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JOSÉ GERALDO COUTO
A "volta por cima" de Ronaldo e dos outros
Uma final como a de ontem reaviva algo básico: o futebol é, antes de tudo, a encenação incomparável do drama humano
Como diria Roberto Carlos, o cantor, "são tantas emoções" que é difícil saber por onde começar.
Enquanto escrevo estas linhas, os jogadores brasileiros
ainda comemoram em campo.
Os astros Ronaldo e Rivaldo
agitam uma bandeira para os
cinegrafistas, os evangélicos Lúcio, Kaká e Edmilson rezam
num canto, a "ala dos baianos"
(Edílson, Júnior, Vampeta, Dida) ensaia um samba.
No trabalho de comentaristas, tentando identificar uma
ordem naquele alvoroço de pernas
correndo atrás de
uma bola, frequentemente esquecemos
que o futebol é feito
por gente de carne e
osso, não por meras
peças de uma engrenagem, pontos de
giz num quadro negro ou bonequinhos
de pebolim.
Uma final como a
de ontem vem nos
lembrar esse fato
básico: o futebol é,
antes de tudo, uma
encenação incomparável do
drama humano.
Para vários personagens, a
conquista representou uma vitória pessoal contra a adversidade. Scolari, por exemplo, teve
seu trabalho criticado pela
maioria de nós, comentaristas,
sofreu pressões para convocar
Romário, errou muito, acertou
outro tanto e terminou campeão invicto, com a melhor
campanha do país numa Copa
desde 1970.
Olho para a tela da TV e vejo
Cafu levantando a taça. Tem
motivos para escancarar o sorriso. Sempre contestado, acusado por uns de não saber cruzar e
por outros de não saber marcar,
o lateral saiu do Jardim Irene
para o topo do mundo. É o único ser do planeta que disputou
três finais de Copa seguidas.
Mas nenhuma volta por cima
foi tão completa e comovente
como a de Ronaldo. Acusado de
"amarelar" na final de 98 contra a França, declarado morto para o
futebol depois de
graves contusões, ele
ressurgiu das cinzas
em grande estilo.
Sua recuperação é
que foi o verdadeiro
fenômeno.
Otimista, eu esperava que Ronaldo
jogasse bem e fizesse
alguns gols. Ele fez
mais que isso: foi o
artilheiro da Copa,
ganhou bolas perdidas, venceu muralhas que pareciam
intransponíveis.
Temos motivos para comemorar. Além
do quinto título, tivemos em
campo ou no banco jovens valores que ainda têm muita bola
para mostrar, a começar por
Ronaldinho, o gaúcho, talvez o
mais brilhante brasileiro no torneio. Mas há também Kleberson, Gilberto Silva, Kaká, Denílson e quem mais pintar.
Já não vejo a hora de a próxima Copa do Mundo, na Alemanha, chegar.
jgcouto@uol.com.br
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