São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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FUTEBOL

Faniquito e covardia

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Quem viu o fumaceiro no Morumbi, à saída de mais uma vitória são-paulina, pensou assistir ao estrago provocado pelo fogo em um depósito de materiais do estádio. Enganou-se: ali queimava pouca coisa. As labaredas domingueiras vinham do vestiário do visitante, onde o executivo Kia Joorabchian dava piti. Peitou treineiro, administrador e boleiro. Altivo, Tite mandou-o baixar a bola. No dia seguinte foi posto na rua.
A demissão de Tite não é apenas mais uma no roteiro-padrão em que o técnico paga o pato. Ela revela que a alardeada metodologia gerencial renovadora da Media Sports Investments pode renovar muita coisa, menos a gestão de recursos humanos.
A demissão ocorreu depois de Tite defender um princípio: não é na frente dos jogadores que dirigente cobra ou esculacha treinador. Nem vestiário, com o clima quente da derrota, é lugar para faniquito de cartola.
Entre o forte, o homem do dinheiro Kia, e os fracos, o monte de jovens recém-saídos dos juniores, Tite ficou com os garotos. Quantos agiriam assim? Fosse outra a situação, sua saída seria o epílogo típico em equipes que vão aquém do que esperam os clubes. Depois do incêndio de domingo, também significou o troco covarde a quem teve a coragem de impor respeito a si e aos seus.
Daqui a alguns meses, quando o time estará muito melhor, não faltará quem diga: Tite não conseguiu nada com essas feras. Vão falar de Roger? Ele veio na semana passada, não jogava havia tempos e sabe-se lá como entrou no segundo tempo. Gustavo Nery só agora chega. Carlos Alberto coleciona cartões e ausências. Tevez, ótimo atacante, prossegue a má fase que vivia na Argentina. Mascherano ainda está por aparecer.
Não foram poucas as vezes em que o Corinthians se assemelhou neste ano a um combinado dos juniores das últimas Taças São Paulo. Em um ambiente de pressão e intrigas. Alguém acha que o barulho em torno dos mistérios da MSI não afeta o ambiente? O destempero de Fininho com seu gesto ofensivo responde.
Tite não continua o bom treinador aclamado no Campeonato Brasileiro? Desaprendeu? Não foi apeado, com certeza, por vocação defensivista. Fosse assim, não iriam atrás de Daniel Passarella, que em 98 se recusava a escalar lado a lado os talentos de Ariel Ortega e Marcelo Gallardo (vai escalar Roger e Carlos Alberto juntos?). Para não falar na perseguição primitiva a cabeludos.
Em mais uma revelação, a incansável dupla Eduardo Arruda e Ricardo Perrone contou que Kia esteve com Emerson Leão para contratá-lo. Nada de estranho, a não ser a conversa bem nas vésperas do clássico.
O incrível foi Andrés Sanchez, vice corintiano, dizer que um eventual esforço por Leão seria antiético. Isso depois de a reunião ter ocorrido. Se ele não mentiu, é porque não sabia. Se não sabia, nada apita no futebol. Kia o teria humilhado ao ocultar o encontro. É o que chamam de "parceria".

Carrossel mágico
Tão triste quanto a morte de Rinus Michels é a impressão desoladora de que o genial técnico holandês não deixou um só herdeiro no futebol.

Seleção
Semana passada, perguntei por que não se libera Emerson para ir mais à frente, como ele faz na Juventus. Alberto Helena Jr. objeta: quem deve sair mais é a dupla Juninho e Zé Roberto. Helena tem razão.

Impedimento
Fora filigranas, o International Board deixou tudo como dantes. Que bom.

Rio 40 graus
Túlio, Romário e Sorato brilham no Estadual. Precisa falar alguma coisa?

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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