São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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FUTEBOL

As listras da zebra

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Once Caldas campeão da Libertadores, Santo André campeão da Copa do Brasil, Grécia na final da Eurocopa. Corinthians, Flamengo e Botafogo na rabeira do Brasileirão. Os leitores perguntam: o que está acontecendo com o futebol?
Compartilho com eles a mesma perplexidade. A tentação é responder com uma frase de efeito, do tipo "a zebra está solta", ou "o mundo da bola virou de pernas para o ar", ou então dizer em tom grave que "existe uma nova ordem no futebol mundial". Mas a verdade é que não tenho respostas prontas. Quanto mais certezas alguns aparentam ter, mais dúvidas me afligem.
A primeira coisa a ser considerada, para limpeza do terreno, é que cada uma dessas "zebras" tem uma história e uma razão de ser específica.
O Santo André, por exemplo, venceu a Copa do Brasil não só porque tem uma equipe bem montada como também porque o torneio foi enfraquecido pela ausência dos clubes que disputavam a Libertadores. Os times grandes enfrentados pelo Ramalhão -Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo- não estavam propriamente na sua melhor fase.
No confronto final, o Flamengo confirmou o que todo mundo está vendo: que qualquer time minimamente organizado pode vencer o rubro-negro, com ou sem Felipe. (A propósito: talvez Zinho, com sua experiência, eficiência e regularidade, faça mais falta do que o impetuoso driblador.)
O Once Caldas, por sua vez, com sua retranca eficaz, cozinhou em banho-maria equipes tecnicamente muito mais bem equipadas, como o Santos, o São Paulo e o Boca Juniors.
A explicação para a surpreendente performance dos gregos eu deixo a cargo de quem acompanha mais de perto o futebol europeu, como Rodrigo Bueno, Paulo Calçade e Paulo Vinícius Coelho. Só digo que, contra a República Tcheca, a Grécia foi beneficiada pelos erros de pontaria do adversário (Koller e Baros perderam gols cara a cara), sem contar o pênalti não marcado pelo juiz.
Se há um fato universal que se destaca no futebol atual, seja aqui ou na Europa, é o nível técnico relativamente baixo, o que tem ocasionado o triunfo de equipes eficientes e sem brilho. Ou, em outras palavras, a vitória do pragmatismo sobre a criatividade e a fantasia.
Não quero diminuir a glória dos vencedores, mas considero uma deslavada hipocrisia dizer que o Santo André, por exemplo, é uma grande esquadra. Não é. É um time mediano, no qual as peças têm se encaixado bem (pelo menos na Copa do Brasil, já que não tenho visto a Série B).
Com algumas exceções -como o Barcelona na segunda metade do último Espanhol ou a seleção tcheca até o jogo de anteontem-, nenhum time que eu conheça tem enchido os olhos da torcida.
Não custa esperar que isso ainda aconteça, se algumas equipes conseguirem equilibrar qualidade técnica do elenco e eficiência tática. Candidatos mais visíveis: Santos, Palmeiras, São Caetano.

Clássico alvinegro
No clássico dos alvinegros, amanhã, o Santos é o franco favorito. Tem mais time e está em ascensão, enquanto o Corinthians vê cada vez mais perto o abismo da Segundona. Mas, numa semana de zebras, quem sabe o Timão cresce para cima do rival e faz jus, pela primeira vez no ano, ao célebre epíteto.

Portugal é aqui
Como nove entre dez brasileiros, vou torcer para Portugal amanhã, na final da Eurocopa. Na semifinal contra a Holanda, Figo jogou como nos seus melhores dias, aliando força e técnica no mais alto grau. Foi bonita a vitória lusa, mas deu pena testemunhar o ocaso de uma brilhante geração de holandeses, composta por gente como Frank de Boer, Seedorf, Davids e Overmars.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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