São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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JUCA KFOURI

Esconde-esconde

Se às vésperas da Copa a ordem é esconder o jogo, a Noruega e a Iugoslávia que se cuidem: ambas não entendem nada de estratégia.
Porque ninguém mais está jogando o que pode nos amistosos preparatórios.
A Argentina até que andou se distraindo e se traindo.
Mas a Alemanha, a Itália, a Inglaterra, a própria França, também do grupo das candidatas ao título, andam colecionando mais críticas que elogios dos observadores.
O Brasil então, ah, o Brasil já é o campeão neste jogo de esconde-esconde.
Único país do seleto grupo dos campeões mundiais cujo nome não começa com vogal (pelo menos em português), a seleção nacional segue consoante as determinações de não entregar o ouro para os adversários.
A, é, i, ó, u, Alemanha, Argentina, Itália, Inglaterra e Uruguai -este último de futebol tão escondido que nem à Copa irá sempre se deliciaram com a nossa soberba e nunca se cansaram de elogiar nossa fantasia.
Pois a fantasia acabou bem acabada em 1994, tema, aliás, nesta semana, da tida como melhor revista de economia do mundo, a inglesa "The Economist".
Por isso, quando o timoneiro Zagallo elogia a atuação de seus rapazes diante do Athletic Bilbao ele não está tergiversando nem variando.
Quando diz que só mesmo a partir do terceiro jogo da Copa (diante da Noruega, por sinal) o time estará na ponta dos cascos, também não está só exprimindo um desejo.
No primeiro caso, o treinador está manifestando a sólida opinião de quem já viu tudo que precisava ver em futebol e, generoso, revela parte do mistério que só ele e seus comandados conhecem.
No segundo, novamente a experiência fala mais alto.
Ou não foi exatamente no terceiro jogo, diante do Zaire, em 1974, que a seleção brasileira ganhou de 3 a 0?
Portanto, calma brasileiros. A arte da dissimulação é para poucos e, felizmente, nossos patrícios que estão em Lésigny são mestres neste mister.
E que tal engolir alguns sapos imaginando que eles sejam príncipes?



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