São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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AVALIAÇÃO
Representantes dos cursos sob risco responsabilizam boicote e desigualdades regionais por mau desempenho
Cursos ameaçados questionam critérios

MARTA AVANCINI
da Reportagem Local

Os maus resultados no Exame Nacional de Cursos e na avaliação de condições de oferta são explicados de duas maneiras pelos representantes das instituições incluídas na lista de 33 cursos que podem ser submetidos à renovação do reconhecimento, caso não melhorem no provão deste ano. São elas: o boicote dos alunos e o estabelecimento de critérios de qualidade unificados, que não respeitam as diferenças regionais.
"O provão em essência não é ruim. O problema é que ele é uma avaliação de massa aplicada a instituições muito diferenciadas", diz Ierecê Barbosa Monteiro, pró-reitora de Ensino de Graduação da Universidade do Amazonas, instituição federal cujo curso de odontologia está na lista dos 33 que podem ser fechados.
Ela conta que, devido às características da região onde a universidade se localiza (no caso, a Amazônia), o curso de odontologia enfatiza, por exemplo, aspectos sociais da profissão, desenvolvendo trabalhos em conjunto com prefeituras para realizar programas de odontologia preventiva. "São especificidades de currículo que têm de ser levadas em conta quando se avalia uma instituição", diz Ierecê.
Essas diferenças acabam criando perfis diferenciados de alunos, o que pode gerar distorções nos resultados de um exame que, como o provão, é igual independentemente de onde ele é aplicado. "O aluno do Nordeste é diferente do que se forma no Sudeste porque vai trabalhar em outro tipo de indústria, de empresa", diz Antônio Helder Parente, chefe do Departamento de Engenharia Química da Universidade Católica do Pernambuco. "A prova é abrangente, mas a realidade do Brasil é muito diferenciada. A prova não dá conta disso."
Para Luiz Roberto Liza Curi, diretor de Políticas do Ensino Superior da Sesu (Secretaria de Ensino Superior), a renovação do reconhecimento está relacionada a padrões de qualidade que devem ser comuns aos cursos. "Todos os cursos que demonstrarem problemas e não conseguirem melhorar vão deixar de funcionar."

Boicote
A falta de motivação do aluno, que resulta em boicote ao exame, é outra explicação para as baixas notas. "Desde que o provão foi criado, existe uma grande resistência ao exame. Ela vem diminuindo, mas ainda ocorre aqui. Por isso, o curso fica com nota ruim, prejudicando a imagem da universidade", diz Paulo Penteado, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal da Bahia. A instituição tem dois cursos sob risco: medicina veterinária e odontologia.
Na tentativa de mudar a atitude dos estudantes, a pró-reitoria vem realizando, em parceria com os coordenadores de curso, um trabalho para melhorar seu desempenho. O mesmo tipo de trabalho está sendo feito em outras instituições. "Estamos orientando os alunos a fazer o provão direito, mas eles alegam que têm outras prioridades, os exames dos cursos e os estágios", diz Parente, da Católica de Pernambuco.
Com base nos resultados do provão e da avaliação das condições de oferta, alguns cursos estão fazendo mudanças estruturais. Muitas estão articuladas com as novas diretrizes curriculares, em discussão na Sesu (leia texto ao lado).
"Reformulamos o quadro docente, contratamos mais professores titulados, mudamos os laboratórios e reavaliamos a distribuição e a carga das disciplinas.
Também estamos tentando conscientizar os alunos. Vamos reverter esse quadro", diz Pedro Ângelo Cintra, diretor da Faculdade de Odontologia da Universidade do Oeste Paulista, em Presidente Prudente (SP).


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