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AVALIAÇÃO
Representantes dos cursos sob risco responsabilizam boicote e desigualdades regionais por mau desempenho
Cursos ameaçados questionam critérios
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
Os maus resultados no Exame
Nacional de Cursos e na avaliação
de condições de oferta são explicados de duas maneiras pelos representantes das instituições incluídas na lista de 33 cursos que podem ser submetidos à renovação
do reconhecimento, caso não melhorem no provão deste ano. São
elas: o boicote dos alunos e o estabelecimento de critérios de qualidade unificados, que não respeitam as diferenças regionais.
"O provão em essência não é
ruim. O problema é que ele é uma
avaliação de massa aplicada a instituições muito diferenciadas", diz
Ierecê Barbosa Monteiro, pró-reitora de Ensino de Graduação da
Universidade do Amazonas, instituição federal cujo curso de odontologia está na lista dos 33 que podem ser fechados.
Ela conta que, devido às características da região onde a universidade se localiza (no caso, a Amazônia), o curso de odontologia enfatiza, por exemplo, aspectos sociais
da profissão, desenvolvendo trabalhos em conjunto com prefeituras para realizar programas de
odontologia preventiva. "São especificidades de currículo que têm
de ser levadas em conta quando se
avalia uma instituição", diz Ierecê.
Essas diferenças acabam criando
perfis diferenciados de alunos, o
que pode gerar distorções nos resultados de um exame que, como o
provão, é igual independentemente de onde ele é aplicado. "O aluno
do Nordeste é diferente do que se
forma no Sudeste porque vai trabalhar em outro tipo de indústria,
de empresa", diz Antônio Helder
Parente, chefe do Departamento
de Engenharia Química da Universidade Católica do Pernambuco.
"A prova é abrangente, mas a realidade do Brasil é muito diferenciada. A prova não dá conta disso."
Para Luiz Roberto Liza Curi, diretor de Políticas do Ensino Superior da Sesu (Secretaria de Ensino
Superior), a renovação do reconhecimento está relacionada a padrões de qualidade que devem ser
comuns aos cursos. "Todos os cursos que demonstrarem problemas
e não conseguirem melhorar vão
deixar de funcionar."
Boicote
A falta de motivação do aluno,
que resulta em boicote ao exame, é
outra explicação para as baixas notas. "Desde que o provão foi criado, existe uma grande resistência
ao exame. Ela vem diminuindo,
mas ainda ocorre aqui. Por isso, o
curso fica com nota ruim, prejudicando a imagem da universidade",
diz Paulo Penteado, pró-reitor de
Graduação da Universidade Federal da Bahia. A instituição tem dois
cursos sob risco: medicina veterinária e odontologia.
Na tentativa de mudar a atitude
dos estudantes, a pró-reitoria vem
realizando, em parceria com os
coordenadores de curso, um trabalho para melhorar seu desempenho. O mesmo tipo de trabalho está sendo feito em outras instituições. "Estamos orientando os alunos a fazer o provão direito, mas
eles alegam que têm outras prioridades, os exames dos cursos e os
estágios", diz Parente, da Católica
de Pernambuco.
Com base nos resultados do provão e da avaliação das condições
de oferta, alguns cursos estão fazendo mudanças estruturais. Muitas estão articuladas com as novas
diretrizes curriculares, em discussão na Sesu (leia texto ao lado).
"Reformulamos o quadro docente, contratamos mais professores titulados, mudamos os laboratórios e reavaliamos a distribuição
e a carga das disciplinas.
Também estamos tentando
conscientizar os alunos. Vamos reverter esse quadro", diz Pedro Ângelo Cintra, diretor da Faculdade
de Odontologia da Universidade
do Oeste Paulista, em Presidente
Prudente (SP).
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