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4 - Reduzir a mortalidade infantil
Óbitos de recém-nascidos são raros
em áreas ricas, mas desigualdade regional leva país a não atingir meta
Média nacional esconde grandes disparidades
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Haiti e Noruega têm pouco em
comum. Idiomas diferentes, climas díspares. Os índices de mortalidade na infância reiteram a
dessemelhança. No país europeu,
4 em 1.000 crianças morrem antes
de cinco anos; no americano, 118.
Nem tanto lá, nem tanto cá, o
Brasil aparece no meio-termo entre esses países. Até 2002, a taxa de
mortalidade na infância era de
33,7 por 1.000. Mas a média camufla desigualdades regionais.
Em distritos paulistanos, o índice
não supera 4 por 1.000, como na
Noruega. No distrito sanitário indígena de Alto do Rio Juruá, no
Acre, chega a 115, quase um Haiti.
Essa variação foi apontada pelo
Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância), que traçou o mapa do semi-árido brasileiro. Na
região, 95% das localidades têm
mortalidade superior à nacional.
"O Brasil está na média da América Latina, mas países como Peru e
Colômbia têm taxas menores",
compara Marie-Pierre Poirier, representante do Unicef no Brasil.
Ainda que o estágio atual seja
ruim, o país avançou. Em 1990, a
mortalidade na infância chegava a
53,7 por 1.000 nascidos vivos. A
ONU estipulou 17,9 em 2015.
"É possível atingir a meta", diz o
presidente da SBP (Sociedade
Brasileira de Pediatria), Dioclécio
Campos Jr. "Mas ainda estaremos
distantes de países desenvolvidos,
que têm índice de um dígito."
O Pnud elaborou, sob os cuidados da UFPA (Universidade Federal do Pará), um estudo detalhado sobre o panorama de mortalidade infantil no Brasil. "É muito improvável que o país consiga
reduzir em dois terços o índice de
mortalidade infantil da década de
90", revela o pesquisador-assistente Roberto Schwartz, um dos
responsáveis pelo trabalho. "A
tendência de queda não é suficientemente alta", afirma.
Parcerias
Ponta Grossa, no interior do Paraná, é exemplo de como a saúde
materna influencia nos índices de
mortalidade infantil. Em 2000 foram registradas 22,8 mortes em
1.000 crianças. No mesmo ano, a
Rodonorte, concessionária de rodovias, aliou-se à Pastoral da
Criança e à prefeitura para fazer
com que as grávidas do município completassem seis pré-natais.
A concessionária doou enxovais
e agentes da Pastoral levaram informação. Em 2003, o índice ficou
em 13,04. As consultas passaram
de 20 para 250 ao mês. "O retorno
que temos é a simpatia da comunidade", diz o presidente da Rodonorte, Maurício Vasconcellos.
Outras localidades assistidas
pela Pastoral da Criança têm média de 15 por 1.000. Liderada pela
médica Zilda Arns Neumann, a
entidade atua em 3.800 municípios. A rede tem mais de 242 mil
voluntários e auxilia 1,8 milhão de
crianças de 0 a 6 anos. "Atendemos 20% das pessoas pobres do
país e 83 mil gestantes."
O governo federal contribui
com 60% do orçamento da entidade, de R$ 30 milhões. "Não
diria que a Pastoral substitui o Estado, mas que se complementa
às iniciativas governamentais",
opina o ministro da Saúde, Humberto Costa. Otimista, diz ser possível atingir menos de 10 mortes
por 1.000 até 2015.
Índios
Nas tribos a situação é muito
pior. "A diminuição do espaço limitou a condição de subsistência
dos índios", explica a coordenadora da área de saúde da criança
indígena da SBP, Maria Serafim.
O Brasil tem 215 povos indígenas e uma população nativa estimada em 400 mil. O diretor do departamento de Saúde Indígena da
Funasa (Fundação Nacional de
Saúde), Alexandre Padilha, afirma que o órgão conduz ações para reduzir a mortalidade infantil
desses povos de 47 para 23 crianças por 1.000.
(RB)
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