São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002 |
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JOSÉ GERALDO COUTO Nada como uma zebra para animar a Copa
A Copa começou muito bem: uma zebra, um jogo emocionante, um novo astro mundial. A zebra: os campeões do mundo perdem para uma seleção africana estreante em Copas. A emoção: pressão da França, contra-ataques perigosos do Senegal, três bolas na trave. O novo astro: Diouf, atacante senegalês que joga no Lens e que fez oito gols em nove jogos de seu time nas eliminatórias. Ontem Diouf não fez gol, mas, sozinho na frente, infernizou a defesa francesa. É um atacante completo: veloz, habilidoso, inteligente e, sobretudo, ousado. Foi graças a ele -com a ajuda de coadjuvantes talentosos como Fadiga e Bouba Diop, autor do gol- que se fez o inesperado, ontem, em Seul. É muito bom constatar que, no atual futebol globalizado, cada vez mais nivelado e homogêneo, o talento individual continua fazendo a diferença. Não há mais grandes diferenças táticas e estilísticas entre as equipes européias, latino-americanas e africanas. Todas, com maior ou menor grau de sucesso, buscam um futebol pragmático e competitivo. As partidas tendem a ser parecidas, previsíveis e monótonas. Ou melhor: tenderiam, se as táticas, estratégias e esquemas não passassem por indivíduos de carne e osso, cada um com suas habilidades, sua inteligência e seu caráter pessoal e intransferível. No futebol globalizado, em que os craques dos países pobres vão jogar nos times das nações ricas, como atesta a própria seleção do Senegal, formada por jogadores que atuam na França, não há mais partidas vencidas na véspera. A França chegou à Coréia bem preparada, com uma equipe coesa e entrosada, jogadores de boa técnica e grande experiência, acostumados aos títulos. Quando o juiz apitou o início da partida e da Copa, entretanto, os franceses se viram diante de um osso duro de roer. O Senegal, logo se viu, é uma equipe que sabe se fechar na defesa, mas sabe também sair jogando com consciência e objetividade. Tem um punhado de jogadores de primeiro nível: o goleiro Sylva, o lateral Coly, o meia Fadiga e, claro, o craque Diouf. Para furar o bloqueio senegalês e impor sua inegável superioridade, os franceses precisavam de algo além da técnica e da organização. Precisavam de criatividade e ousadia para fazer o inesperado. Precisavam, em uma palavra, de Zidane. Os senegaleses, por sua vez, tinham Diouf. Viva o talento. E-mail: jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: José Roberto Torero: Lelê e a abertura da Copa do Mundo Próximo Texto: Soninha: Paixão clubística versus amor ao futebol Índice |
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