São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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A Noruega será o rival mais dificil da seleção

CARLOS ALBERTO PARREIRA

Hoje vou conversar com o Zagallo sobre o que vi da Noruega, no jogo em que derrotou por 6 a 0 a Arábia -seleção a qual, vocês já sabem, irei comandar no Mundial da França. Se bem que, sobre aquele jogo, eu vou ter muito pouco a falar.
Como o próprio técnico Egil Olsen, da Noruega, disse, o juiz errou muito. Em 20 minutos deu um pênalti, num lance absurdo contra a gente, e expulsou nosso goleiro. Dez minutos depois, expulsou um de nossos zagueiros. Foi um jogo de 11 contra 9.
Não foi um bom teste para a Arábia nem para a Noruega porque o juiz estragou a partida no primeiro tempo. De qualquer forma, creio que a Noruega é o adversário mais difícil do Brasil.
Eles, tome-se como exemplo, não perdem em casa há uns 30 jogos. Têm um meio-de-campo muito forte, com cinco jogadores nesse setor e exploram muito bem as laterais. Em suma, praticam um jogo de muitos cruzamentos para a área, aproveitando-se do fato de disporem de jogadores muito altos, que cabeceiam bem.
Em todo lance de escanteio ou de falta, a bola acaba parando dentro da área. Até mesmo arremessos laterais, eles cobram com força para que alguém tente o cabeceio.
A Noruega também tem uma jogada inteligente. Quando lançam na área e resulta em rebote, aparecem três ou quatro jogadores para tentar o chute.
Sobre a seleção brasileira, posso dizer que estou acompanhando os acontecimentos, mais à distância, por meio da imprensa. É claro que a situação de Romário e Dunga, que nem puderam viajar para Bilbao, é preocupante. Muito mais se os dois ficarem de fora de um jogo da Copa. Mas a seleção é formada por 22 atletas.
Se o Zagallo convocou o Doriva, por exemplo, como possível substituto de Dunga, é porque acredita no desempenho do Doriva.
Em princípio ele teria até outras opções, como o próprio Mauro Silva, que tem mais experiência internacional que o Doriva. Já disputou uma Copa do Mundo, ficou cinco anos na Europa. Outra opção seria o Zé Elias, mas se o Zagallo não chamou nem um nem outro, e chamou Doriva, repito, é porque confia nele.
Particularmente, acho Doriva um bom jogador, que tem bom preparo físico e, principalmente, tem humildade, uma pessoa que pode seguir à risca às orientações do técnico. Zagallo certamente levou isso em consideração no momento de convocá-lo.
Vou aproveitar a conversa de hoje para consultar Zagallo sobre a possibilidade de meus jogadores acompanharem um treino da seleção brasileira em Ozoir-la-Ferrière. Se a programação da seleção permitir, poderíamos até marcar um jogo-treino entre as duas equipes.
No dia seguinte ao jogo com a Noruega, assisti a Dinamarca x Suécia. A seleção dinamarquesa é a primeira adversária da Arábia na Copa. A Suécia, que não está no Mundial, ganhou de 3 a 0, porque jogou com muita vontade. A Dinamarca, como toda equipe às vésperas da Copa do Mundo, teve receio de colocar o pé em divididas. Por isso, também não conseguirei ter muito parâmetro a partir desse jogo.
Estou confiante no papel que a Arábia pode desempenhar no Mundial, apesar de estarmos num grupo muito difícil.
Estou treinando há 40 dias aqui na França e creio que podemos chegar às oitavas-de-final. Sem dúvida, a França, que é uma das candidatas ao título e joga em casa, é o adversário mais difícil.
E não será facil vencer Dinamarca e África do Sul. Mas se eu não confiasse no time, não estaria todo esse tempo treinando na Europa nem aceitaria esse cargo.



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