São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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Câmara quebra os sigilos bancário e fiscal de empresa do ex-jogador

Às vésperas de seu final, CPI chega a Pelé

Comissão da CBF/Nike faz devassa em outras oito empresas de sócio do ex-ministro, mas deverá encerrar trabalhos na semana que vem

FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A CPI criada para investigar o contrato firmado entre a Nike e a Confederação Brasileira de Futebol, que deve ter seu fim decretado amanhã no plenário da Câmara, chegou ao maior ídolo da história do esporte brasileiro, Pelé.
Ontem, foi aprovada a quebra dos sigilos bancário e fiscal de nove empresas ligadas a Hélio Vianna, sócio do ex-ministro de Esportes de FHC. Entre as empresas afetadas pela medida está a Pelé Sports & Marketing, o principal empreendimento do ex-jogador.
A vida bancária de Vianna também será devassada pela CPI, que acredita que o sócio de Pelé praticou crimes de evasão, elisão e sonegação fiscal.
Além disso, Eurico Miranda (PPB-RJ) e Dr. Rosinha (PT-PR) apresentaram documentos que, segundo eles, provam que o ex-ministro e Vianna são sócios da empresa Pelé Sports & Marketing Incorporation (PSMI), com sede nas Ilhas Virgens Britânicas.
Os documentos mostram que a PSMI negociou em 1993 com a Rede Globo os direitos de transmissão de oito jogos das eliminatórias para a Copa de 94. A emissora pagou, segundo Eurico, US$ 300 mil em uma conta da empresa no paraíso fiscal.
Vianna refutou de imediato a informação de que ele e Pelé sejam donos da empresa no exterior. "Eu fui apenas nomeado procurador, não sou nem nunca fui proprietário. Os donos são investidores estrangeiros, alguns argentinos", disse.
O sócio de Pelé, no entanto, não soube responder por que aparece, em um outro documento, como vice-presidente executivo da PSMI e por que o ex-jogador, não sendo dono da empresa, permitiu que seu nome fosse utilizado.
Durante o depoimento, Vianna foi convidado pelo menos três vezes a disponibilizar os sigilos bancários de suas empresas, mas disse que não poderia, sem a anuência dos sócios, entregar as contas à CPI da CBF/Nike.
"Não tenho nenhum problema em abrir minha vida pessoal, mas as das empresas eu não posso disponibilizar porque não sou o único dono. Mas, se a CPI votar e entender que as quebras de sigilos são necessárias para a investigação, não colocarei obstáculos. Nem vou recorrer ao Supremo Tribunal Federal", disse Vianna.
Após a terceira recusa, o deputado Dr. Rosinha encaminhou requerimento para devassar a vida bancária das empresas do sócio de Pelé, que acabou aprovado na própria sessão por unanimidade.

Contra-ataque
O ataque ao principal ídolo do esporte brasileiro é uma resposta dos parlamentares ao acordo firmado entre o ministro Carlos Melles (Esporte e Turismo), Pelé e Ricardo Teixeira, que, segundo o próprio presidente da comissão, Aldo Rebelo (PC do B-SP), minou os trabalhos da CPI.
Os resultados da quebra de sigilos da empresas de Pelé e de seu sócio, porém, devem ser inócuos.
Ontem, Rebelo recebeu dos líderes de partidos na Câmara a informação de que não haverá acordo para prorrogar a CPI por mais dois meses.
Sem o acordo com as lideranças, o requerimento para prorrogação dos trabalhos será votado amanhã à tarde. As chances de ser aprovado, no entanto, são mínimas, conforme admitem os próprios integrantes da CPI.
"Sem o acordo fica muito difícil. Eu falei para o Aécio (Neves, presidente da Casa) fazer o que quiser. Ele falou que vai colocar o requerimento em votação na quinta (amanhã). Tem muita gente querendo que a investigação pare. Alguns trabalharam para interromper os trabalhos: Teixeira, J. Hawilla (dono da Traffic), Juan Figer (empresário investigado pela comissão), o próprio governo. Foi um belo abafa que fizeram", disse Rebelo, bastante abatido.
Para o deputado, a principal intenção do governo ao brecar a CPI é dar força ao "pacotão" lançado no último dia 13 e não enfraquecer a união do presidente da CBF com o ex-ministro, que selaram a paz após oito anos de divergências públicas.
Se as previsões se confirmarem e o requerimento de prorrogação for rejeitado, a última sessão pública da CPI acontecerá na próxima quarta-feira, quando será ouvido o empresário J. Hawilla, responsável pela intermediação do acordo Nike-CBF.
O relator Sílvio Torres também lamentou o provável fim dos trabalhos da CPI. "A única coisa que posso dizer é que meu relatório ficará prejudicado."
Até um dos deputados que mais combateram a CPI, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, disse que lutaria pela continuidade das investigações. "Eu queria que os trabalhos fossem prorrogados para colocar gente como o Hélio Vianna na cadeia."


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