São Paulo, terça, 1 de setembro de 1998

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JUCA KFOURI
A comissão técnica

A comissão técnica da seleção brasileira anunciada oficialmente ontem é de ótima qualidade.
Não se trata nem de compará-la à anterior, porque seria covardia, a começar pelo treinador, muito mais atualizado e competente que o antecessor.
Mas é preciso registrar pelo menos dois pecados, veniais, sem dúvida, mas pecados.
Moracy Sant'Anna ficou de fora, embora seja considerado o número 1 do país na preparação física.
A escolha feita em torno de um também belo profissional e velho amigo de Luxemburgo, o preparador Antônio Mello, é mais ou menos como se entre Pelé e Gérson um técnico desse preferência ao segundo para vestir a camisa 10 de um time de futebol nos anos 70.
Ou seja, entre o fora de série e o excelente, no caso, Luxemburgo não foi coerente com sua tese de chamar sempre o melhor, não o amigo.
Ainda durante a Copa da França, Carlos Alberto Parreira me dizia que formar uma comissão técnica de seleção brasileira sem Moracy Sant'Anna era um desperdício absurdo. Era e é.
Nada que seja gravíssimo, mas o registro é necessário.
No capítulo da escolha do psicólogo o problema é ainda maior.
Suzy Fleury é uma psicóloga pós-graduada em... propaganda e marketing.
Articulada, charmosa, sedutora mesmo, ela é uma profissional adepta da neurolinguística, modismo que nenhum cientista da área da psicologia leva a sério.
Muito mais uma motivadora do que uma terapeuta, com a escolha é possível que a seleção esteja perdendo a grande chance de modificar os usos e costumes vigentes em nosso futebol, sempre preconceituoso em relação ao trabalho psicológico em nossas equipes.
Enfim, nesse campo, deu-se um passo, sem dúvida, mas é possível que tenha sido um passo em falso, sabe-se lá com que consequências para o futuro se não der certo.
É inegável, no entanto, que a nova comissão ganha em transparência e que significa uma renovação importante em relação aos usos e costumes da CBF -apesar da presença constrangedora de pelo menos um membro da família Teixeira, o auxiliar de preparação física Marcos Moura Teixeira, e, ao que tudo indica, da futura indicação de Marco Antônio Teixeira para chefiar a comissão, uma brincadeira de péssimo gosto.



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