São Paulo, quinta, 3 de junho de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS
Em seu jogo mais rápido na França, brasileiro vence atual vice-campeão e obtém o melhor resultado da carreira
Meligeni acelera e passa à semifinal

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris

Jogando em ritmo acelerado, para impedir que o adversário alongasse a partida, o tenista brasileiro Fernando Meligeni, 54º do ranking mundial, conseguiu ontem o melhor resultado de sua carreira.
Bateu o espanhol Alex Corretja, sexto do mundo e atual vice-campeão do torneio, por 3 sets a 0 (6/2, 6/2 e 6/0), em apenas uma hora e 24 minutos, sua partida mais rápida em Roland Garros, e classificou-se para as semifinais do torneio mais importante do saibro (terra batida) no circuito mundial.
Amanhã, por uma vaga na final do Aberto da França, Meligeni enfrenta o ucraniano Andrei Medvedev, número 100 do ranking, que ontem eliminou Gustavo Kuerten.
O Aberto da França integra o Grand Slam, série dos quatro torneios mais importantes do mundo, junto com Wimbledon e os Abertos dos EUA e da Austrália.
"Foi um jogo muito estranho", declarou Meligeni, sobre o confronto de ontem. Ele temia que o espanhol tentasse estender a partida, para vencê-lo pelo cansaço.
Entre os oito jogadores que disputaram as quartas-de-final, Meligeni era o que havia ficado mais tempo em jogo: 10h54min.
Ontem, dizia que não poderia "passar cinco horas na quadra", pois era o que Corretja queria.
A preocupação, porém, mostrou-se de certa forma desnecessária. Sofrendo de uma crise de alergia, o espanhol não suportou o ritmo imposto por Meligeni.
Os tenistas entraram na quadra central sob vento forte, que levantava a poeira vermelha do saibro.
"Aqui, a gente sempre joga em ótimas condições. Hoje, foi uma partida diferente", afirmou.
Segundo o brasileiro, seu técnico, Ricardo Acioly, o alertou para o risco de a bola não respeitar a trajetória prevista.
Mas não foi apenas o vento forte que tornou a partida atípica. A má condição de Corretja também causou estranheza no público.
"Depois de cinco minutos, eu já achava que não mais tinha condições de jogar, pois estava me sentindo morto", afirmou o espanhol.
O rival, no entanto, não quis creditar a derrota exclusivamente a seu problema. "Hoje, ele (Meligeni) estava bem o bastante para ganhar de mim, mesmo se estivesse me sentindo bem."
Para o brasileiro, Corretja esteve bem nos primeiros sets. "No terceiro, ele nem jogou."
O espanhol afirmou que pensou inclusive em deixar a quadra, mas que preferiu continuar por respeito ao público e ao adversário.
A vitória nas quartas-de-final do Grand Slam foi um feito inédito. O mais longe que havia chegado em um torneio da série haviam sido as oitavas-de-final do mesmo torneio, duas vezes, em 93 e 98.
Caso vença a semifinal, Meligeni terá no domingo a chance de igualar Kuerten, único brasileiro a vencer um torneio de Grand Slam -o mesmo Aberto da França, em 97.
A outra semifinal do torneio será disputada entre o norte-americano Andre Agassi (14º do ranking da ATP) e o eslovaco Dominik Hrbaty (39º do mundo).
Após a rodada de ontem, Agassi tornou-se o único cabeça-de-chave a "sobreviver" no torneio. É a segunda vez que isso acontece na história do circuito profissional.
² Renascido
Medvedev, que já chegou a ocupar a quarta posição do ranking, em 1995, ontem brincou. "Podem me chamar de renascido", disse.
Como Meligeni, o ucraniano chegou a Paris fora das listas dos favoritos para as finais do torneio.
Também como o brasileiro, que bateu Corretja e o também espanhol Félix Mantilla (15º do ranking), Medvedev fez campanha difícil, batendo Pete Sampras (2º) e Gustavo Kuerten (8º).
"Bater Sampras não importa onde, no saibro, na lama ou na água, não importa. Se eu ganhar dele no gamão, sentir-me-ei bem."
O brasileiro disse que terá de promover uma "mudança drástica" em seu modo de jogar.
"Não vou ficar tão defensivo, mas também não vou sacar e volear. Preciso fazer ele se mexer."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.