São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

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Ao trocar pés pelas mãos, pugilista usa medo para ser mais antigo campeão

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho do britânico Joe Calzaghe, 35, quando criança, era ser ala-esquerdo de algum grande clube de futebol.
Mas, por influência do pai, Enzo, calçou luvas de boxe. Seus dias passaram a ser divididos entre os treinos de futebol e as sessões de pugilismo.
Hoje, aos 35, o futebol é só uma lembrança para o lutador do País de Gales. Movido, conforme justifica, ""pelo medo de perder", Calzaghe é o mais antigo campeão em atividade -há dez anos defende o cinturão supermédio da OMB e hoje, em casa, faz a 21ª defesa.
O oponente é o dinamarquês Mikkel Kessler, titular pelo CMB e pela AMB. Os dois estão invictos. Calzaghe, em 43 lutas. Kessler, em 39 duelos.
Se vencer, fica a apenas quatro do recorde de todos os tempos, 25, que pertence ao pesado Joe Louis. Mas, como respondeu à Folha em teleconferência, quer privilegiar a qualidade de seus próximos adversários a perseguir números.
Muitos acreditam, em grande parte baseados em declarações dos próprios pugilistas, que a mola propulsora dos grandes campeões é o orgulho, a agressividade ou a vontade de mostrar que é o melhor do mundo. Bastante sincero, ""O Orgulho do País de Gales" aponta outro motivo.
""Sempre tive a ambição de permanecer invicto [como profissional], acredito que há o medo da derrota. Acho que perdi nove ou dez combates amadores e ainda lembro de cada um", respondeu Calzaghe, ao ser questionado sobre qual o segredo para permanecer invicto durante 14 anos.
No duelo de hoje, disputado no País de Gales, ante um público totalmente pró-Calzaghe, uma vez mais o temor da derrota será importante fator.
""Lutar em casa põe toda a pressão sobre mim. Quando você luta diante de sua torcida, obviamente você não quer perder de jeito nenhum", justifica Calzaghe, que perdeu o título da FIB no tapetão.
Calzaghe optou em definitivo pela carreira como boxeador ao conquistar um título nacional amador aos 13 anos.
Foi aí que desistiu de vez de jogar bola. Mas ainda imagina o que poderia ter acontecido.
""Haveria muito mais dinheiro se tivesse sido jogador futebol, mas você não pode ter tudo. Para ser honesto, aos nove, dez anos, queria ser uma estrela do futebol", filosofa o lutador, cujo talento somente muito recentemente foi reconhecido internacionalmente.
""Mas meu pai comprou um punching ball [um aparelho de boxe], e comecei a treinar", diz. ""Eu tinha muita habilidade [no futebol], mas era meio lento. Não tinha explosão. Sou muito mais veloz com as mãos do que com os pés. Posso correr durante todo o dia, mas não rapidamente. No futebol, você tem que ser bem rápido."
Fora o futebol e o pugilismo, Calzaghe nunca considerou uma outra linha de trabalho.
""Após deixar o futebol de lado, meu sonho passou a um dia ser campeão mundial. Nem me concentrava nos estudos porque sabia que esse era meu destino", argumenta.
""Na escola, perguntavam-me o que queria ser. Quando respondia, diziam: "Não, estamos falando de uma profissão de verdade". Mas perseverei. E veja aonde cheguei", finalizou.


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