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JANIO DE FREITAS
A discutível
estrutura
da seleção
de Zagallo
O corte de Romário é uma
devolução inoportuna,
mas não desproporcional, das
vezes incontáveis em que sua
presença caríssima era indispensável ao time e ansiada pela
torcida, quaisquer que fossem
na ocasião o time e a torcida,
mas algum motivo meramente
pessoal prevalecia sobre a obrigação.
Até das contusões de Romário
tornou-se habitual desconfiar,
tantas foram as vezes em que se
deu por contundido e logo se
mostrou em excelentes condições no futevôlei de praia. Foi
apenas natural que até há pouco a atual contusão fosse desacreditada a ponto de o próprio
Zagallo tomá-la, já na véspera
do que seria o primeiro treino
da seleção, por "só manha do
Romário".
O drible rapidíssimo, a noção
física do gol mesmo sem o visualizar, o toque sutil para a rede ou para a conclusão fácil de
um companheiro elevaram Romário ao nível dos grandes artilheiros, como ressalta insistentemente a crônica esportiva dos
últimos tempos. Mas, se me
perdoam esses especialistas,
Romário, em comparação com
os grandes artilheiros que o antecederam, só trouxe uma contribuição sua: aumentou muito,
com seu exemplo de ídolo nefasto, a incorreção do jogador
brasileiro como profissional.
O que está acontecendo à seleção e a Romário faz lembrar
que a insatisfatória presença de
Zagallo não é o único caso discutível na estrutura da delegação brasileira. Há muito tempo
Lídio Toledo merece ser dispensado de proporcionar mais
equívocos patéticos, tão pouco
recomendáveis para a reputação de um médico.
Os mesmos Lídio e Romário
foram protagonistas de um quiproquó que não precisaria ser
tão pouco lembrado quanto
tem sido. Aquele em que o médico previu pelo menos três a
quatro meses para que o jogador contundido voltasse a jogar,
mas Romário, adotando a
orientação do fisioterapeuta
Nilton Petroni, contestado por
Lídio, recuperou-se em 45 dias.
Também na véspera do que
seria o primeiro treino da seleção aqui na França, Lídio Toledo
profetizou que "em mais dois
dias Romário estará no gramado". Se a memória lhe sugeriu
ser mais cauteloso desta vez ou
se, de novo, diagnóstico e prognóstico estavam furados, Lídio
Toledo não escapa do mesmo
resultado: chutou muito para
fora. Esse, digamos, equívoco
não veio a se mostrar só na
França. Foi necessária uma surpreendente persistência das dores de Romário para que um
exame de ressonância fosse
providenciado. E outra surpresa: lá estava um edema não
pressentido pela douta medicina da seleção.
Errar, dizem, é humano, mas,
na seleção, os cruzamentos e
outras façanhas do Cafu se encarregam disso, e com sobra.
É ainda difícil saber como estão as relações, de fato, na comissão técnica. Zagallo, Lídio e
Zico são muito políticos, embora em graus e por modos diferentes. Mas, depois das muitas
entrevistas conflitantes dadas
pelos três, a permanência ou o
corte de Romário, tanto faz, não
deixaria de trincar alguma coisa
na comissão. Em qualquer dos
dois casos, no jogo das vaidades
emerge o lado vencedor e, o
que é pior, o lado perdedor.
Entre pessoas cuja meta na vida é fazer perdedores, é fácil
prever-se o desejo de revanche
próxima. Ou, em se tratando de
Zagallo, Zico e Lídio, de melhor
de três.
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