São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998

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MARADONA

Para o Brasil ganhar a Copa, só talento não basta

No começo do ano, em entrevista à revista esportiva argentina "El Gráfico", eu dizia que o Brasil estava dois passos à frente das seleções que de costume são assinaladas como favoritas para ganhar a Copa.
Em relação às demais equipes, minha opinião era de que a vantagem não era de dois passos, mas de cinco.
Às vésperas do início da Copa do Mundo, minha opinião não se alterou. Em uma análise individual, jogador por jogador, equipe por equipe, é o Brasil que reúne os mais talentosos do mundo. Se os brasileiros forem campões, ficarei satisfeito.
No início do ano, passei uma boa temporada no Brasil. Estive em Campinas e Santos, depois fui ao Rio de Janeiro, onde passei o Carnaval, e fiquei muito feliz com a recepção que me deram os brasileiros.
Esse é um dos motivos pelos quais decidi, quando for participar de uma excursão despedindo-me dos campos de futebol, uma excursão que provavelmente passará pelos cinco continentes, fazer minha preparação física em território brasileiro, provavelmente em Fortaleza.
Para não sair do assunto, a Copa, que passa daqui a alguns dias a ser o maior evento esportivo do mundo, volto a dizer que estou apostando no talento da seleção brasileira.
A Argentina, uma seleção que tem se destacado pela aplicação de estratégia e pela garra de seus jogadores; a França por abrigar a Copa e nunca tê-la vencido anteriormente, o que aumenta a motivação de seus jogadores; a Alemanha e a Itália, que têm seleções tradicionais; e Inglaterra, Holanda, Romênia, Espanha e Dinamarca, equipes que estão atuando em grande estilo, são os adversários que estão a dois passos dos brasileiros.
Enfrentei o Brasil em duas ocasiões em Mundiais.
Na primeira vez não tive sorte, e perdemos por 3 a 1. Foi na Espanha, em 1982. E é aí que está o perigo para o Brasil. Ser o melhor não é suficiente.
Os brasileiros tinham os jogadores mais talentosos do torneio, porém caíram diante da aplicação dos italianos, para minha surpresa e a de muita gente, provando que só talento não ganha partida.
É necessário mais que isso. É necessário ter uma estratégia, uma estrutura de jogo sólida e muita força de vontade. Foi o que faltou ao Brasil e sobrou à Argentina no último amistoso entre as duas equipes, em abril, no Maracanã, quando os argentinos venceram por 1 a 0.
Em 1986, quando fomos campeões do mundo, não encontramos com o Brasil.
Mas, em 1990, nos encontramos novamente e, dessa vez, tivemos sorte. Fizemos 1 a 0, eliminamos os brasileiros e seguimos adiante na Copa da Itália. Naquela ocasião, em uma das partidas mais importantes da minha vida, eliminamos a Itália, nas semifinais, numa demonstração de garra e amor pela Argentina.
Pena que tenhamos perdido a final para a Alemanha. Não foi justo com aqueles que deram tanto amor à camisa.
Embora perdendo, saímos orgulhosos pelo que apresentamos, pelo amor que demonstramos por nosso país.
E é aí que quero chegar. Talento não basta. Para que vocês, brasileiros, consigam o quinto campeonato mundial, fazendo valer os passos em que estão à frente de seus adversários, seus jogadores terão que suar a camisa como fizemos em 1990.
Se ainda assim fracassarem, será triste, mas será menos. E, assim espero que aconteça, terão o reconhecimento de seus compatriotas.



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