|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Faniquito e covardia
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Quem viu o fumaceiro no
Morumbi, à saída de mais
uma vitória são-paulina, pensou
assistir ao estrago provocado pelo
fogo em um depósito de materiais
do estádio. Enganou-se: ali queimava pouca coisa. As labaredas
domingueiras vinham do vestiário do visitante, onde o executivo
Kia Joorabchian dava piti. Peitou
treineiro, administrador e boleiro. Altivo, Tite mandou-o baixar
a bola. No dia seguinte foi posto
na rua.
A demissão de Tite não é apenas mais uma no roteiro-padrão
em que o técnico paga o pato. Ela
revela que a alardeada metodologia gerencial renovadora da Media Sports Investments pode renovar muita coisa, menos a gestão
de recursos humanos.
A demissão ocorreu depois de
Tite defender um princípio: não é
na frente dos jogadores que dirigente cobra ou esculacha treinador. Nem vestiário, com o clima
quente da derrota, é lugar para
faniquito de cartola.
Entre o forte, o homem do dinheiro Kia, e os fracos, o monte de
jovens recém-saídos dos juniores,
Tite ficou com os garotos. Quantos agiriam assim? Fosse outra a
situação, sua saída seria o epílogo
típico em equipes que vão aquém
do que esperam os clubes. Depois
do incêndio de domingo, também
significou o troco covarde a quem
teve a coragem de impor respeito
a si e aos seus.
Daqui a alguns meses, quando
o time estará muito melhor, não
faltará quem diga: Tite não conseguiu nada com essas feras. Vão
falar de Roger? Ele veio na semana passada, não jogava havia
tempos e sabe-se lá como entrou
no segundo tempo. Gustavo Nery
só agora chega. Carlos Alberto
coleciona cartões e ausências.
Tevez, ótimo atacante, prossegue
a má fase que vivia na Argentina.
Mascherano ainda está por aparecer.
Não foram poucas as vezes em
que o Corinthians se assemelhou
neste ano a um combinado dos
juniores das últimas Taças São
Paulo. Em um ambiente de pressão e intrigas. Alguém acha que o
barulho em torno dos mistérios
da MSI não afeta o ambiente? O
destempero de Fininho com seu
gesto ofensivo responde.
Tite não continua o bom treinador aclamado no Campeonato
Brasileiro? Desaprendeu? Não foi
apeado, com certeza, por vocação
defensivista. Fosse assim, não
iriam atrás de Daniel Passarella,
que em 98 se recusava a escalar
lado a lado os talentos de Ariel
Ortega e Marcelo Gallardo (vai
escalar Roger e Carlos Alberto
juntos?). Para não falar na perseguição primitiva a cabeludos.
Em mais uma revelação, a incansável dupla Eduardo Arruda e
Ricardo Perrone contou que Kia
esteve com Emerson Leão para
contratá-lo. Nada de estranho, a
não ser a conversa bem nas vésperas do clássico.
O incrível foi Andrés Sanchez,
vice corintiano, dizer que um
eventual esforço por Leão seria
antiético. Isso depois de a reunião
ter ocorrido. Se ele não mentiu, é
porque não sabia. Se não sabia,
nada apita no futebol. Kia o teria
humilhado ao ocultar o encontro.
É o que chamam de "parceria".
Carrossel mágico
Tão triste quanto a morte de Rinus Michels é a impressão desoladora de que o genial técnico
holandês não deixou um só
herdeiro no futebol.
Seleção
Semana passada, perguntei por
que não se libera Emerson para
ir mais à frente, como ele faz na
Juventus. Alberto Helena Jr.
objeta: quem deve sair mais é a
dupla Juninho e Zé Roberto.
Helena tem razão.
Impedimento
Fora filigranas, o International
Board deixou tudo como dantes. Que bom.
Rio 40 graus
Túlio, Romário e Sorato brilham no Estadual. Precisa falar
alguma coisa?
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Cinderela do ringue Próximo Texto: Automobilismo: F-1 ameaça inédito "cai-cai" na Austrália Índice
|