São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2002

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ANÁLISE

Otimismo do país é bizarro depois de tanto tropeço

TIM VICKERY
DO "INDEPENDENT"

O Brasil fez mais que qualquer outro na difusão do futebol japonês. Os laços culturais dos dois países são fortes, e o Brasil fez então muito barulho para fazer do Japão sua base na Copa. Deram a Coréia do Sul.
Isso foi interpretado como uma perda da força política brasileira no cenário mundial, uma vez que João Havelange não é mais o presidente da Fifa.
Em compensação, o Brasil foi conduzido para aquele que parece ser o mais confortável dos grupos. Os rivais Turquia, China e Costa Rica somam juntos só duas aparições em Copas.
Esnobes de grande tradição, os brasileiros logo concluíram que já receberam o bilhete de ida à segunda fase -ou mesmo às quartas-de-final, posto que o Grupo H, do qual deve sair seu adversário nas oitavas, não inspira maiores temores.
Atitude bizarra para um time que chegou aos tropeços à Copa do Mundo, o Brasil agora tem que se precaver contra o incontido contentamento.
O fato de que a Turquia só esteve em uma Copa não fará dela uma galinha-morta. A China pode não saber contar seus habitantes, mas seu técnico, Bora Milutinovic, soube bem contar quantos jogadores eram necessários para chegar a sua quinta Copa pelo quinto país. E o Brasil não tem desculpas para não levar a Costa Rica a sério -na Copa América, perdeu para Honduras, seleção mediana da região onde Costa Rica é a líder.
Tirando Turquia, China e Costa Rica, o outro grande adversário do Brasil é sua própria incompetência. Desde o início das eliminatórias, 21 meses e três técnicos atrás, a seleção não esteve nem perto de encontrar um time. Em 18 partidas, usou 62 jogadores. A líder Argentina utilizou 28.
Scolari teima com um esquema de três zagueiros, baseado, ele disse, no fato de que "nossos zagueiros não têm poder de recuperação quando são deixados mano a mano com os atacantes rivais".
O crítico brasileiro mais perceptivo, o grande Tostão de 70, costumava fazer campanha para a adoção do 3-5-2. Ao vê-lo em ação, mudou de idéia. "Já que não sabemos como utilizá-lo, é melhor esquecê-lo", disse.
Mais para a frente, o time tem Rivaldo, um eterno problema. Scolari se descabela para encontrar a posição certa para o jogador do Barcelona, do mesmo modo que o fizeram os seus quatro antecessores. O mais bem-sucedido foi Parreira, que concluiu que Rivaldo era muito individualista e o descartou. Aí ganhou a Copa-94.
Scolari diz que quer que "Rivaldo vire um líder". Se a história se repetir, porém, o mais talentoso camisa 10 brasileiro desaparecerá no momento em que mais precisarem dele.
O futebol brasileiro é cheio de surpresas. Mas, a despeito de seu confortável início no Mundial graças ao sorteio das chaves, seria realmente uma surpresa se o Brasil emergisse das profundezas em que se encontra para obter seu quinto título.



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