São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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A Copa de A a Z

ABERTURA- A Copa do Mundo de 1998, na França, a primeira da história com a participação de 32 seleções, promete ser singular desde a sua festa inaugural.
Diferentemente do observado nos 15 Mundiais anteriores, a abertura oficial dos franceses ocorrerá um dia antes do início da disputa.
Na noite de 9 de junho, bonecos gigantes simbolizando os quatro continentes que terão representantes na Copa (Europa, América, África e Ásia) comandarão o que promete ser um espetacular desfile pelas principais ruas de Paris.
Cada um dos "gigantes continentais" pesa cerca de 30 toneladas e mede mais de dois metros. O tamanho dos passos será controlado por um mecanismo hidráulico.
O boneco africano, batizado de Moussa, iniciará a jornada nas cercanias da Torre Eiffel para, segundo o coreógrafo Jean-Pascal Lévy-Trumet, diretor do espetáculo, "descobrir a civilização e suas regras, por intermédio dos jogos, confrontos, ordem e caos".
O gigante americano será um índio, Pablo, que inicialmente partiria do Arco do Triunfo, marco de eventos militares. Mas, após protestos de veteranos de guerra, sua saída foi deslocada para as proximidades do local.
Centenas de dançarinos com bolas plásticas alaranjadas o antecederão.
O ponto de partida de Romeu, o boneco europeu, será o teatro Ópera Garnier. No meio do caminho, ele encontrará com uma figura apenas descrita como "Olympia, a mulher urbana".
O grandalhão asiático, Ho, é, de acordo com Lévy-Trumet, "um ser espiritual e fantástico, que habita um universo poético e imaginativo".
A cerimônia, reunirá 4,5 mil bailarinos e acrobatas, com personagens e motivos circenses.
Lévy-Trumet afirmou querer transformar Paris em um "grande teatro", transmitindo ao mundo uma "mensagem de universalidade".
Os custos -aproximadamente US$ 8 milhões- serão bancados pelo Comitê Organizador da Copa e pelo governo francês.
Os organizadores prevêem que o desfile seja assistido por cerca meio milhão de espectadores até chegar ao seu destino, a Place de La Concorde, onde ocorrerá uma grande apoteose.
No dia seguinte, no Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores de Paris, uma cerimônia de menor porte antecederá o jogo de abertura entre Brasil e Escócia.

BRAILE - Os cegos e pessoas com algum tipo de deficiência visual terão à disposição um guia do Mundial escrito em Braile (sistema de escrita em relevo que permite leitura de textos), preparado pelo Comitê Organizador da Copa em parceria com a organização HandiCapZéro. Escrita em francês, a publicação traz um histórico de todas as Copas e apresenta as 32 seleções participantes, os dez estádios, os oito grupos e o calendário de jogos. Na França, há aproximadamente 110 mil cegos ou pessoas com deficiências visuais.

CIGANOS - Esta será a primeira Copa "itinerante" da história. Nenhuma seleção jogará duas vezes em uma mesma cidade na primeira fase, o que fará com que as equipes e os torcedores se desloquem em demasia dentro do território francês. O Brasil faz o primeiro jogo em Saint-Denis (arredores de Paris), o segundo em Nantes (noroeste da França) e o terceiro em Marselha (sudeste do país).

DOPING - A principal novidade é a inclusão da maconha na lista das substâncias proibidas. Até setembro de 97, quando a Fifa tomou a decisão, os estatutos da entidade não previam punições severas a jogadores que fizessem uso da maconha. Agora, as suspensões deverão ser de pelo menos um ano. Outra inovação: os juízes e representantes da Fifa em campo poderão pedir o teste antidoping de qualquer jogador. Além disso, continuarão sendo sorteados dois atletas por equipe.

ESTÁDIOS - Os 64 jogos do Mundial serão disputadas em dez estádios. O jogo de abertura e a final serão disputados no recém-inaugurado Stade de France, o maior da Copa, com capacidade para 80 mil torcedores. O segundo maior estádio é o Vélodrome, em Marselha, que receberá sete partidas, inclusive uma das semifinais. Paris entra com apenas um estádio, o Parc des Princes, com 49 mil lugares, palco de seis jogos, entre eles a decisão de terceiro e quarto lugares. O menor estádio é o Geoffroy-Guivard, em Saint-Étienne, com 36 mil lugares, que receberá seis jogos.

FIFA - Após 28 anos no comando da Fifa (entidade que dirige o futebol mundial), o brasileiro João Havelange não tentará a reeleição na votação do dia 8 de junho, em Paris. Concorrem à sua sucessão o sueco Lennart Johansson, presidente da Uefa (entidade que comanda o futebol europeu), e o suíço Joseph Blatter, ex-secretário-geral da Fifa, apoiado por Havelange. A disputa está equilibrada, com pequena vantagem do suíço. Ex-craques se dividem: Pelé e Beckenbauer apóiam Johansson; Platini está com Blatter.

GREVE - Algumas categorias de trabalhadores prometem paralisações durante o período da Copa do Mundo que podem atrapalhar a logística de seleções e torcedores. Funcionários da Air France, empresa aérea que irá transportar as equipes em território francês, já formalizaram um pré-aviso de greve, caso suas reivindicações não sejam atendidas. Os pilotos são contra a nova política salarial da estatal. Condutores de trem -principal meio de transporte intermunicipal do país- e bondes elétricos também ameaçam entrar em greve a partir de 10 de junho, dia da abertura da Copa.

HOOLIGANS - O esquema de prevenção contra a violência dos torcedores inclui forças de segurança dos 14 países europeus que se classificaram para a Copa. Os agentes estrangeiros vão reforçar o controle nas fronteiras terrestres e aéreas, além de formar brigadas mistas com os franceses. Cerca de 30 mil policiais participarão do esquema em todo o país. Nos estádios, policiais à paisana vão circular entre os torcedores. A polícia inglesa atuará com especial atenção na vigilância aos "holligans", os torcedores mais violentos da Europa. A lei francesa chegou a ser alterada para permitir a extradição imediata de estrangeiros que causem problemas durante a Copa.

INGRESSOS - Os 2,5 milhões de ingressos confeccionados para o Mundial já estão esgotados. Agora, só poderão ser encontrados com cambistas, que devem cobrar até 20 vezes o valor original. Os ingressos mais baratos para a primeira fase da Copa foram vendidos por US$ 30. Para a final, os preços oficiais variaram entre US$ 58 e US$ 490, mas agências de turismo francesas chegaram a vender bilhetes por US$ 5 mil.

JUIZ - São 34 os árbitros escolhidos para a Copa. A Europa é o continente que terá mais representantes (15), seguida por África e América do Sul (6 cada). Nenhum país terá mais de um juiz no Mundial. O mineiro Márcio Rezende de Freitas será o representante brasileiro. Não há nenhum negro entre os 34 árbitros. O único que tem a pele ligeiramente escura é o nigerino (natural de Níger) Lucien Ousmane Bouchardeau.

LAS VEGAS - A despeito das incertezas que cercam a escalação da equipe, o Brasil é o favorito absoluto para vencer a Copa nas bolsas de apostas inglesas. No final da semana passada, a conquista da seleção nacional estava pagando 3,25 vezes o valor apostado. Em segundo lugar vinham, empatadas, Alemanha, França e Itália -pagando seis vezes o valor apostado. Na "lanterninha", apareciam Jamaica e Irã: uma eventual conquista dessas seleções no Mundial pagaria 500 vezes o valor apostado.

MECA - Nunca um Mundial reuniu tantas seleções de países que têm o islamismo como religião predominante. Arábia Saudita, Irã, Marrocos, Nigéria e Tunísia representarão os muçulmanos na Copa. Em um ponto, essas equipes terão certa vantagem em relação às demais, já que os rígidos códigos de sua religião praticamente anulam a chance de bebedeiras ou estripulias sexuais durante a Copa. Por outro lado, os mais fiéis terão que arranjar tempo entre jogos e treinamentos para realizar as cinco orações diárias previstas no Alcorão.

NACIONALIDADE - Trocar de nacionalidade para disputar uma Copa é prática corriqueira. Na França, os brasileiros são os recordistas no quesito "virar a casaca".
O comandante de ataque da Bélgica, por exemplo, é o maranhense Luís Aírton Oliveira Barroso (ou Olivêrrá, para os belgas). No Japão, há outro atacante brasileiro, o paulista Wágner Lopes, que já defendeu o São Paulo. O lateral-esquerdo Clayton defenderá a Tunísia, enquanto o atacante paulista Zaguinho disputa uma vaga entre os convocados do México.
Outros exemplos: o atacante Pizzi, nascido na Argentina, jogará pela Espanha, e o meia alemão Prosinecki defenderá a Croácia. A seleção dos EUA é o principal abrigo de atletas nascidos em outros países e naturalizados norte-americanos: o uruguaio Tab Ramos, o sul-africano Wegerle, o alemão Regis e o holandês Stewart.


ÓPERA-ROCK - Como já ocorrera nos EUA-94, os tenores "pop-stars" Luciano Pavarotti, Placido Domingo e José Carreras farão um show durante a Copa. Será em Paris, no Campo de Marte, no dia 10 de julho. Entre outras canções "populares", deverão cantar o hino oficial da Copa, composto pelo senegalês Youssou N'dour. Em 10 de junho, antes de Brasil x Escócia, N'dour cantará a canção junto com a belga Axelle Red.

PATROCÍNIO - São 12 os patrocinadores oficiais do Mundial: Adidas (material esportivo), Budweiser (bebidas), Canon (cine e foto), Coca Cola (bebidas), Fujifilm (cine e foto), Opel/GM (automóveis), Gillette (higiene), JVC (eletrônicos), Mastercard (cartões de crédito), Mc Donald's (alimentos), Philips (eletrônicos) e Snickers (alimentos). Cada um pagou US$ 30 milhões para aparecer em placas nos jogos e usar o logotipo oficial da Copa em seus produtos.

QUANTIDADE - No primeiro Mundial disputado com 32 seleções, há a possibilidade de que o excesso de equipes influa na qualidade técnica. Uma das consequências da "superlotação" é a presença de quatro novatos: África do Sul, Croácia, Jamaica e Japão disputam o seu primeiro Mundial. Ao todo serão 64 jogos, também um recorde. A Copa do Mundo começou com 13 participantes, em 1930. De 1934 até 1978 foram 16 seleções (13 em 1950, por desistências). Em 1982, o número subiu para 24 (total de 52 jogos), permanecendo assim até 1994.

ROBÔS - Pela primeira vez na história das Copas, será disputado, simultaneamente à competição, Mundiais de robôs. Serão dois torneios, o principal deles de 1º a 5 de julho, em Paris. Dois times estão credenciados para representar o Brasil: o Bravo, do CTI (Centro de Tecnologia para a Informática), e a Unesp de Bauru. Diferentemente da Copa de humanos, onde têm poucas chances de êxito, as seleções dos EUA, Japão e Coréia do Sul são as favoritas ao título dos autômatos. Cada seleção é composta por três robôs -um goleiro e dois jogadores de linha.

SEXTA E SÁBADO - São os dias da semana em que mais serão disputados jogos durante a Copa- 11 partidas em cada. Logo atrás, recebendo nove jogos cada, vêm as terças, quartas e domingos. Às quintas-feiras acontecerão oito jogos, e por último, às segundas-feiras, apenas sete. Considerando o horário de Brasília, a maioria dos jogos será disputada à tarde. O horário mais comum será 16h (21h de Paris), quando serão realizados 31 dos 64 jogos. Em seguida vem o horário do almoço brasileiro -12h30, ou 17h30 em Paris- com 13 partidas. O jogo de abertura, Brasil x Escócia, acontecerá às 12h30 de uma quarta. A final será disputada às 16h de um domingo.

TERRORISMO - Só na Copa da Alemanha, em 1974, se viu tanta preocupação com atos terroristas (consequência do atentado de palestinos contra israelenses em Munique-72) como agora. Em 26 de maio, as polícias da França, Alemanha, Itália, Bélgica e Suíça fizeram uma ação conjunta, prendendo 76 suspeitos de integrar movimentos islâmicos que estariam planejando atentados durante a Copa. O Brasil, tido como alvo de atentados, por ser o campeão mundial, terá 80 policiais encarregados de sua segurança.

ÚNICOS - Alguns jogadores e técnicos poderão fazer história. Se atuar pelo menos um minuto, o meia alemão Lothar Matthäus será o jogador que mais partidas disputou em Copas do Mundo. Hoje, com 21 jogos, está empatado com o polonês Zmuda, o alemão Seeler e o argentino Maradona. O técnico Zagallo será a única pessoa a ter participado de seis Copas. Em 58 e 62 atuou como ponta da seleção; em 70 e 74 comandou o time e em 94 foi o coordenador técnico. Taffarel e Dunga poderão se tornar os recordistas de atuações pela seleção brasileira. Já jogaram 11 vezes cada em Mundiais e, se a seleção for à semifinal, chegarão a 18, superando Jairzinho (16).

VOVÔS - Tomando como base os pré-convocados, a seleção alemã levará à França o mais velho grupo de jogadores, com média de 29,8 anos. A seleção mais nova deverá ser a da Nigéria -média de 24,9 anos. Entre os 22 convocados, o Brasil apresenta uma média de idade de 27,9 anos, que aumenta para 28,4 se considerados só os 11 titulares. O jogador mais velho do Mundial deve ser o goleiro escocês Leighton (39 anos). Com idade para ser seu filho, o atacante inglês Owen, 18, será o "caçula" da Copa da França.

XADREZ - A Copa apresentará poucas inovações em relação aos esquemas táticos das últimas edições. A maior novidade é o sistema 4-5-1, com apenas um jogador no ataque, adotado por seleções como Noruega e Espanha. Por possuir muitos jogadores com características ofensivas, a Nigéria pode surpreender, mudando, no decorrer de um jogo, do seu 4-4-2 para um 4-2-4.

ZANGADOS - Toda seleção que se preze tem o seu Edmundo. Os mais famosos "bad boys" da Copa são o meia búlgaro Stoichkov, o meia inglês Gascoigne e o atacante holandês Kluivert.
De temperamento difícil, Stoichkov foi afastado por dois anos da seleção por querer mandar mais que o técnico. Gascoigne foi ameaçado pelo técnico Glenn Hodlle de não ser convocado, devido às suas bebedeiras. Mal acabara de tirar a carta, Kluivert se envolveu em acidente automobilístico que resultou em uma morte. Também foi à Justiça sob acusação de estupro.



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