|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Teorias sobre o óbvio
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Carlos Alberto Parreira lançou nesta semana o livro
"Evolução Tática e Estratégias de
Jogo" , que faz parte do material
didático da Escola Brasileira de
Futebol, parceria da Confederação Brasileira de Futebol com a
Fifa. Pretendo ler o livro do Parreira, na íntegra.
Aproveito a matéria desta Folha, escrita pelo repórter Paulo
Cobos, para citar alguns "ensinamentos" do livro: "Os goleiros devem orientar taticamente a equipe, e os zagueiros devem ter uma
alta percepção espaço-temporal.
Já o centroavante tem como tarefa fazer gols". Outra frase: "Os
princípios do ataque são seis:
apoio, profundidade, abertura,
mobilidade, penetração e criatividade". Há outras desse tipo.
Essas generalidades me lembram as dos livros de auto-ajuda,
que têm definições e respostas fáceis e prontas para todos os mistérios e incertezas humanas.
Ou parecem com as análises de
um antigo comentarista, que dizia sempre durante as partidas:
"O time tem de criar mais espaços,
atacar e defender em bloco" ou "A
equipe tem de finalizar mais de
fora da área e trocar mais passes".
E outros lugares-comuns que serviam para todos os jogos.
Reconheço as virtudes do Parreira, um dos principais técnicos
do Brasil. Ele tem muito mais méritos do que deficiências. É sensato, equilibrado, conhece bem os
esquemas táticos e não complica.
Porém os acadêmicos, professores
de educação física que falam ou
escrevem sobre futebol, às vezes
exageram nas teorizações sobre o
óbvio.
Teoria e prática
Parreira tem razão quando diz
que a seleção brasileira é uma das
mais ofensivas do mundo. Nenhum time joga com dois zagueiros, dois laterais que apóiam
muito e dois meias bastante ofensivos, além de dois atacantes e
dois volantes.
No seu livro, Parreira diz: "O time ideal deveria ter dois meias
mais abertos e que saibam defender e atacar".
Mas, na partida contra o Uruguai, Kaká e Ronaldinho Gaúcho
não jogaram abertos. Atuaram
quase só pelo meio, embolados
com Ronaldo e com Ricardo Oliveira, que também não saíam da
faixa central.
Bons jogos
No Mineirão, contra o Internacional, a torcida do Cruzeiro quer
ver um time mais ousado, sem
tantos volantes-zagueiros, como
aconteceu contra o Flamengo.
A partida entre Inter e Botafogo
na primeira rodada foi uma repetição da vitória dias antes do time
gaúcho sobre o Paulista de Jundiaí por 1 a 0, pela Copa do Brasil.
Nos dois jogos, o Inter pressionou,
mas foram o Botafogo e o Paulista que criaram as melhores chances de gols. A diferença foram os
gols perdidos pelo Paulista.
Nas duas partidas, o Inter mostrou pouca qualidade. Além do
Fernandão, só o Jorge Wagner teve razoável atuação, de ala, na
posição em que pode fazer as únicas coisas que sabe bem: cruzar e
finalizar de fora da área.
Para os times que jogam com
três zagueiros e no ataque, como
faz o Inter, em casa, é melhor colocar de alas meias ofensivos como Jorge Wagner, do que laterais
sem habilidade. Hoje, o Inter deve
jogar mais recuado.
Mesmo atuando no Rio, penso
que o Botafogo terá mais chances
de vencer o Corinthians se mantiver a postura cautelosa e de contra-ataque do jogo contra o Inter,
já que o time paulista tem também mais qualidade técnica do
que o carioca.
Fora de casa, o Corinthians vai
continuar no ataque, marcando
por pressão, com apenas um volante, ou terá mais cuidados defensivos? No empate contra o Juventude, Gustavo Nery e Roger fizeram muita falta. Seria como se
o Santos jogasse sem Robinho e
Léo ou o São Paulo sem Cicinho e
Grafite.
Passarella tem razão em trocar
a contratação do Mascherano por
um excelente atacante e outros
reforços. Enquanto isso, é melhor
improvisar o Gil ao lado do Tevez
do que escalar o Bobô ou o Jô.
Passado e presente
Bonamigo disse ao Juca Kfouri,
no programa "Cartão Verde", da
TV Cultura, que a parte tática e o
treinador são muito importantes
no futebol. Concordo.
Ele afirmou também que na
época do Pelé, na Copa de 70, a
tática não tinha importância e
era substituída pela qualidade
dos jogadores. Não é bem assim.
Além de grandes jogadores, a seleção de 70, dirigida pelo Zagallo,
treinava bastante a parte tática e
era disciplinada em campo.
Quem não conhece o passado
não entende bem o presente.
Texto Anterior: Basquete: Fora do Nacional, Franca obtém 1º patrocínio após criação de liga Próximo Texto: Futebol: Palmeiras vence e troca vaia por aplauso Índice
|