São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

Todos os nomes


A lista dos atletas brasileiros tem Williams e Wellingtons a rodo, mas ainda há espaço para um Nêgo e um Betão


A LLAN DELON , quem diria, foi parar na Moóca. Não me refiro, é claro, ao galã francês de cinema, mas ao atacante capixaba Allan Delon Santos Dantas, que, depois de passar pelo Vitória, pelo Brasiliense e por clubes mexicanos, atracou no Juventus da Rua Javari.
O torcedor brasileiro já está habituado a essas situações pitorescas. Allan Delon é um velho conhecido nosso, assim como Alan Kardec (de Souza Pereira Jr.), que baixou no terreiro do Vasco há mais de um ano.
Passar os olhos pela relação dos jogadores inscritos por nossos clubes profissionais para a atual temporada pode ser uma experiência reveladora.
O que primeiro salta à vista é a quantidade de nomes estrangeiros -em geral de origem inglesa, ainda que existam alguns Jeans, Michels e Pierres de sabor francês e um ou outro Juan de sonoridade castelhana. O grosso mesmo é de nomes anglo-saxões. Só de Wellingtons eu contei seis: o Botafogo, o Internacional, o Figueirense, o Guarani de Divinópolis, o São Raimundo de Santarém e o Rio Branco de Andradas, cada um tem o seu.
Se bobear, tem mais Wellington que José no nosso futebol. Nem vamos perder tempo falando da profusão de Williams, de Christians, de Rogers e de Andersons.
Até aqui, parece que eu, um mero Zé, estou me queixando dessa invasão onomástica estrangeira e engrossando o coro dos que, como o deputado Aldo Rebelo, querem defender a "pureza" da língua pátria a golpes de multas e proibições. Longe de mim tal insensatez.
Uma língua se enriquece no contato e na troca com todas as outras. Os nomes predominantes em uma geração refletem o imaginário de sua época, não o determinam.
Mais significativo do que a assimilação pura e simples dos nomes estrangeiros -que denota submissão cultural- é o processo de canibalização que eles sofrem aqui. Abaixo do Equador, se Alain vira Allan, Michael vira Maicon (ou Maycon), David vira Deivid e Hollywood vira Oliúde. Isso sem falar nas criações genuinamente brasileiras, como o espantoso Maicosuel (jogador do Cruzeiro). É a contribuição milionária de todos os erros, como queria Oswald de Andrade.
Outros modos criativos, antropofágicos, de lidar com a invasão anglófona são ignorar, abrasileirar ou qualificar o nome alienígena. Alguns exemplos. Para provável desgosto de sua mãe, Ebert Willian Amancio virou Betão (o beque do Santos). Já o lateral do Atlético-MG registrado como Lindberg Francisco da Silva recebeu a carinhosa alcunha de Nêgo.
Por fim, descobri no Macaé (RJ) um William Amendoim, nome que qualquer romancista gostaria de ter inventado.
E Wanderson de Paula Sabino é ninguém menos que o nosso glorioso Somália. Faltou falar dos estrangeiros propriamente ditos, como o nigeriano Abubakar, do Vasco, o guineense Ambi Có, da Portuguesa de Londrina, e o coreano Sun Bo-hwang, do Boca Júnior... de Cristinápolis (SE). Babel é pouco.

jgcouto@uol.com.br


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