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CLÓVIS ROSSI
Saiu um
problema,
falta achar
a alegria
Com a dispensa de Romário, Zagallo mata dois
coelhos com um só corte: livra-se de um falso problema e
arranja, preventivamente, uma
desculpa para um eventual fracasso do Brasil na Copa, justamente a ausência de Romário.
Por que falso problema? Pelos
motivos expostos aqui mesmo,
na segunda: a seleção havia ficado refém de uma saudade, a
do Romário de 1994. Saudade é
um bonito sentimento, mas, infelizmente, não marca gols.
Se os incondicionais de Romário conseguissem, por um segundo, pensar com o cérebro e
não com o coração, fariam a seguinte pergunta:
O que o jogador fez nos últimos, digamos, dois anos? O que
fez na Copa Ouro, por exemplo,
o mais lustroso fracasso recente
da seleção? O que fez nos dois
únicos amistosos realmente relevantes da fase de preparação
(Alemanha e Argentina).
A resposta é uma só, para todas as perguntas: nada, rigorosamente nada, a não ser se
transformar em um peso morto.
É verdade que os seus companheiros tampouco têm sido
muito mais que isso. Mas, pelo
menos em um caso (o jogo com
a Alemanha), a dupla Roberto
Carlos/Ronaldinho, esta sim,
conseguiu, em um único lance,
desequilibrar, criando e fazendo
o gol que deu a vitória ao Brasil.
Por que desculpa preventiva?
Porque Zico mal disfarçou a sua
pressa em cortar Romário. Logo,
o técnico sempre poderá dizer,
se o Brasil derrapar, que foi
pressionado e obrigado a dispensar um atleta que, em tese,
poderia se recuperar até, pelo
menos, a partida contra a Noruega, que parecer ser o rival
mais temível da seleção na fase
de classificação.
O diabo é que Zagallo foi escolher justo Emerson para substituir Romário (não no time teoricamente titular). Boa parte dos
torcedores, exceto os do Grêmio, estará se perguntando:
Emerson quem?
É estranho esse critério de
chamar uma centena de jogadores para testá-los numa infinidade de amistosos e, na hora
H, convocar um atleta que pouco participou dos testes.
De todo modo, com Emerson
ou com qualquer outro, o problema não está na qualidade
dos convocados ou mesmo na
qualidade dos ausentes.
Está, claramente, na arrumação em campo, no entrosamento, no espírito grupal.
Mas, em contrapartida, não há
uma única seleção da qual se
possa dizer, sem risco de queimar a língua, que é superior ao
time de Zagallo/Zico/Ricardo
Teixeira e cia.
A rigor e sem paixão alguma,
que nessa história de Copa não
é o meu forte , não há nem sequer uma seleção que se iguale
à do Brasil, medidos os talentos
individuais contra talentos individuais.
A que mais se aproxima é a da
Argentina, que leva a vantagem
adicional de ter crescido muito
nos amistosos mais recentes (inclusive e principalmente naquele contra o Brasil no Maracanã).
Sugiro ao leitor que faça o seguinte exercício: pegue a lista
dos convocados das seleções tidas como "grandes" ou como
potenciais emergentes (para
usar o termo da moda). Selecione aqueles que, sem deixar
margem para dúvidas, desbancariam os atletas chamados por
Zagallo, se brasileiros fossem.
Não daria nem sequer para
montar uma seleção alternativa. Até porque alguns dos craques que poderiam estar nessa
lista encontram-se em situação
parecida com a de Romário, ou
seja, em forma discutível (casos
dos italianos Roberto Baggio e
Alessandro del Piero ou do holandês Kluivert).
Parece claro que, se o Brasil
perder a Copa, não será pela ausência de Romário ou por uma
nítida superioridade de qualquer adversário, mas pela sua
própria e absoluta incompetência em fazer de um punhado de
astros uma equipe.
E não estou me referindo a
uma união grupal tipo 94, em
que os jogadores se uniram pela raiva contra a mídia. Futebol,
afinal, não é raiva, é alegria. Justamente o que mais está faltando na seleção brasileira, versões
94 ou 98.
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