São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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As seleções que podem desafiar a superioridade dos europeus

FRANZ BECKENBAUER

À medida que vai se aproximando a Copa do Mundo de futebol na França, os "experts" agitam cada vez mais o cérebro: que nações têm em absoluto alguma chance contra a aparente superioridade dos europeus? E como se fosse pouco, o Mundial se disputa na própria Europa, onde, à exceção de 1958, sempre uma equipe européia se proclamou campeã do mundo.
A questão da hegemonia européia adquire ainda mais relevo se se tem em conta que nos EUA houve sete equipes do continente nas quartas-de-final, pese que o Brasil, o único deles não-europeu, conquistou o título.
Na realidade, hoje os brasileiros são de novo sérios candidatos à vitória. Pode ser que a atual equipe seja ainda mais forte do que a campeã nos EUA.
Atuarão jogadores que na Europa aprenderam que, aparte da destreza com a bola, também é necessária a disciplina tática.
Na frente, junto ao experimentado Romário (se jogar), figura agora a nova estrela, Ronaldo, um jogador jovem, rápido e com "faro" de gol. É, sem dúvida, uma enorme melhora do ataque.
No meio-campo, Zagallo pode recorrer a jogadores experimentados, adestrados na escola européia, como Leonardo, Cafu e Roberto Carlos.
À frente da defesa -setor sobre o qual os brasileiros não despejam confiança -estará o perigoso Dunga, o primeiro a implantar elementos europeus no Brasil.
Além do Brasil, haverá de marcar presença a Argentina, que, como podemos constatar, aumentou seu rendimento seguidamente há meses. Parte dessa evolução se deve à estrela do atacante Gabriel Batistuta.
Uma pequena chance poderá ser concedida ao Chile. Com os goleadores Salas e Ivan Zamorano, tem a possibilidade de se classificar para as oitavas-de-final.
Os africanos também poderão dar desgosto aos europeus e quiçá consigam estar no primeiro plano. Os experts esperam, em vão, faz anos, mas desta vez há várias equipes que poderão protagonizar a façanha.
Aí estão os exemplos dos sul-africanos contra quem as equipes européias têm grandes dificuldades. De todo modo, considero mais forte a Nigéria.
O erro cometido, a meu juízo, pelos mexicanos ao despedir o técnico Bora Milutinovic, depois da classificação para o Mundial, redunda agora em benefício dos nigerianos. Milutinovic lhes dará a última polida tática. Não lhes permitirá só atacar alegremente sem que reforcem também o sistema defensivo. Por isso, não me surpreenderá se a Nigéria chegar às quartas-de-final ou às semifinais. Também Camarões pode ser a equipe de mais êxito na África.
Em troca, as equipes asiáticas carecem de suficiente experiência. Embora tenha atuado em vários Mundiais, não creio que a Coréia do Sul se classifique para a segunda fase. E penso exatamente o mesmo dos ambiciosos japoneses e dos sauditas.
Os EUA precisarão de um milagre para ir adiante num grupo com Alemanha e Iugoslávia.
Se no momento atual tivesse que nomear as quatro mais fortes potencias, continuo citando Brasil, Alemanha, Inglaterra e França. Mas, como havia tido, tanto Argentina como Nigéria poderão se meter na falange dos favoritos.


Franz Beckenbauer, 53, campeão do Mundo pela Alemanha, como jogador, em 1974, e como técnico, em 1990, é presidente do Bayern de Munique



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