São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Sobe o Cruzeiro, e cai o real

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nas últimas rodadas do Brasileiro, o Cruzeiro foi a equipe que mais subiu. Não tanto como o dólar, para alegria dos banqueiros. Depois de um péssimo início, o time mineiro está em nono lugar, com a mesma média de aproveitamento do Atlético-PR (sétimo colocado).
O principal responsável pelo crescimento do Cruzeiro foi Alex.
Quando Luxemburgo assumiu o cargo, logo percebeu, como bom técnico que é, que o meio-campo do time era fraco e insistiu na contratação do Alex.
O técnico escalou três volantes, bastante fortes fisicamente e bons marcadores: Quintana, Viveros e Paulo Miranda. Os três correm e marcam, e Alex, livre, organiza as jogadas.
Alex está jogando demais, com talento e garra. Quer recuperar o prestígio. O jogador passa e finaliza com precisão. É preciso diferenciar o passe técnico e eficiente, mas previsível, do passe criativo e surpreendente.
Antes de a bola chegar aos seus pés, numa fração de segundos, Alex faz um mapeamento dos companheiros e defensores e a põe, com precisão, onde ninguém espera. Às vezes, nem o companheiro. Alex tem muita técnica e criatividade.
Porém falta ao jogador uma qualidade importante no futebol atual: mobilidade, capacidade de sair da marcação.
Alex ocupa uma estreita faixa longitudinal que vai do centro do meio-campo à área adversária. Aí, concentram-se os volantes, que desarmam ou atropelam o armador. Por isso, Alex é frequentemente anulado e desaparece em campo. Não é por apatia nem porque dorme.
No último ano, Kaká ocupou o lugar de destaque do Alex na seleção e no futebol brasileiro.
Além de habilidoso, técnico e criativo, o meia-atacante do São Paulo destaca-se pela mobilidade, velocidade e força física. É alto, forte e ganha as bolas divididas. Desloca-se por todo o campo. É difícil marcá-lo.
Kaká é mais guerreiro e previsível. Procura mais o gol. Alex é mais organizador, estilista e fantasista. Procura mais o companheiro. Dois craques.

Corrente da violência
A expulsão de jogadores tem sido um dos fatores decisivos nos resultados das partidas.
Os atletas brasileiros continuam violentos e sem equilíbrio emocional. Não sabem antecipar e desarmar sem atropelar o adversário. Confundem virilidade com agressão; marcação dura com pontapé. Reclamam demais e perturbam os árbitros. A seleção do penta foi exceção.
As equipes que estão perdendo e têm um jogador expulso, o que é mais comum, correm grandes riscos de serem goleadas.
Esse foi o principal motivo das goleadas sofridas pelo Atlético-MG para Flamengo e Paysandu.
Em 14 jogos, Ponte Preta e Atlético-MG tiveram cada um oito jogadores expulsos. Pior, muitos desses jogadores não foram ainda julgados pelo STJD.
O Palmeiras, com dez jogadores, só não foi goleado pelo Santos porque Marcos é um dos melhores goleiros do mundo e os atacantes do Peixe finalizaram mal.
Os treinadores são também responsáveis pela violência e tantas expulsões, que prejudicam os times. Em vez de substituir e/ou orientar os jogadores para não fazerem faltas desnecessárias, os técnicos, indiretamente, incentivam a violência com ordens para matar a jogada.
Muitos treinadores brasileiros acham que os times que cometem mais faltas vencem. "Se os outros fazem, temos também de fazer o mesmo." É a corrente da violência e da mediocridade.

Dedo do técnico
Este é um momento decisivo para o Palmeiras e para o Brasil. É tempo de mudanças. O Verdão está reagindo e recuperando a auto-estima. Tem ainda boas chances de não ser rebaixado, pelos resultados em campo, e não por causa de virada de mesa.
Individualmente, o time do Palmeiras, com a presença de todos os jogadores, está no nível das boas equipes. Não há, no Brasileiro, um time nem elenco que se destaque dos demais.
No momento instável e decisivo de uma equipe, a atuação do técnico torna-se muito mais importante do que é normalmente.
Além do firme comando dentro e fora de campo, Levir Culpi terá de escalar os melhores jogadores, nas posições corretas, e dar condições para que eles joguem tudo que sabem.
Este é o momento de o técnico colocar o seu dedo e de dar brilho ao time.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br



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