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Xico Sá

Só o humor salva

Não precisa ser sociólogo para entender que a falta de humor é a principal causa da carnificina

Amigo torcedor, amigo secador, a solução para a guerra de galeras é mais simples do que podemos imaginar. Não passa, como se tenta iludir as massas, pela força policial nem tampouco pela fúria legisferante. Agora todo brasileiro é uma mistura de Augusto Comte e Rolando Lero a sugerir ordem e progresso.

Essa onda de vigiar e punir é confissão de incompetência, como diz o meu chapa Fucô, o rei dos lupanares da Vila Buarque.

Tudo no Brasil começa a dar errado quando nos imaginamos sérios. Quando até o crime passa a ser organizado e as torcidas idem. É preciso saber que só baderna, no sentido mais anárquico, salva. Em resumo, aqui no mantra de Chico Science: "Eu me desorganizando posso me organizar".

Não se trata do "migué", do "jeitinho", muito menos do mito da cordialidade. O que está em jogo é essa nova crença em um país sério, carrancudo, crente na moral de uma das maiores economias do mundo, como se PIB medisse civilização ou barbárie. O Brasil, SP como maria-fumaça do caretismo, está perdendo a graça. Até o malandro da Lapa hoje conjuga o verbo "prospectar" enquanto mata a bola 8.

Perdemos o humor. E não precisa ser da sociologia da USP para entender que essa é a principal causa da carnificina. O futebol não sobrevive sem duas coisas: gozação e apostas. Os tios da Praça do Ferreira, em Fortaleza, que o digam. Lá se aposta em tudo. Que time vai entrar primeiro em campo, quem vai ser substituído, etc.

Foi nesta praça que os cearenses vaiaram o sol, em 30 de janeiro de 1942, revoltados com a estiagem. Daí você saca o espírito que precisamos nessa hora. Só o humor salva.

No que emendo com a citação de mais um ídolo que se foi: "Todo homem possui o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo". Millôr, que se dizia "Fluminense saudável", falou tudo. A frase vale por mil leis e 200 camburões. A violência começou quando separaram corintianos e palmeirenses na saída do bairro. Precisam chegar na mesma condução ao jogo. Se possível abraçados. Sem beijinhos, faz favor, crianças.

Outro ponto: mais mulheres. Diante delas os marmanjos se envergonham das animalidades.

Não há time no mundo que valha uma vida. Nem o Íbis, nem o Barça. Sim, as tribos guerreiam desde a invenção do fogo, até com a cabeça do inimigo como pelota. Somos essencialmente maus, bodejam os filósofos. Sem humor, estamos perdidos. Mais gozação e menos porrada, seus malucos.

@xicosa

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