São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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BALANÇO

País bate o Japão no custo, no técnico e na torcida

No duelo dos anfitriões, Coréia dá de goleada

RICHARD WERLY
DO "LIBERATION"

Uma Copa, dois países, prometia a Fifa. Um mês depois, na véspera da final de Yokohama, o primeiro balanço deste Mundial bicéfalo demonstra que duas competições paralelas ocorreram no Japão e na Coréia. Cada uma com seu leque de diferenças culturais, logísticas, materiais e jornalísticas. Vejamos os detalhes.

Seul, camisa vermelha
O dia em que as recepcionistas sul-coreanas tirarem suas camisas e suas camisetas vermelhas ficará marcado com uma cruz no calendário. Chegando de Tóquio, onde quase nada anuncia a Copa, percebo que a escolha das vestimentas demonstra a diferença de tom e de ambiente nos dois países.
Em Seul, é impossível não ver as "consequências têxteis" da competição. As vitórias do time transformaram o país numa festa vermelha. O vermelho e o slogan "Seja vermelho" se tornaram a palavra de ordem de uma população maravilhada com seus jogadores. Dez milhões de camisas foram vendidas. A febre azul japonesa, visível sobretudo em dias de jogos e confinada ao centro das grandes cidades e aos arredores dos estádios, não "causou nem resfriado".

Os técnicos viram moda
Acreditava-se no paralelo perfeito. Duas equipes asiáticas treinadas por estrangeiros. Dois técnicos com discursos quase idênticos, enfatizando a condição física, a preparação mental, a necessidade de saber resistir à pressão e às grandes seleções. Contudo o desenrolar da competição cavou um buraco entre as duas formações.
Com seu time, o francês Philippe Troussier pendurou as chuteiras já nas oitavas-de-final com uma honrosa derrota para a Turquia. Uma campanha nada comparável à do estratosférico holandês Guus Hiddink, que atingiu o status de estrela incontestável e de supercidadão na Coréia do Sul. Troussier, agora que a eliminação foi digerida, busca um emprego.
Hiddink, por sua vez, está no sétimo céu. Ganhou uma mansão em Jeju, um passaporte de cidadão honorário e, entre outras coisas, a possibilidade de adquirir a nacionalidade sul-coreana.

Maratona de estádios
Antes de tudo, a decisão de construir um estádio é política. A organização de suas vias de acesso é logística. Por respeito pelo gigante japonês, não ousaremos comparar a logística que cerca os estádios das semifinais: Seul e Saitama. Mas vejamos o principal.
O trajeto até o estádio da capital coreana demora 30 minutos. No lado japonês, ao menos uma hora e meia. Mas Saitama tem um museu em homenagem a John Lennon em sua cúpula, que é diretamente conectada a uma estação de metrô. Para os que são fãs dos Beatles, a escolha não se discute.

Fatura elevada
Os sul-coreanos tinham uma vantagem inicial. Uma refeição custa três vezes mais barato em Seul do que em Tóquio, e a conta do hotel também segue essa proporção. Resultado: não é fácil achar torcedores de países asiáticos (que não participaram da Copa) nas ruas da capital nipônica.

"Felicidade" cotidiana
Uma Copa em dois países tem, intrinsecamente, problemas organizacionais. Dois bilhetes de transporte distintos (um para cada país), vôos programados -nem sempre cumpridos-, uma loja de suvenires com preços astronômicos, uma multiplicação de estádios que, às vezes, obrigava os fãs a percorrer mais de mil quilômetros e línguas distintas. E, até neste quesito, os coreanos levaram vantagem, arranhando um pouco melhor o inglês.

Telas maiores ou menores
Os japoneses deveriam propor a seus políticos que fossem à Coréia com mais frequência. Os sul-coreanos assistiram a todos os jogos em telões. Salvo raras exceções, os japoneses preferiram confinar os fãs sem ingressos para os jogos à televisão. Cada um colhe a febre futebolística que semeia...



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