São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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VÔLEI

Controle ajuda no trabalho físico das jogadoras e deixa técnico em alerta para eventuais alterações de comportamento

Osasco faz "patrulha" para bloquear TPM

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu sou capaz de destruir na quadra, vencer e, quando o jogo acabar, cair no choro."
A frase da atacante da seleção brasileira de vôlei Paula Pequeno pode parecer estranha para quem não convive com uma sigla que faz parte do cotidiano de cerca de 35% das mulheres: TPM.
Alertada pela influência da tensão pré-menstrual no desempenho das atletas, a comissão técnica do BCN/Osasco decidiu fazer um trabalho único entre as equipes de vôlei do país.
O preparador físico Zé Elias é encarregado de acompanhar o ciclo das jogadoras e suas reações no período que antecede a menstruação, quando aparecem os sintomas da TPM. O objetivo é, além de detectar alterações hormonais, direcionar o trabalho para evitar problemas físicos e possíveis conflitos no grupo, dada a sensibilidade e agressividade exacerbadas das jogadoras nesse período.
"É importante conhecer o padrão emocional de cada uma para saber como se dirigir a elas, ter jogo de cintura", afirmou o técnico José Roberto Guimarães.
De tanto conhecer o "padrão emocional" das atletas, Zé Roberto diz que percebe alterações no comportamento das jogadoras logo que chega aos treinos.
"Enquanto fazem alongamento, ando entre elas. Cada uma tem um tique. Se uma está mexendo demais no cabelo, está mais calada, eu já percebo e fico atento ao rendimento no treino", conta.
Zé Elias estabeleceu um método de controle do ciclo menstrual das jogadoras atrelado ao da musculação. Elas anotam em uma tabela os dias do ciclo e, de acordo com esses dados, ele procura concentrar os exercícios de maior intensidade fora do período da TPM, quando as mulheres podem apresentar dores no corpo, inchaço e estarem menos dispostas.
Além disso, se notar alguma irregularidade nos ciclos, Elias submete as atletas a um controle hormonal para ver se há alterações. Uma das preocupações é com a amenorréia (ausência de menstruação), comum em mulheres submetidas a grandes esforços físicos -o alerta é dado quando ocorrem três ou menos menstruações durante um ano. No caso de anormalidades, Elias as encaminha para especialistas.
Para a coordenadora do Grupo de Apoio à Mulher com TPM do Hospital das Clínicas de São Paulo, Mara Diegoli, o controle feito pelo Osasco é benéfico para a relação do grupo desde que isso não faça com que alguma delas seja considerada inapta a fazer algo nesse período e a mulher não use a TPM como pretexto.
Segundo ela, a TPM, se não provocar dores ou depressão, pode ser benéfica para o esporte.
"A atleta pode descarregar a tensão, a agressividade na quadra. Assim, além de poder ter um ganho de rendimento, como uma cortada mais forte, por exemplo, vai deixar a quadra menos tensa."
Outros clubes que possuem times de ponta no país não possuem trabalho específico para controle da TPM. Mas procuram minimizar o problema.
Hairton Cabral, do São José dos Campos, por exemplo, já tentou controlar os ciclos menstruais ele mesmo, mas desistiu. Acha que misturaria duas funções, mas procura orientar as jogadoras a tratar a TPM em caso de alterações de comportamento e "dá uma maneirada nas broncas" se percebe que alguma atleta está sensível. O mesmo fazem Luizomar de Moura, de Campos, e Hélio Griner, do Rexona.
No MRV-Minas, as atletas são encaminhadas à psicóloga do clube se um problema é detectado.



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