minerais.
Importância
``A atual cultura é muito diferente da que predominava nas décadas de 40 a 60. Não faz mais sentido investir pesadamente em reservas minerais. Já existe oferta em
abundância dos principais metais
e a demanda por eles só tende a diminuir'', diz Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
Ele lembra que a maioria dos
países já encerrou o ciclo de investimentos em infra-estrutura, que
exige muita aplicação de aço e ferro, e que a informatização pode
mudar o setor de transportes, com
menor demanda de metais.
Preço
Iran Machado, professor do Instituto de Geociências da Unicamp,
afirma que os preços dos principais bens minerais e metais caíram, de modo lento e gradual, no
decorrer deste século como resultado da maior oferta.
Ele diz, porém, que especular sobre os preços dos minérios nas
próximas décadas seria ``um exercício extremamente difícil''.
Machado acrescenta que ``não
se deve ignorar que o minério de
ferro é importante para a Vale
muito mais pelo volume exportado do que pelo preço da tonelada''.
E esse preço é definido em negociações periódicas com as grandes
siderúrgicas japonesas e alemãs.
Sérgio Missina, analista de mineração do Banco Fator, diz que a
substituição do minério de ferro
por outras matérias-primas acontecerá de forma lenta e gradual.
Ele destaca a tendência de uma
maior utilização de pelotas, atendendo às exigências de preservação do meio ambiente.
A maioria dos investimentos em
minério de ferro estão se concentrando em usinas de pelotização.
``A produção de pelotas no Brasil deve passar de 67 milhões de toneladas em 1995 para 78 milhões
no ano 2000. As projeções indicam
uma demanda de 80 milhões.''
O analista não acredita em um
crescimento relevante da demanda por minério de ferro. A expectativa é de um aumento de apenas
5% de 1995 ao ano 2000.
Vantagem competitiva
Eduardo Damasceno, professor
de economia mineral da Escola de
Minas e vice-diretor da Politécnica
da USP (Universidade de São Paulo), por sua vez, aposta que vai se
manter firme a procura por aço
nas próximas décadas.
Os especialistas concordam que
o aço e o ferro estão sendo gradualmente substituídos, mas acreditam que a abundância de minério de ferro é tão grande que valerá
a pena continuar usando intensamente esses metais, ainda que
``misturados'' com outros.
A quantidade de aço que se usa
hoje em vários produtos, a começar pelos automóveis, é bem menor do que era há 10 anos.
A Volkswagen informa, por
exemplo, que os 350 mil carros
modelo Gol fabricados no ano
passado pesavam, cada um, 850
kg, sendo que 14% do peso correspondia a produtos sintéticos (como plástico e borracha).
Além disso, lembra Damasceno,
a indústria tem usado cada vez
mais ligas de aço com outros materiais, como nióbio e molibdnênio
-mas o aço continua a fornecer a
base para essas ligas.
Colaborou Antonio Carlos Seidl, da Reportagem Local
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