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ANÁLISE
Otimismo do país é bizarro depois de tanto tropeço
TIM VICKERY
DO "INDEPENDENT"
O Brasil fez mais que qualquer outro na difusão do futebol japonês. Os laços culturais
dos dois países são fortes, e o
Brasil fez então muito barulho
para fazer do Japão sua base na
Copa. Deram a Coréia do Sul.
Isso foi interpretado como
uma perda da força política
brasileira no cenário mundial,
uma vez que João Havelange
não é mais o presidente da Fifa.
Em compensação, o Brasil foi
conduzido para aquele que parece ser o mais confortável dos
grupos. Os rivais Turquia, China e Costa Rica somam juntos
só duas aparições em Copas.
Esnobes de grande tradição,
os brasileiros logo concluíram
que já receberam o bilhete de
ida à segunda fase -ou mesmo às quartas-de-final, posto
que o Grupo H, do qual deve
sair seu adversário nas oitavas,
não inspira maiores temores.
Atitude bizarra para um time
que chegou aos tropeços à Copa do Mundo, o Brasil agora
tem que se precaver contra o
incontido contentamento.
O fato de que a Turquia só esteve em uma Copa não fará dela uma galinha-morta. A China
pode não saber contar seus habitantes, mas seu técnico, Bora
Milutinovic, soube bem contar
quantos jogadores eram necessários para chegar a sua quinta
Copa pelo quinto país. E o Brasil não tem desculpas para não
levar a Costa Rica a sério -na
Copa América, perdeu para
Honduras, seleção mediana da
região onde Costa Rica é a líder.
Tirando Turquia, China e
Costa Rica, o outro grande adversário do Brasil é sua própria
incompetência. Desde o início
das eliminatórias, 21 meses e
três técnicos atrás, a seleção
não esteve nem perto de encontrar um time. Em 18 partidas, usou 62 jogadores. A líder
Argentina utilizou 28.
Scolari teima com um esquema de três zagueiros, baseado,
ele disse, no fato de que "nossos zagueiros não têm poder de
recuperação quando são deixados mano a mano com os atacantes rivais".
O crítico brasileiro mais perceptivo, o grande Tostão de 70,
costumava fazer campanha para a adoção do 3-5-2. Ao vê-lo
em ação, mudou de idéia. "Já
que não sabemos como utilizá-lo, é melhor esquecê-lo", disse.
Mais para a frente, o time tem
Rivaldo, um eterno problema.
Scolari se descabela para encontrar a posição certa para o
jogador do Barcelona, do mesmo modo que o fizeram os seus
quatro antecessores. O mais
bem-sucedido foi Parreira, que
concluiu que Rivaldo era muito
individualista e o descartou. Aí
ganhou a Copa-94.
Scolari diz que quer que "Rivaldo vire um líder". Se a história se repetir, porém, o mais talentoso camisa 10 brasileiro desaparecerá no momento em
que mais precisarem dele.
O futebol brasileiro é cheio de
surpresas. Mas, a despeito de
seu confortável início no Mundial graças ao sorteio das chaves, seria realmente uma surpresa se o Brasil emergisse das
profundezas em que se encontra para obter seu quinto título.
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