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FUTEBOL
As listras da zebra
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Once Caldas campeão da
Libertadores, Santo André
campeão da Copa do Brasil, Grécia na final da Eurocopa. Corinthians, Flamengo e Botafogo na
rabeira do Brasileirão. Os leitores
perguntam: o que está acontecendo com o futebol?
Compartilho com eles a mesma
perplexidade. A tentação é responder com uma frase de efeito,
do tipo "a zebra está solta", ou "o
mundo da bola virou de pernas
para o ar", ou então dizer em tom
grave que "existe uma nova ordem no futebol mundial". Mas a
verdade é que não tenho respostas prontas. Quanto mais certezas
alguns aparentam ter, mais dúvidas me afligem.
A primeira coisa a ser considerada, para limpeza do terreno, é
que cada uma dessas "zebras"
tem uma história e uma razão de
ser específica.
O Santo André, por exemplo,
venceu a Copa do Brasil não só
porque tem uma equipe bem
montada como também porque o
torneio foi enfraquecido pela ausência dos clubes que disputavam
a Libertadores. Os times grandes
enfrentados pelo Ramalhão
-Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo- não estavam propriamente na sua melhor fase.
No confronto final, o Flamengo
confirmou o que todo mundo está
vendo: que qualquer time minimamente organizado pode vencer o rubro-negro, com ou sem Felipe. (A propósito: talvez Zinho,
com sua experiência, eficiência e
regularidade, faça mais falta do
que o impetuoso driblador.)
O Once Caldas, por sua vez, com
sua retranca eficaz, cozinhou em
banho-maria equipes tecnicamente muito mais bem equipadas, como o Santos, o São Paulo e
o Boca Juniors.
A explicação para a surpreendente performance dos gregos eu
deixo a cargo de quem acompanha mais de perto o futebol europeu, como Rodrigo Bueno, Paulo
Calçade e Paulo Vinícius Coelho.
Só digo que, contra a República
Tcheca, a Grécia foi beneficiada
pelos erros de pontaria do adversário (Koller e Baros perderam
gols cara a cara), sem contar o pênalti não marcado pelo juiz.
Se há um fato universal que se
destaca no futebol atual, seja aqui
ou na Europa, é o nível técnico relativamente baixo, o que tem ocasionado o triunfo de equipes eficientes e sem brilho. Ou, em outras palavras, a vitória do pragmatismo sobre a criatividade e a
fantasia.
Não quero diminuir a glória
dos vencedores, mas considero
uma deslavada hipocrisia dizer
que o Santo André, por exemplo,
é uma grande esquadra. Não é. É
um time mediano, no qual as peças têm se encaixado bem (pelo
menos na Copa do Brasil, já que
não tenho visto a Série B).
Com algumas exceções -como
o Barcelona na segunda metade
do último Espanhol ou a seleção
tcheca até o jogo de anteontem-,
nenhum time que eu conheça tem
enchido os olhos da torcida.
Não custa esperar que isso ainda aconteça, se algumas equipes
conseguirem equilibrar qualidade técnica do elenco e eficiência
tática. Candidatos mais visíveis:
Santos, Palmeiras, São Caetano.
Clássico alvinegro
No clássico dos alvinegros,
amanhã, o Santos é o franco favorito. Tem mais time e está em
ascensão, enquanto o Corinthians vê cada vez mais perto o
abismo da Segundona. Mas,
numa semana de zebras, quem
sabe o Timão cresce para cima
do rival e faz jus, pela primeira
vez no ano, ao célebre epíteto.
Portugal é aqui
Como nove entre dez brasileiros, vou torcer para Portugal
amanhã, na final da Eurocopa.
Na semifinal contra a Holanda,
Figo jogou como nos seus melhores dias, aliando força e técnica no mais alto grau. Foi bonita a vitória lusa, mas deu pena
testemunhar o ocaso de uma
brilhante geração de holandeses, composta por gente como
Frank de Boer, Seedorf, Davids
e Overmars.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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