São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PONTO DE EQUILÍBRIO

Santa Cruz equaciona educação humanista e busca de sucesso

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Santa Cruz é há várias décadas reconhecido por formar algumas gerações da elite intelectual e econômica de São Paulo e do país. No colégio, estudaram o cantor Chico Buarque, o cineasta Fernando Meirelles, o presidente do Itaú, Paulo Setúbal, e o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. É lá que hoje outros filhos da elite desfilam tão confortavelmente em chinelos e bermudas quanto em roupas da moda. Hippies, nerds e camilinhas dividem o mesmo espaço.
"Aqui tem todo tipo de gente. Em geral, a convivência é boa, mas alguns se acham melhores do que os outros porque têm mais grana. Tem muita panelinha", diz Thais Pahl, 17, que não lembra de ter tido um colega negro.
Mais do que outros igualmente renomados, o colégio vive o conflito entre a defesa de uma formação humanista e que estimule o espírito crítico do alunos, por um lado, e as demandas, cada vez mais fortes, por uma educação de perfil pragmático, voltada para o êxito profissional e no vestibular. O equilíbrio entre essas duas vocações faz parte da história do Santa, como a escola é chamada pelos alunos.
"O colégio oferece reflexões sobre a realidade do mundo, sem ter objetivos imediatos, como o vestibular, mas pensando a longo prazo, a fim de dar aos alunos uma educação global com tendência diversa, que é o desenvolvimento de uma visão humanista", diz Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, diretor-geral da escola.
O campus do Santa Cruz lembra o de uma universidade norte-americana: um espaço amplo, cheios de árvores e de estudantes deitados à sombra na hora do recreio. Para entrar, é preciso atravessar uma dura seleção: quem vem de fora (não fez o ensino fundamental lá) passa por um vestibulinho no qual cada vaga é disputada por três concorrentes.
O currículo mescla uma carga grande das disciplinas tradicionais -física, química, literatura- com aulas de cinema, filosofia e ética e cidadania. A escola oferece ainda atividades não-obrigatórias de aprofundamento nas matérias regulares, como preparação para as provas de ingresso na universidade.
A escola não promove simulados e a maioria faz cursinho. Dos aprovados nos cursos mais disputados da USP em 2005, 89% dos alunos do colégio freqüentaram algum pré-vestibular.
O Santa é considerado um colégio liberal em matéria de comportamento. É permitido namorar no intervalo, não há uniforme e, quando toca o sinal do início da aula, cada aluno decide se entra ou não na classe: uma prática chamada pela direção de "autonomia progressiva".
"Vou jogar uma bolinha em detrimento de algum conhecimento de biologia", admite Pedro Betti, 17, ao decidir matar uma aula da disciplina.
"Aqui, tem de saber aproveitar a liberdade que se tem, porque a gente também arca com as conseqüências do que faz. Alguns amigos faltaram demais e repetiram na matéria", conta.
Afinidades pessoais à parte, os alunos do Santa Cruz afirmam que as aulas são interessantes e os professores, muito bons. "Eles envolvem os alunos no assunto, interligando e aprofundando as matérias", diz Thais Pahl.


Texto Anterior: Top pública: Vestibulinho para a Federal seleciona os melhores alunos
Próximo Texto: Novo campus será bilíngüe e período integral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.