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MARADONA
Para o Brasil
ganhar a Copa,
só talento
não basta
No começo do ano, em entrevista à revista esportiva argentina "El Gráfico", eu dizia que o
Brasil estava dois passos à frente
das seleções que de costume são
assinaladas como favoritas para
ganhar a Copa.
Em relação às demais equipes,
minha opinião era de que a vantagem não era de dois passos,
mas de cinco.
Às vésperas do início da Copa
do Mundo, minha opinião não se
alterou. Em uma análise individual, jogador por jogador, equipe
por equipe, é o Brasil que reúne
os mais talentosos do mundo. Se
os brasileiros forem campões, ficarei satisfeito.
No início do ano, passei uma
boa temporada no Brasil. Estive
em Campinas e Santos, depois fui
ao Rio de Janeiro, onde passei o
Carnaval, e fiquei muito feliz
com a recepção que me deram os
brasileiros.
Esse é um dos motivos pelos
quais decidi, quando for participar de uma excursão despedindo-me dos campos de futebol,
uma excursão que provavelmente
passará pelos cinco continentes,
fazer minha preparação física em
território brasileiro, provavelmente em Fortaleza.
Para não sair do assunto, a Copa, que passa daqui a alguns dias
a ser o maior evento esportivo do
mundo, volto a dizer que estou
apostando no talento da seleção
brasileira.
A Argentina, uma seleção que
tem se destacado pela aplicação
de estratégia e pela garra de seus
jogadores; a França por abrigar a
Copa e nunca tê-la vencido anteriormente, o que aumenta a motivação de seus jogadores; a Alemanha e a Itália, que têm seleções tradicionais; e Inglaterra,
Holanda, Romênia, Espanha e
Dinamarca, equipes que estão
atuando em grande estilo, são os
adversários que estão a dois passos dos brasileiros.
Enfrentei o Brasil em duas ocasiões em Mundiais.
Na primeira vez não tive sorte,
e perdemos por 3 a 1. Foi na Espanha, em 1982. E é aí que está o
perigo para o Brasil. Ser o melhor
não é suficiente.
Os brasileiros tinham os jogadores mais talentosos do torneio,
porém caíram diante da aplicação dos italianos, para minha
surpresa e a de muita gente, provando que só talento não ganha
partida.
É necessário mais que isso. É
necessário ter uma estratégia,
uma estrutura de jogo sólida e
muita força de vontade. Foi o que
faltou ao Brasil e sobrou à Argentina no último amistoso entre as
duas equipes, em abril, no Maracanã, quando os argentinos venceram por 1 a 0.
Em 1986, quando fomos campeões do mundo, não encontramos com o Brasil.
Mas, em 1990, nos encontramos
novamente e, dessa vez, tivemos
sorte. Fizemos 1 a 0, eliminamos
os brasileiros e seguimos adiante
na Copa da Itália. Naquela ocasião, em uma das partidas mais
importantes da minha vida, eliminamos a Itália, nas semifinais,
numa demonstração de garra e
amor pela Argentina.
Pena que tenhamos perdido a
final para a Alemanha. Não foi
justo com aqueles que deram tanto amor à camisa.
Embora perdendo, saímos orgulhosos pelo que apresentamos,
pelo amor que demonstramos por
nosso país.
E é aí que quero chegar. Talento
não basta. Para que vocês, brasileiros, consigam o quinto campeonato mundial, fazendo valer
os passos em que estão à frente de
seus adversários, seus jogadores
terão que suar a camisa como
fizemos em 1990.
Se ainda assim fracassarem, será triste, mas será menos. E, assim espero que aconteça, terão o
reconhecimento de seus compatriotas.
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