São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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Pela primeira vez, Brasil conquista título mundial com o 3-5-2, antes contestado no país

Scolari insiste e consagra uso de três zagueiros na seleção

DOS ENVIADOS A YOKOHAMA

Pela primeira vez, o Brasil é campeão mundial com um esquema que foge das características táticas históricas do país.
Com a vitória de ontem sobre a Alemanha, Luiz Felipe Scolari colocou o 3-5-2 na galeria dos times nacionais que tiveram o gosto de conquistar uma Copa do Mundo.
Nos quatro títulos anteriores, a seleção brasileira atuou com o esquema de dois laterais e dois beques, que formavam a tradicional linha de quatro defensores.
Apesar de sempre ter insistido no 3-5-2, o treinador gaúcho fez algumas variações no Mundial. Contra rivais que usavam apenas um atacante, Scolari adiantou Edmilson da zaga para o meio-campo. Também apostou no início da competição no meia-atacante Juninho para fazer o papel de segundo volante da equipe.
O jogador do Flamengo recebeu menção especial do treinador gaúcho em entrevista após o jogo.
Segundo Scolari, Juninho teve papel decisivo na conquista do título mundial, por ter sido um dos responsáveis pelas folgadas vitórias na primeira fase, que deram, de acordo com o técnico, moral suficiente para seu time superar depois rivais mais fortes.
Contra os alemães, entretanto, o que aconteceu foi o uso de um clássico 3-5-2. Temendo a forte jogada aérea de seus adversários, o Brasil manteve os três zagueiros nas funções tradicionais.
A opção de Scolari deu resultados. Seu time teve na decisão um desempenho defensivo muito acima da sua média do que no resto da Copa. Segundo o Datafolha, o Brasil fez ontem 167 desarmes, contra uma média de 140,5 nas demais partidas do Mundial.
Cafu, acusado pelo treinador de não marcar com eficiência pouco antes do Mundial, o que teria provocado a adoção do 3-5-2, mais uma vez se destacou no fundamento. Foram 15 desarmes. Sua média em toda a competição nessa estatística foi de 14 por partida.
O título ganho ontem com um sistema que foge da tradição do futebol país empolgou o pioneiro dessa tática na seleção.
"A vitória do 3-5-2 é importante para o futebol brasileiro ganhar variação. Muitas pessoas são tradicionalistas e não aceitam mudanças. O time do Scolari mostrou que é possível jogar sem uma linha de quatro zagueiros no nosso país", diz Sebastião Lazaroni, que comandou a primeira tentativa da equipe nacional de jogar com esse esquema. Ele colheu um fracasso retumbante: derrota nas oitavas-de-final da Copa de 1990, disputada na Itália.
Já Carlos Alberto Parreira, campeão mundial com a seleção em 1994, nos EUA, não condena mais com a mesma veemência do que no passado essa tática.
"Nunca disse que fui contra o 3-5-2. Simplesmente tenho preferência por quatro zagueiros, que é uma característica do futebol brasileiro", afirma o campeão, comandando o Corinthians, da última edição da Copa do Brasil.
Tanto Lazaroni quanto Parreira estiveram no hotel que abrigou a seleção em Yokohama, sendo que o segundo recebeu muito mais atenção de Scolari.
Além da seleção, experiências recentes com o esquema que consagrou Scolari ontem resultaram em bons resultados para clubes do país em competições nacionais. O Atlético-PR ganhou o último Campeonato Brasileiro jogando com essa formação. O Grêmio venceu a Copa do Brasil-2001 e está nas semifinais da Taça Libertadores-2002 também atuando dessa forma.
Antes, o 3-5-2 tinha obtido seu maior destaque no país com o modesto Mogi Mirim, que revelou, adotando essa tática, o meia-atacante Rivaldo, um dos grandes destaques brasileiros na conquista do pentacampeonato. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, PAULO COBOS, ROBERTO DIAS, RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)


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