São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2005

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5 - Melhorar a saúde materna

Taxa de mortalidade materna nacional está em 74,5 para cada 100 mil crianças nascidas vivas; meta, distante, é de 28,5

Recorde de cesáreas é brasileiro há 30 anos

LUANDA NERA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para acompanhar o nascimento de seu primeiro filho, há pouco mais de quatro anos, a arquiteta Analy Uriarte, 39, contratou uma enfermeira obstetrícia. Essa foi a orientação de sua médica para que realizasse o desejo de dar à luz Theodoro em um parto natural.
Não foi o que aconteceu. Analy teve de ser submetida a uma cesárea de emergência e afirma que não recebeu qualquer tipo de apoio nem da equipe do hospital (particular) nem da enfermeira.
Na tentativa de evitar que a experiência frustrante se repetisse, há dois anos ela optou por ter sua filha, Bruna, em casa, com a ajuda de uma parteira e de uma doula (profissional especializada em acompanhar partos).
As experiências opostas vividas pela arquiteta são um reflexo de como o Brasil caminha para o cumprimento do quinto Objetivo do Milênio: reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.
Há pelo menos 30 anos, o país é campeão mundial em cesáreas. A taxa média nacional, de acordo com o Ministério da Saúde, é de 38,6% -bem distante dos 15% recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Para reverter o quadro, o SUS (Sistema Único de Saúde) aumenta mais rapidamente o repasse concedido a partos normais do que a cesáreas. No ano passado, o repasse dos partos cresceu 43%, atingindo R$ 306,73. O das cesáreas subiu 19%, chegando a R$ 435,86 por cirurgia.

Difícil redução
Informações recém-divulgadas pelo Unicef mostram que 1 em cada 140 mulheres grávidas morre no Brasil em decorrência de complicações durante a gravidez, no parto ou no pós-parto. E a taxa média de mortalidade materna nacional está em 74,5 por 100 mil crianças nascidas vivas.
Para que a meta estabelecida pela ONU seja cumprida, esse número precisa chegar a, no mínimo, 28,5. Ainda assim estaríamos longe dos atuais índices dos países desenvolvidos, onde a taxa chega a 13 por 100 mil.
O primeiro passo adotado pelo governo federal brasileiro, em março de 2004, foi lançar o Pacto Nacional de Redução da Mortalidade Materna. "A grande novidade é a integração entre as três esferas do governo em parceria com a sociedade civil. O pacto foi um salto de qualidade na história da saúde materna no Brasil", defende Adson França, coordenador do programa.
"O quinto Objetivo do Milênio direcionou o nosso trabalho. Atualizamos políticas que já existiam e incorporamos outras novas", explica Regina Viola, técnica do Ministério da Saúde.

Empresas e comunidades
O setor produtivo também levanta bandeira em defesa das mães. Na Roche, o programa Família é Tudo, criado em 2002, traz informações sobre a gravidez e o primeiro ano da vida do bebê. Durante 20 semanas, dezenas de gestantes da região do Jaguaré (zona oeste da capital paulista) acompanham palestras antes e depois do parto. "Atuamos na área da saúde, por isso investimos em projetos sociais como esse", argumenta Rosicler Rodriguez, gerente de responsabilidade social da Roche.
Informação é também a base do projeto Passaporte Materno Infantil, desenvolvido pela prefeitura do município de São Bernardo do Campo (SP) com a Basf. Trata-se de uma espécie de "diário da gestante", em que são anotadas todas as informações da gravidez.
A idéia é que qualquer médico seja capaz de compreender o histórico da paciente. Cerca de 12.500 mulheres participam do projeto a cada ano. A empresa financia a confecção dos passaportes e investe no treinamento dos médicos da rede pública de saúde.

Educação no trabalho
Funcionárias e colaboradoras também são alvo de programas de saúde materna. Na Avon, o contingente feminino é de 60% entre os 4.300 funcionários. Parte do programa de qualidade de vida é voltado à educação das gestantes e ao aleitamento materno.
A Natura Cosméticos também investe nessa idéia. Durante a gravidez, as funcionárias recebem orientações da ginecologista contratada pela empresa e, quando necessário, são encaminhadas para outros médicos.
Além disso, a empresa realiza, uma vez por semestre, um curso para gestantes que, em oito aulas, discute as principais questões da maternidade.


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