São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Passaporte da alegria

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Está praticamente certa a oficialização do jogador de futebol vira-casaca de seleções.
O Comitê de Futebol da Fifa discutiu o tema nos últimos dias e deu parecer favorável aos atletas que desejam trocar de nação. A frase anterior, aliás, está mal construída. Não houve um movimento ou uma ação de jogadores pedindo à máxima entidade do futebol que pudessem defender outros países. O projeto ou a idéia é mesmo de dirigentes, cartolas.
Pegue a seleção júnior da Nigéria, sempre uma força do futebol mundial. Leve-a para a Espanha, um país que criou o hábito de dar nacionalidade para jogadores estrangeiros. Transforme os garotos africanos em espanhóis e os coloque em campo na Copa do Mundo seguinte. Fórmula simples.
A figura do vira-casaca de seleções, que, na verdade, não é nova no futebol (argentinos e espanhóis chamam, com o maior orgulho, Di Stéfano de conterrâneo, por exemplo), precisa ser aprovada ainda pelo Congresso da Fifa, mas as cartas já estão na mesa.
""Só" não pode jogar por duas seleções diferentes quem já atuou por uma seleção ""A". Um atleta poderá ser campeão mundial juvenil, júnior ou mesmo olímpico por um país e depois vencer uma Copa por outra bandeira (por isso a seleção nigeriana sub-20 foi utilizada como exemplo antes).
""Apenas" uma troca de casaca será permitida pela Fifa. Não dá para ser campeão juvenil pelo Brasil, júnior por Portugal e olímpico pelos EUA, por exemplo.
Essas ""barreiras" na verdade não representam quase nada. Os países mais desenvolvidos poderão desfrutar de todo o talento do Terceiro Mundo. Já temos vários casos de jogadores que optaram por defender uma rica nação européia no lugar de jogar pela seleção de seu país de origem -Vieira, mesmo com pedidos de seu pai, preferiu ser francês do que senegalês (pior para ele na Copa).
A França campeã mundial de 1998 já apontava o futuro com jogadores de Gana (Desailly), Guadalupe (Thuram), Nova Caledônia (Karembeu) e por aí vai.
Isso pode soar como um discurso antiimperialista (algo do tipo estão entregando o nosso ouro para o G-7), e talvez seja mesmo. É enorme o ganho social que alguém pode ter deixando um país que começa apenas agora com um programa de combate à fome e se mudando para uma nação em que a renda é polpuda e há uma distribuição decente.
Já que a Espanha foi tão citada na coluna, vale a pena lembrar que o chefe do Comitê de Futebol da Fifa é o espanhol Angel Maria Vilar Llona -os ""espanhóis" já desbancaram os brasileiros no futsal e ganharam o último Mundial da modalidade, quebrando assim a histórica hegemonia nacional, apelando para a ""estrangeirização" de sua equipe.
Uma forma fácil de ver como essa nova ""regra" atende aos interesses do futebol europeu é lembrar como é raro um cidadão de país rico querer tirar nacionalidade de nação subdesenvolvida.
Beckenbauer, homem-forte do Bayern, disse, após a eliminação do time na Copa dos Campeões, que a ordem agora é renovar o time. Abriu as portas para jovens (qualquer cidadania européia).
Talvez já pensando em ""equilibrar" as coisas, não permitindo um avanço de jovens atletas do Terceiro Mundo para a Europa, a Fifa estuda limitar o número de estrangeiros por time. Mas a partir de agora quem é estrangeiro?

Kaká
Especulações falam de propostas de Brescia, Bayer Leverkusen e Manchester United. As duas primeiras, confirmadas pelo empresário do são-paulino (que levou França para a Alemanha), já foram descartadas. A do Manchester seria boa, mas não existiria.

Diego
O agente Dino Lamberto tem vendido a revelação pela Europa (o nome dele circula lá desde que o Santos fez amistoso na Escócia). Promete passaporte europeu para o jogador no ano que vem.

Romário
Esse não é nenhuma revelação, mas seu nome foi lembrado nos últimos dias na Espanha: escândalo fiscal. O ex-presidente do Valencia Francisco Roig teria pago US$ 1,4 milhão ao Ypiranga por três atletas que nunca atuaram no clube. Segundo o dirigente, foi uma ""estratégia" para pagar Romário sem ""pesadas taxas".

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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