São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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JOSÉ GERALDO COUTO

A "volta por cima" de Ronaldo e dos outros

Uma final como a de ontem reaviva algo básico: o futebol é, antes de tudo, a encenação incomparável do drama humano Como diria Roberto Carlos, o cantor, "são tantas emoções" que é difícil saber por onde começar.
Enquanto escrevo estas linhas, os jogadores brasileiros ainda comemoram em campo.
Os astros Ronaldo e Rivaldo agitam uma bandeira para os cinegrafistas, os evangélicos Lúcio, Kaká e Edmilson rezam num canto, a "ala dos baianos" (Edílson, Júnior, Vampeta, Dida) ensaia um samba.
No trabalho de comentaristas, tentando identificar uma ordem naquele alvoroço de pernas correndo atrás de uma bola, frequentemente esquecemos que o futebol é feito por gente de carne e osso, não por meras peças de uma engrenagem, pontos de giz num quadro negro ou bonequinhos de pebolim.
Uma final como a de ontem vem nos lembrar esse fato básico: o futebol é, antes de tudo, uma encenação incomparável do drama humano.
Para vários personagens, a conquista representou uma vitória pessoal contra a adversidade. Scolari, por exemplo, teve seu trabalho criticado pela maioria de nós, comentaristas, sofreu pressões para convocar Romário, errou muito, acertou outro tanto e terminou campeão invicto, com a melhor campanha do país numa Copa desde 1970.
Olho para a tela da TV e vejo Cafu levantando a taça. Tem motivos para escancarar o sorriso. Sempre contestado, acusado por uns de não saber cruzar e por outros de não saber marcar, o lateral saiu do Jardim Irene para o topo do mundo. É o único ser do planeta que disputou três finais de Copa seguidas.
Mas nenhuma volta por cima foi tão completa e comovente como a de Ronaldo. Acusado de "amarelar" na final de 98 contra a França, declarado morto para o futebol depois de graves contusões, ele ressurgiu das cinzas em grande estilo. Sua recuperação é que foi o verdadeiro fenômeno.
Otimista, eu esperava que Ronaldo jogasse bem e fizesse alguns gols. Ele fez mais que isso: foi o artilheiro da Copa, ganhou bolas perdidas, venceu muralhas que pareciam intransponíveis.
Temos motivos para comemorar. Além do quinto título, tivemos em campo ou no banco jovens valores que ainda têm muita bola para mostrar, a começar por Ronaldinho, o gaúcho, talvez o mais brilhante brasileiro no torneio. Mas há também Kleberson, Gilberto Silva, Kaká, Denílson e quem mais pintar.
Já não vejo a hora de a próxima Copa do Mundo, na Alemanha, chegar.

jgcouto@uol.com.br



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