São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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FUTEBOL

Teorias sobre o óbvio

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Carlos Alberto Parreira lançou nesta semana o livro "Evolução Tática e Estratégias de Jogo" , que faz parte do material didático da Escola Brasileira de Futebol, parceria da Confederação Brasileira de Futebol com a Fifa. Pretendo ler o livro do Parreira, na íntegra.
Aproveito a matéria desta Folha, escrita pelo repórter Paulo Cobos, para citar alguns "ensinamentos" do livro: "Os goleiros devem orientar taticamente a equipe, e os zagueiros devem ter uma alta percepção espaço-temporal. Já o centroavante tem como tarefa fazer gols". Outra frase: "Os princípios do ataque são seis: apoio, profundidade, abertura, mobilidade, penetração e criatividade". Há outras desse tipo.
Essas generalidades me lembram as dos livros de auto-ajuda, que têm definições e respostas fáceis e prontas para todos os mistérios e incertezas humanas.
Ou parecem com as análises de um antigo comentarista, que dizia sempre durante as partidas: "O time tem de criar mais espaços, atacar e defender em bloco" ou "A equipe tem de finalizar mais de fora da área e trocar mais passes". E outros lugares-comuns que serviam para todos os jogos.
Reconheço as virtudes do Parreira, um dos principais técnicos do Brasil. Ele tem muito mais méritos do que deficiências. É sensato, equilibrado, conhece bem os esquemas táticos e não complica. Porém os acadêmicos, professores de educação física que falam ou escrevem sobre futebol, às vezes exageram nas teorizações sobre o óbvio.

Teoria e prática
Parreira tem razão quando diz que a seleção brasileira é uma das mais ofensivas do mundo. Nenhum time joga com dois zagueiros, dois laterais que apóiam muito e dois meias bastante ofensivos, além de dois atacantes e dois volantes.
No seu livro, Parreira diz: "O time ideal deveria ter dois meias mais abertos e que saibam defender e atacar".
Mas, na partida contra o Uruguai, Kaká e Ronaldinho Gaúcho não jogaram abertos. Atuaram quase só pelo meio, embolados com Ronaldo e com Ricardo Oliveira, que também não saíam da faixa central.

Bons jogos
No Mineirão, contra o Internacional, a torcida do Cruzeiro quer ver um time mais ousado, sem tantos volantes-zagueiros, como aconteceu contra o Flamengo.
A partida entre Inter e Botafogo na primeira rodada foi uma repetição da vitória dias antes do time gaúcho sobre o Paulista de Jundiaí por 1 a 0, pela Copa do Brasil. Nos dois jogos, o Inter pressionou, mas foram o Botafogo e o Paulista que criaram as melhores chances de gols. A diferença foram os gols perdidos pelo Paulista.
Nas duas partidas, o Inter mostrou pouca qualidade. Além do Fernandão, só o Jorge Wagner teve razoável atuação, de ala, na posição em que pode fazer as únicas coisas que sabe bem: cruzar e finalizar de fora da área.
Para os times que jogam com três zagueiros e no ataque, como faz o Inter, em casa, é melhor colocar de alas meias ofensivos como Jorge Wagner, do que laterais sem habilidade. Hoje, o Inter deve jogar mais recuado.
Mesmo atuando no Rio, penso que o Botafogo terá mais chances de vencer o Corinthians se mantiver a postura cautelosa e de contra-ataque do jogo contra o Inter, já que o time paulista tem também mais qualidade técnica do que o carioca.
Fora de casa, o Corinthians vai continuar no ataque, marcando por pressão, com apenas um volante, ou terá mais cuidados defensivos? No empate contra o Juventude, Gustavo Nery e Roger fizeram muita falta. Seria como se o Santos jogasse sem Robinho e Léo ou o São Paulo sem Cicinho e Grafite.
Passarella tem razão em trocar a contratação do Mascherano por um excelente atacante e outros reforços. Enquanto isso, é melhor improvisar o Gil ao lado do Tevez do que escalar o Bobô ou o Jô.

Passado e presente
Bonamigo disse ao Juca Kfouri, no programa "Cartão Verde", da TV Cultura, que a parte tática e o treinador são muito importantes no futebol. Concordo.
Ele afirmou também que na época do Pelé, na Copa de 70, a tática não tinha importância e era substituída pela qualidade dos jogadores. Não é bem assim. Além de grandes jogadores, a seleção de 70, dirigida pelo Zagallo, treinava bastante a parte tática e era disciplinada em campo.
Quem não conhece o passado não entende bem o presente.


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