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Seleção vira refém do Romário de 1994
CLÓVIS ROSSI
A novela
Romário só demonstra
que Zagallo é mais medroso do que supersticioso.
Explico: se se deixasse guiar
apenas pela superstição, o técnico já teria cortado Romário, porque está se repetindo, sem tirar
nem pôr, o que aconteceu na
Copa de 1990, na Itália.
Romário também estava machucado e ficou o corta-não-corta até a véspera da entrega à Fifa da lista definitiva de inscritos
pelo Brasil. A Rede Globo, melosa como agora, chegou até a entregar ao jogador uma imagem
de santa, no intervalo de um dos
treinos na cidadezinha italiana
de Gubbio (primeira concentração do Brasil), para que ela ajudasse na recuperação e, por extensão, na inscrição de Romário.
A santa fez a sua parte: Romário foi, de fato, dado como recuperado e acabou inscrito. O resto
é história conhecida: o rapaz mal
jogou e, quando jogou, foi mal
das pernas, acompanhando, de
resto, o ritmo medíocre de um
time que marcou apenas quatro
gols em igual número de partidos (nenhum deles, aliás, de Romário).
Insistir com Romário, em 1990,
ainda fazia algum sentido. O
elenco da época era ruinzinho e
o jogador estava no auge do
prestígio na Europa, adquirido
em seus tempos de PSV.
Já insistir com Romário em
1998 é sandice. Zagallo e boa
parte da mídia parecem ter ficados reféns do Romário autor dos
dois gols contra o Uruguai, que
classificaram o Brasil para a Copa de 94. Fez, é verdade, mais
cinco na própria Copa, mas, se
fosse de fato um "fora de série",
como está sendo tratado, teria
desequilibrado o jogo final contra a Itália. Não fez nada.
É mais justo atribuir o título de
1994 aos italianos Baggio e Baresi, que perderam os pênaltis,
do que ao próprio Romário.
Não se trata de negar valor ao
atleta. Trata-se, sim, de ter um
mínimo de perspectiva.
O único fora de série nessa seleção chama-se Ronaldinho.
Mas, além dele, o Romário, versão 98, perde, mesmo inteiro,
para, por exemplo, Denílson e
Edmundo. Basta relembrar e
comparar o desempenho dos
três (e de suas equipes) nos campeonatos mais recentes.
Claro que o ideal seria contar
com Romário, se estivesse em
plena forma. Mas, ao contrário
do que aconteceu em 94, ganhar a Copa não depende dele,
porque o Brasil raramente conseguiu juntar em um mesmo
grupo um número tão formidável de atletas de enorme talento
individual.
Faltou, até agora, é verdade,
que essa constelação de astros
exibisse, coletivamente, o futebol que cada um deles tem individualmente.
Mas jogo coletivo, sabidamente, não é o esporte preferido de
Romário.
Está na hora, pois, de lembrar
um fato da vida: o melhor jogador do mundo chama-se Ronaldo, seguido, aliás, de Roberto
Carlos.
Pena que tanto Zagallo como
boa parte da mídia dêem a sensação de que se esqueceram
desse fato e tenham ficado reféns daqueles dois gols do Maracanã contra o Uruguai e dos cinco da Copa dos EUA.
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