São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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Polêmicas privaram gaúchos de três Mundiais


DO ENVIADO A MONTEVIDÉU

E DA REPORTAGEM LOCAL

A língua afiada. A distância dos holofotes do eixo Rio-São Paulo. A fama de retranqueiros de alguns. Por um ou mais desses motivos, nunca um técnico do Rio Grande do Sul, mesmo aqueles que ficaram longe da terra natal por muito tempo, teve o sabor de comandar a seleção brasileira em uma Copa do Mundo.
Em três oportunidades, um gaúcho deixou de alcançar o ápice na profissão de treinador apenas nas vésperas do Mundial.
Foi assim com Oswaldo Brandão, nas Copas de 1958 e 1978, e João Saldanha, em 1970.
Com exceção do Mundial da Argentina, em que um empate com a Colômbia nas eliminatórias sul-americanas causou a saída de Brandão, as outras duas "derrocadas gaúchas" tiveram componentes políticos.
"Dei uma entrevista criticando os dirigentes e acabei fora da seleção", disse Brandão quase 20 anos depois de ser trocado pelo paulista Vicente Feola, que acabaria conquistando o primeiro Mundial para o Brasil, na Suécia.
A saída de Saldanha apenas três meses antes do início da Copa do México, em 1970, para dar lugar ao alagoano Zagallo é um dos fatos mais controversos da história da seleção brasileira.
Primeiro, o treinador se recusou a atender ao pedido do então presidente Emílio Garrastazu Médici, que queria o atacante Dario no grupo que ia ao Mundial.
Depois, brigou com médicos e preparadores físicos, todos cariocas. Poucos dias antes de sua demissão, invadiu o Flamengo com um revólver para ameaçar Iustrich, então técnico do clube.
Quando não foi pelo temperamento, os técnicos gaúchos foram simplesmente ignorados.
Com fama de retranqueiro, Ênio Andrade nunca chegou à seleção, apesar de ser o único treinador campeão brasileiro por três clubes diferentes -em um deles invicto, fato inédito até hoje.
Assim como Luiz Felipe Scolari, Brandão, Saldanha e Andrade marcaram suas carreiras pela celebração do rigor na marcação, uma das marcas do estilo gaúcho.
"Não fui bom jogador, mas não tinha medo de dividir", dizia Brandão sobre seus tempos de atleta, que nortearam depois seu trabalho como treinador.
Com seu estilo gaúcho, apesar de ter feito sua carreira no Brasil nos grandes times de São Paulo, Brandão fez sucesso no Uruguai e na Argentina, onde foi campeão, respectivamente, com Peñarol e Independiente.
Saldanha, que trocou o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro ainda jovem, fez sua curta carreira como treinador com o discurso das "feras" e tentando mudar o estilo da seleção.
Assim como Scolari agora, Saldanha tentou instituir o líbero na equipe que preparava para a Copa -função que seria exercida por Piazza. Andrade, acusado até de não gostar de craques, tinha como principal marca o treinamento até a exaustão dos fundamentos básicos do futebol. (FV e PC)



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