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foco
Ao trocar pés pelas mãos, pugilista usa medo para ser mais antigo campeão
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
O sonho do britânico Joe
Calzaghe, 35, quando criança,
era ser ala-esquerdo de algum
grande clube de futebol.
Mas, por influência do pai,
Enzo, calçou luvas de boxe.
Seus dias passaram a ser divididos entre os treinos de futebol e as sessões de pugilismo.
Hoje, aos 35, o futebol é só
uma lembrança para o lutador
do País de Gales. Movido, conforme justifica, ""pelo medo de
perder", Calzaghe é o mais antigo campeão em atividade
-há dez anos defende o cinturão supermédio da OMB e hoje, em casa, faz a 21ª defesa.
O oponente é o dinamarquês
Mikkel Kessler, titular pelo
CMB e pela AMB. Os dois estão invictos. Calzaghe, em 43
lutas. Kessler, em 39 duelos.
Se vencer, fica a apenas quatro do recorde de todos os tempos, 25, que pertence ao pesado Joe Louis. Mas, como respondeu à Folha em teleconferência, quer privilegiar a qualidade de seus próximos adversários a perseguir números.
Muitos acreditam, em grande parte baseados em declarações dos próprios pugilistas,
que a mola propulsora dos
grandes campeões é o orgulho,
a agressividade ou a vontade
de mostrar que é o melhor do
mundo. Bastante sincero, ""O
Orgulho do País de Gales"
aponta outro motivo.
""Sempre tive a ambição de
permanecer invicto [como
profissional], acredito que há
o medo da derrota. Acho que
perdi nove ou dez combates
amadores e ainda lembro de
cada um", respondeu Calzaghe, ao ser questionado sobre
qual o segredo para permanecer invicto durante 14 anos.
No duelo de hoje, disputado
no País de Gales, ante um público totalmente pró-Calzaghe, uma vez mais o temor da
derrota será importante fator.
""Lutar em casa põe toda a
pressão sobre mim. Quando
você luta diante de sua torcida,
obviamente você não quer
perder de jeito nenhum", justifica Calzaghe, que perdeu o
título da FIB no tapetão.
Calzaghe optou em definitivo pela carreira como boxeador ao conquistar um título
nacional amador aos 13 anos.
Foi aí que desistiu de vez de
jogar bola. Mas ainda imagina
o que poderia ter acontecido.
""Haveria muito mais dinheiro se tivesse sido jogador
futebol, mas você não pode ter
tudo. Para ser honesto, aos nove, dez anos, queria ser uma
estrela do futebol", filosofa o
lutador, cujo talento somente
muito recentemente foi reconhecido internacionalmente.
""Mas meu pai comprou um
punching ball [um aparelho de
boxe], e comecei a treinar",
diz. ""Eu tinha muita habilidade [no futebol], mas era meio
lento. Não tinha explosão. Sou
muito mais veloz com as mãos
do que com os pés. Posso correr durante todo o dia, mas
não rapidamente. No futebol,
você tem que ser bem rápido."
Fora o futebol e o pugilismo,
Calzaghe nunca considerou
uma outra linha de trabalho.
""Após deixar o futebol de lado, meu sonho passou a um
dia ser campeão mundial.
Nem me concentrava nos estudos porque sabia que esse
era meu destino", argumenta.
""Na escola, perguntavam-me o que queria ser. Quando
respondia, diziam: "Não, estamos falando de uma profissão
de verdade". Mas perseverei. E
veja aonde cheguei", finalizou.
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