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Natação e judô são apostas para alcançar rival
A Argentina está longe, e o Brasil usa os últimos trunfos
EDGARD ALVES
MARCELO DAMATO
enviados especiais a Winnipeg (Canadá)
Duas das principais equipes brasileiras nos Jogos
Pan-Americanos
de Winnipeg (Canadá) lideram a
partir de hoje a delegação na busca de seus dois principais objetivos desta semana: quebrar o recorde de 21 medalhas de ouro, estabelecido há oito anos em Havana, Cuba, e derrotar os rivais argentinos na disputa pelo quarto
lugar na classificação geral.
À frente, seguem os imbatíveis
EUA, Cuba e Canadá, este reforçado pelo fato de atuar em casa.
A busca de 22 ouros (total ainda
distante, pois, até o fechamento
desta edição, só haviam sido conquistados nove) significaria a coroação da participação brasileira
no Pan, organizada pelo Comitê
Olímpico Brasileiro num nível
nunca antes visto.
Mas a comparação com a Argentina se tornou mais urgente e
inevitável, por causa da rivalidade
e da diferença de recursos e população entre os dois países.
Na primeira semana, a equipe
argentina tomou a liderança logo
no segundo dia e desde então vem
aumentando a vantagem dia a
dia, até chegar a 20 a 9 no final da
tarde de ontem.
Os argentinos têm as medalhas
concentradas na patinação (três),
canoagem (quatro) e especialmente, remo, cujos sete ouros são
frutos de um trabalho iniciado há
seis anos, que conta com uma ajuda oficial da ordem de US$ 100
mil por mês, segundo os dirigentes da modalidade no Brasil.
A equipe nacional de remo, que
dominou essa modalidade por
décadas, teve uma atuação decepcionante, com apenas uma medalha, de prata.
Em relação à concentração de
medalhas em poucos esportes, os
brasileiros mostraram isso de forma ainda mais aguda. Dos ouros,
sete vieram do atletismo.
O total da primeira semana foi
comprometido pelo fiasco no tênis de mesa, que disputou o primeiro Pan sem Cláudio Kano, o
brasileiro com maior número de
medalhas na história do Pan (12,
com 7 ouros).
Até na vela os brasileiros foram
superados por 2 a 1 no que interessa para efeitos de classificação
entre países (o ouro), embora no
total de medalhas tenham conseguido vencer por 9 a 4, mantendo
a tradição do país de domínio
nesse esporte.
Na disputa particular com os vizinhos, a derrota de Ricardo Winicki para Marcos Galván na linha
de chegada da última regata da
classe mistral, anteontem, foi especialmente importante. Deixou
em 11 uma diferença que poderia
ser agora de 9 ouros.
Nessa disputa, nem a "medalha
surpresa" obtida ontem pelo time
brasileiro de hóquei sobre patins,
que ficou com o bronze após o
Canadá ser desclassificado por
doping, ajudou. Na "escadinha"
que se seguiu, o ouro foi para os
EUA. E a prata, para a Argentina.
A superioridade argentina, se
for confirmada até o fim do Pan,
não será uma surpresa. Historicamente, os brasileiros ganham por
uma margem apertada: foram superados pelos argentinos em cinco das 12 primeiras edições do
Pan-Americano.
Em medalhas de ouro, porém, a
vantagem é argentina, por quase
60% a mais: 206 contra 134 desde
1951. Os Estados Unidos lideram
com folga, com 1.426.
O brasileiros ficam à frente apenas quando se retiram as medalhas obtidas em seu próprio país
(108 argentinas, em 1951 e 1995,
contra 15 brasileiras, em 1963),
mas ainda existe um certo equilíbrio: 119 a 98 a favor dos atletas
nacionais.
Ademais, os argentinos mostram uma evolução maior nos últimos anos.
Saltaram de um total de 17 ouros (média de 5,7) nos Pans de 75,
79 e 83, para 63 na soma de 87, 91 e
95 (média de 21). O aumento da
eficiência foi de 268%.
No mesmo período o Brasil subiu bem menos, passando de 33
(11 em média) para 53 (17,7/Pan).
No caso brasileiro, o aumento ficou em 60%.
Hoje, para a salvação da delegação montada pelo presidente do
Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, entram em
ação as divisões mais poderosas
da delegação brasileira.
Natação (16) e judô (13) foram
os esportes que mais conquistaram medalhas no Pan de Mar del
Plata, em 1995. Os ouros não foram tantos (quatro no total), mas
há razões para supor que as coisas
sejam diferentes agora.
A natação, especialmente a
equipe feminina, é o esporte que
mostra a maior evolução de resultados no Brasil. Gustavo Borges e
Fernando Scherer lideram uma
equipe que deve superar os três
ouros, sete pratas e seis bronzes
de quatro anos atrás.
No judô, a missão é mais fácil,
embora haja menos medalhas de
ouro em disputa (14 contra 16 anteriormente).
Mesmo periodicamente envolta
por escândalos, a Confederação
Brasileira de Judô tem conseguido manter o país como um dos
melhores do mundo no esporte.
O objetivo do presidente da CBJ
e chefe da equipe, Joaquim Mamede Jr., é obter nada menos do
que quatro medalhas de ouro e 14
no total, das quais pelo menos 12
ele considera certas ou quase.
Atrás desses dois esportes, o vôlei, na areia e na quadra, deve garantir mais ouros para o Brasil. O
jogo mais difícil, a final feminina
de vôlei de quadra contra as cubanas, estava marcado para ontem à
noite, após o fechamento desta
edição. A final masculina é hoje.
Se os argentinos conseguirem se
manter à frente, estará sendo confirmada uma tradição das disputas esportivas entre os dois países:
quem domina em um determinado período o futebol, o esporte
mais importante de ambos os lados da fronteira, é dominado nos
esportes olímpicos.
A situação vivida pelos brasileiros nas décadas de 70 e 80, a era
pós-Pelé, parece ser repetida na
Argentina, cujos esportes olímpicos (que não o futebol) "compensam" a frustração provocada pelo
futebol na era pós-Maradona.
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