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Pela primeira vez, Brasil conquista título mundial com o 3-5-2, antes contestado no país
Scolari insiste e consagra uso de três zagueiros na seleção
DOS ENVIADOS A YOKOHAMA
Pela primeira vez, o Brasil é
campeão mundial com um esquema que foge das características táticas históricas do país.
Com a vitória de ontem sobre a
Alemanha, Luiz Felipe Scolari colocou o 3-5-2 na galeria dos times
nacionais que tiveram o gosto de
conquistar uma Copa do Mundo.
Nos quatro títulos anteriores, a
seleção brasileira atuou com o esquema de dois laterais e dois beques, que formavam a tradicional
linha de quatro defensores.
Apesar de sempre ter insistido
no 3-5-2, o treinador gaúcho fez
algumas variações no Mundial.
Contra rivais que usavam apenas
um atacante, Scolari adiantou Edmilson da zaga para o meio-campo. Também apostou no início da
competição no meia-atacante Juninho para fazer o papel de segundo volante da equipe.
O jogador do Flamengo recebeu
menção especial do treinador
gaúcho em entrevista após o jogo.
Segundo Scolari, Juninho teve
papel decisivo na conquista do título mundial, por ter sido um dos
responsáveis pelas folgadas vitórias na primeira fase, que deram,
de acordo com o técnico, moral
suficiente para seu time superar
depois rivais mais fortes.
Contra os alemães, entretanto, o
que aconteceu foi o uso de um
clássico 3-5-2. Temendo a forte
jogada aérea de seus adversários,
o Brasil manteve os três zagueiros
nas funções tradicionais.
A opção de Scolari deu resultados. Seu time teve na decisão um
desempenho defensivo muito acima da sua média do que no resto
da Copa. Segundo o Datafolha, o
Brasil fez ontem 167 desarmes,
contra uma média de 140,5 nas
demais partidas do Mundial.
Cafu, acusado pelo treinador de
não marcar com eficiência pouco
antes do Mundial, o que teria provocado a adoção do 3-5-2, mais
uma vez se destacou no fundamento. Foram 15 desarmes. Sua
média em toda a competição nessa estatística foi de 14 por partida.
O título ganho ontem com um
sistema que foge da tradição do
futebol país empolgou o pioneiro
dessa tática na seleção.
"A vitória do 3-5-2 é importante
para o futebol brasileiro ganhar
variação. Muitas pessoas são tradicionalistas e não aceitam mudanças. O time do Scolari mostrou que é possível jogar sem uma
linha de quatro zagueiros no nosso país", diz Sebastião Lazaroni,
que comandou a primeira tentativa da equipe nacional de jogar
com esse esquema. Ele colheu um
fracasso retumbante: derrota nas
oitavas-de-final da Copa de 1990,
disputada na Itália.
Já Carlos Alberto Parreira, campeão mundial com a seleção em
1994, nos EUA, não condena mais
com a mesma veemência do que
no passado essa tática.
"Nunca disse que fui contra o 3-5-2. Simplesmente tenho preferência por quatro zagueiros, que é
uma característica do futebol brasileiro", afirma o campeão, comandando o Corinthians, da última edição da Copa do Brasil.
Tanto Lazaroni quanto Parreira
estiveram no hotel que abrigou a
seleção em Yokohama, sendo que
o segundo recebeu muito mais
atenção de Scolari.
Além da seleção, experiências
recentes com o esquema que consagrou Scolari ontem resultaram
em bons resultados para clubes
do país em competições nacionais. O Atlético-PR ganhou o último Campeonato Brasileiro jogando com essa formação. O Grêmio venceu a Copa do Brasil-2001
e está nas semifinais da Taça Libertadores-2002 também atuando dessa forma.
Antes, o 3-5-2 tinha obtido seu
maior destaque no país com o
modesto Mogi Mirim, que revelou, adotando essa tática, o meia-atacante Rivaldo, um dos grandes
destaques brasileiros na conquista do pentacampeonato.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS
ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG,
PAULO COBOS, ROBERTO DIAS, RODRIGO
BUENO E SÉRGIO RANGEL)
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