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FUTEBOL
Não é final de Copa
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A seleção brasileira tem
mais chances de vencer hoje
porque atua no Brasil, está mais
pronta e possui um número
maior de grandes craques, como
Roberto Carlos e Ronaldo. Não
será surpresa também uma vitória do rival. Há um otimismo
exagerado com a seleção brasileira por causa dos três últimos
amistosos, contra duas fraquíssimas equipes. Ronaldinho Gaúcho
pode fazer falta.
A Argentina está em formação,
é inferior ao time da última eliminatória, mas possui excelentes jogadores em todas as posições e
uma grande tradição.
A Argentina atua diferente de
todas as seleções. Joga com uma
linha de três autênticos zagueiros,
outra com um volante e dois alas
e um meia (Aimar) na ligação
com os três da frente. Os atacantes pelos lados vão marcar os laterais brasileiros. Só o centroavante
vai ficar fixo à frente.
O time argentino é bastante
ofensivo, não por causa do desenho tático, e sim porque pressiona
na marcação. Quando recuperam
a bola, estão próximos do gol.
Com Bielsa, a Argentina nunca
jogou na defesa, esperando a outra equipe para contra-atacar, como faz o Boca Juniors. Será surpresa se isso acontecer.
Marcar por pressão é um grande risco, principalmente contra o
Brasil. Se a Argentina jogar assim, aumentam suas chances de
vencer ou de levar uma goleada.
Se essa marcação por pressão
for eficiente, o meio-campo brasileiro terá dificuldades em tocar a
bola, e os dois atacantes ficarão
isolados. Porém, se os armadores
conseguirem sair dessa marcação, haverá espaços na defesa argentina para o Kaká arrancar do
meio-campo, para o Luis Fabiano
e o Ronaldo receberem lançamentos e para o Cafu e o Roberto
Carlos avançarem pelas pontas.
Luis Fabiano vai substituir Ronaldinho Gaúcho. Seria melhor
adiantar um pouco o Kaká e colocar o Alex? São duas ótimas opções. Com Alex, o time manteria o
desenho tático. Como a Argentina deve jogar com apenas um volante, Alex e Kaká teriam mais
chances de tocar a bola e se aproximarem do Ronaldo.
O Brasil, em qualquer época,
raramente atuou com dois centroavantes. A única dupla que
brilhou foi Romário e Ronaldo,
durante pouco tempo, em 97. Os
dois se alternavam para receber a
bola, trocavam passes e faziam
belíssimos gols. Dois gênios. Romário estava em forma, e Ronaldo tinha mais mobilidade. Luis
Fabiano é um excepcional atacante, mas não é o Romário daqueles inesquecíveis tempos.
Teoricamente, dois centroavantes atuam melhor contra equipes
que jogam com dois zagueiros.
Por outro lado, dois craques artilheiros, que também possuem habilidade e velocidade, são melhores do que um, desde que não ocupem o mesmo espaço. Quando a
bola rolar, muitos fatores não
ponderáveis vão ajudar ou atrapalhar a atuação da dupla. Não
será com um jogo a definição se os
dois farão uma ótima parceria.
Os festeiros, vendedores e parte
da imprensa transformaram uma
partida entre duas grandes seleções rivais numa final de Copa do
Mundo. Não é bem assim. Quem
perder não vai deixar de ir ao
Mundial de 2006.
Dez anos atrás
Após passar um longo tempo
afastado dos estádios, fui ver, antes da Copa de 94, um garoto
franzino chamado Ronaldo atuar
pelo Cruzeiro. Fiquei encantado.
No outro dia levaram o Ronaldo na minha casa para fazer uma
reportagem. Ele me perguntou se
eu tinha comprado o apartamento com o dinheiro que ganhara no
futebol. Ele já demonstrava ser
um jovem sonhador e ambicioso,
como os grandes campeões.
Ronaldo foi embora, mas esqueceu a carteira. Freud diria que
o esquecimento foi um ato falho,
um desejo inconsciente de retornar ao lugar. Não acho que seja
sempre assim. Ronaldo voltou, e
conversamos mais um pouco, sem
os repórteres. Nesse dia, tinha saído uma foto no jornal com o Ronaldo deitado na cama do seu
quarto. Disse a ele que não deveria misturar o homem com o atleta. Provavelmente ele não prestou
atenção no que eu disse. Nem deveria. Os jovens, com razão, pensam em coisas mais alegres e descontraídas. Nenhum jovem é
também preparado para a fama.
Eu também não era, mas reagia.
Ronaldo ficou mais forte ("o
gordinho" chega sempre antes do
zagueiro) e se transformou, junto
ao Romário, no mais fascinante
centroavante de todos os tempos.
Ele é uma mistura de talento, obstinação e mistério. Um fenômeno.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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