São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

Duas renovadas seleções

Jogo entre Brasil e Argentina testará opções do técnico Dunga, que espero que não deixe Kaká na reserva de Elano

NO AMISTOSO contra a Noruega, Dunga armou a equipe com uma linha de quatro defensores, outra no meio-campo formada por dois volantes e um meia de cada lado (Elano e Daniel Carvalho), com funções defensivas e ofensivas, e dois atacantes, com Robinho mais recuado, livre, e Fred como único fixo na frente.
Assim jogaram a França, a Itália e a maioria das seleções na Copa. A equipe brasileira atuou de forma parecida, com Ronaldinho Gaúcho e Kaká abertos, um de cada lado. A diferença foi ter dois atacantes fixos na frente (Ronaldo e Adriano).
Essa tradicional maneira de jogar, utilizada pela seleção brasileira na Copa de 1994, é eficiente em muitas situações, mas ficou evidente que Ronaldinho e Kaká, por jogarem de maneiras diferentes nos seus clubes, ficaram perdidos. O técnico precisa facilitar, e não dificultar para os principais jogadores.
Em recentes entrevistas, Dunga deu sinais de que Ronaldinho poderá jogar contra a Argentina, também renovada, mais adiantado e de que Kaká poderá ficar no banco. É inadmissível, por causa do esquema tático preferido do técnico, um jogador excepcional como Kaká ficar na reserva de Elano, a não ser em momentos especiais.
Se Ronaldinho, que era dúvida até ontem, atuar mais adiantado, Dunga poderá escalá-lo no lugar de Robinho e manter o esquema tático do jogo contra a Noruega. Ou o time atuará com três no meio-campo (Gilberto Silva, Edmílson e Elano) e mais Ronaldinho ou Kaká na ligação com dois atacantes (Ronaldinho ou Robinho e Fred).
Existe uma quarta opção, que não será usada, e que é a minha preferida. O time jogaria de uma forma parecida com a do Barcelona e com a da seleção de Portugal, com dois volantes, Kaká marcando e avançando pelo meio, como faz no Milan, e três mais à frente (Robinho pela direita, Ronaldinho pela esquerda e Fred pelo centro). Ronaldinho e Robinho não teriam posições fixas, ajudariam na marcação e entrariam também pelo meio para fazerem companhia a Fred. Assim Ronaldinho atua no time espanhol.
Prefiro também que um dos volantes jogue mais livre, marcando e atacando -Gilberto Silva e Edmílson não têm essas características. Mais importante ainda seria alternar a marcação tradicional com a por pressão, tomando mais a bola no meio-campo e na intermediária do rival, como fazem São Paulo, Inter, Barcelona e, às vezes, outros times brasileiros, geralmente os do Sul.
Em uma entrevista na semana passada ao Sportv, Dunga disse que a maioria das seleções da Europa joga com três zagueiros. Alberto Helena Júnior, que entende do assunto, corrigiu o treinador ao dizer que as principais seleções européias atuam há muito tempo com quatro defensores. Fiquei preocupado com os conhecimentos atuais do técnico.
Na mesma entrevista, Galvão Bueno, para enfatizar que o Brasil jogou desconcentrado na Copa, mostrou imagens em que os jogadores brasileiros e franceses brincavam antes de entrar em campo. Logo após, apareceram imagens antes da partida entre França e Itália com os jogadores sérios e calados.
Alberto Helena Júnior novamente discordou, com razão, ao falar que não só os brasileiros mas também os franceses, principalmente Zidane, brincavam e sorriam. Por ter perdido, o Brasil estava desconcentrado. Já a França, por ter vencido, estava descontraída e inspirada. As análises são geralmente baseadas pelos resultados.
Dezenas de fatores com pouca ou nenhuma importância são também valorizados nas vitórias e nas derrotas. Outros fatos muitos mais decisivos, que ocorrem dentro e fora de campo, são pouco discutidos ou esquecidos.


tostao.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Sonecas de 20 minutos são ideais
Próximo Texto: Atleta negro é escravo, diz sociólogo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.