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BALANÇO
País bate o Japão no custo, no técnico e na torcida
No duelo dos anfitriões, Coréia dá de goleada
RICHARD WERLY
DO "LIBERATION"
Uma Copa, dois países, prometia a Fifa. Um mês depois, na véspera da final de Yokohama, o primeiro balanço deste Mundial bicéfalo demonstra que duas competições paralelas ocorreram no
Japão e na Coréia. Cada uma com
seu leque de diferenças culturais,
logísticas, materiais e jornalísticas. Vejamos os detalhes.
Seul, camisa vermelha
O dia em que as recepcionistas
sul-coreanas tirarem suas camisas
e suas camisetas vermelhas ficará
marcado com uma cruz no calendário. Chegando de Tóquio, onde
quase nada anuncia a Copa, percebo que a escolha das vestimentas demonstra a diferença de tom
e de ambiente nos dois países.
Em Seul, é impossível não ver as
"consequências têxteis" da competição. As vitórias do time transformaram o país numa festa vermelha. O vermelho e o slogan "Seja vermelho" se tornaram a palavra de ordem de uma população
maravilhada com seus jogadores.
Dez milhões de camisas foram
vendidas. A febre azul japonesa,
visível sobretudo em dias de jogos
e confinada ao centro das grandes
cidades e aos arredores dos estádios, não "causou nem resfriado".
Os técnicos viram moda
Acreditava-se no paralelo perfeito. Duas equipes asiáticas treinadas por estrangeiros. Dois técnicos com discursos quase idênticos, enfatizando a condição física,
a preparação mental, a necessidade de saber resistir à pressão e às
grandes seleções. Contudo o desenrolar da competição cavou um
buraco entre as duas formações.
Com seu time, o francês Philippe Troussier pendurou as chuteiras já nas oitavas-de-final com
uma honrosa derrota para a Turquia. Uma campanha nada comparável à do estratosférico holandês Guus Hiddink, que atingiu o
status de estrela incontestável e de
supercidadão na Coréia do Sul.
Troussier, agora que a eliminação
foi digerida, busca um emprego.
Hiddink, por sua vez, está no sétimo céu. Ganhou uma mansão
em Jeju, um passaporte de cidadão honorário e, entre outras coisas, a possibilidade de adquirir a
nacionalidade sul-coreana.
Maratona de estádios
Antes de tudo, a decisão de
construir um estádio é política. A
organização de suas vias de acesso
é logística. Por respeito pelo gigante japonês, não ousaremos
comparar a logística que cerca os
estádios das semifinais: Seul e Saitama. Mas vejamos o principal.
O trajeto até o estádio da capital
coreana demora 30 minutos. No
lado japonês, ao menos uma hora
e meia. Mas Saitama tem um museu em homenagem a John Lennon em sua cúpula, que é diretamente conectada a uma estação
de metrô. Para os que são fãs dos
Beatles, a escolha não se discute.
Fatura elevada
Os sul-coreanos tinham uma
vantagem inicial. Uma refeição
custa três vezes mais barato em
Seul do que em Tóquio, e a conta
do hotel também segue essa proporção. Resultado: não é fácil
achar torcedores de países asiáticos (que não participaram da Copa) nas ruas da capital nipônica.
"Felicidade" cotidiana
Uma Copa em dois países tem,
intrinsecamente, problemas organizacionais. Dois bilhetes de
transporte distintos (um para cada país), vôos programados
-nem sempre cumpridos-,
uma loja de suvenires com preços
astronômicos, uma multiplicação
de estádios que, às vezes, obrigava
os fãs a percorrer mais de mil quilômetros e línguas distintas. E, até
neste quesito, os coreanos levaram vantagem, arranhando um
pouco melhor o inglês.
Telas maiores ou menores
Os japoneses deveriam propor a
seus políticos que fossem à Coréia
com mais frequência. Os sul-coreanos assistiram a todos os jogos
em telões. Salvo raras exceções, os
japoneses preferiram confinar os
fãs sem ingressos para os jogos à
televisão. Cada um colhe a febre
futebolística que semeia...
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