São Paulo, Segunda-feira, 02 de Agosto de 1999
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Natação e judô são apostas para alcançar rival
A Argentina está longe, e o Brasil usa os últimos trunfos

EDGARD ALVES
MARCELO DAMATO
enviados especiais a Winnipeg (Canadá)

Duas das principais equipes brasileiras nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (Canadá) lideram a partir de hoje a delegação na busca de seus dois principais objetivos desta semana: quebrar o recorde de 21 medalhas de ouro, estabelecido há oito anos em Havana, Cuba, e derrotar os rivais argentinos na disputa pelo quarto lugar na classificação geral.
À frente, seguem os imbatíveis EUA, Cuba e Canadá, este reforçado pelo fato de atuar em casa.
A busca de 22 ouros (total ainda distante, pois, até o fechamento desta edição, só haviam sido conquistados nove) significaria a coroação da participação brasileira no Pan, organizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro num nível nunca antes visto.
Mas a comparação com a Argentina se tornou mais urgente e inevitável, por causa da rivalidade e da diferença de recursos e população entre os dois países.
Na primeira semana, a equipe argentina tomou a liderança logo no segundo dia e desde então vem aumentando a vantagem dia a dia, até chegar a 20 a 9 no final da tarde de ontem.
Os argentinos têm as medalhas concentradas na patinação (três), canoagem (quatro) e especialmente, remo, cujos sete ouros são frutos de um trabalho iniciado há seis anos, que conta com uma ajuda oficial da ordem de US$ 100 mil por mês, segundo os dirigentes da modalidade no Brasil.
A equipe nacional de remo, que dominou essa modalidade por décadas, teve uma atuação decepcionante, com apenas uma medalha, de prata.
Em relação à concentração de medalhas em poucos esportes, os brasileiros mostraram isso de forma ainda mais aguda. Dos ouros, sete vieram do atletismo.
O total da primeira semana foi comprometido pelo fiasco no tênis de mesa, que disputou o primeiro Pan sem Cláudio Kano, o brasileiro com maior número de medalhas na história do Pan (12, com 7 ouros).
Até na vela os brasileiros foram superados por 2 a 1 no que interessa para efeitos de classificação entre países (o ouro), embora no total de medalhas tenham conseguido vencer por 9 a 4, mantendo a tradição do país de domínio nesse esporte.
Na disputa particular com os vizinhos, a derrota de Ricardo Winicki para Marcos Galván na linha de chegada da última regata da classe mistral, anteontem, foi especialmente importante. Deixou em 11 uma diferença que poderia ser agora de 9 ouros.
Nessa disputa, nem a "medalha surpresa" obtida ontem pelo time brasileiro de hóquei sobre patins, que ficou com o bronze após o Canadá ser desclassificado por doping, ajudou. Na "escadinha" que se seguiu, o ouro foi para os EUA. E a prata, para a Argentina.
A superioridade argentina, se for confirmada até o fim do Pan, não será uma surpresa. Historicamente, os brasileiros ganham por uma margem apertada: foram superados pelos argentinos em cinco das 12 primeiras edições do Pan-Americano.
Em medalhas de ouro, porém, a vantagem é argentina, por quase 60% a mais: 206 contra 134 desde 1951. Os Estados Unidos lideram com folga, com 1.426.
O brasileiros ficam à frente apenas quando se retiram as medalhas obtidas em seu próprio país (108 argentinas, em 1951 e 1995, contra 15 brasileiras, em 1963), mas ainda existe um certo equilíbrio: 119 a 98 a favor dos atletas nacionais.
Ademais, os argentinos mostram uma evolução maior nos últimos anos.
Saltaram de um total de 17 ouros (média de 5,7) nos Pans de 75, 79 e 83, para 63 na soma de 87, 91 e 95 (média de 21). O aumento da eficiência foi de 268%.
No mesmo período o Brasil subiu bem menos, passando de 33 (11 em média) para 53 (17,7/Pan). No caso brasileiro, o aumento ficou em 60%.
Hoje, para a salvação da delegação montada pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, entram em ação as divisões mais poderosas da delegação brasileira.
Natação (16) e judô (13) foram os esportes que mais conquistaram medalhas no Pan de Mar del Plata, em 1995. Os ouros não foram tantos (quatro no total), mas há razões para supor que as coisas sejam diferentes agora.
A natação, especialmente a equipe feminina, é o esporte que mostra a maior evolução de resultados no Brasil. Gustavo Borges e Fernando Scherer lideram uma equipe que deve superar os três ouros, sete pratas e seis bronzes de quatro anos atrás.
No judô, a missão é mais fácil, embora haja menos medalhas de ouro em disputa (14 contra 16 anteriormente).
Mesmo periodicamente envolta por escândalos, a Confederação Brasileira de Judô tem conseguido manter o país como um dos melhores do mundo no esporte.
O objetivo do presidente da CBJ e chefe da equipe, Joaquim Mamede Jr., é obter nada menos do que quatro medalhas de ouro e 14 no total, das quais pelo menos 12 ele considera certas ou quase.
Atrás desses dois esportes, o vôlei, na areia e na quadra, deve garantir mais ouros para o Brasil. O jogo mais difícil, a final feminina de vôlei de quadra contra as cubanas, estava marcado para ontem à noite, após o fechamento desta edição. A final masculina é hoje.
Se os argentinos conseguirem se manter à frente, estará sendo confirmada uma tradição das disputas esportivas entre os dois países: quem domina em um determinado período o futebol, o esporte mais importante de ambos os lados da fronteira, é dominado nos esportes olímpicos.
A situação vivida pelos brasileiros nas décadas de 70 e 80, a era pós-Pelé, parece ser repetida na Argentina, cujos esportes olímpicos (que não o futebol) "compensam" a frustração provocada pelo futebol na era pós-Maradona.


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