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Câmara quebra os sigilos bancário e fiscal de empresa do ex-jogador
Às vésperas de seu final, CPI chega a Pelé
Comissão da CBF/Nike faz devassa em outras oito empresas de sócio do ex-ministro, mas deverá encerrar trabalhos na semana que vem
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A CPI criada para investigar o
contrato firmado entre a Nike e a
Confederação Brasileira de Futebol, que deve ter seu fim decretado amanhã no plenário da Câmara, chegou ao maior ídolo da história do esporte brasileiro, Pelé.
Ontem, foi aprovada a quebra
dos sigilos bancário e fiscal de nove empresas ligadas a Hélio Vianna, sócio do ex-ministro de Esportes de FHC. Entre as empresas
afetadas pela medida está a Pelé
Sports & Marketing, o principal
empreendimento do ex-jogador.
A vida bancária de Vianna também será devassada pela CPI, que
acredita que o sócio de Pelé praticou crimes de evasão, elisão e sonegação fiscal.
Além disso, Eurico Miranda
(PPB-RJ) e Dr. Rosinha (PT-PR)
apresentaram documentos que,
segundo eles, provam que o ex-ministro e Vianna são sócios da
empresa Pelé Sports & Marketing
Incorporation (PSMI), com sede
nas Ilhas Virgens Britânicas.
Os documentos mostram que a
PSMI negociou em 1993 com a
Rede Globo os direitos de transmissão de oito jogos das eliminatórias para a Copa de 94. A emissora pagou, segundo Eurico, US$
300 mil em uma conta da empresa
no paraíso fiscal.
Vianna refutou de imediato a
informação de que ele e Pelé sejam donos da empresa no exterior. "Eu fui apenas nomeado
procurador, não sou nem nunca
fui proprietário. Os donos são investidores estrangeiros, alguns argentinos", disse.
O sócio de Pelé, no entanto, não
soube responder por que aparece,
em um outro documento, como
vice-presidente executivo da
PSMI e por que o ex-jogador, não
sendo dono da empresa, permitiu
que seu nome fosse utilizado.
Durante o depoimento, Vianna
foi convidado pelo menos três vezes a disponibilizar os sigilos bancários de suas empresas, mas disse que não poderia, sem a anuência dos sócios, entregar as contas à
CPI da CBF/Nike.
"Não tenho nenhum problema
em abrir minha vida pessoal, mas
as das empresas eu não posso disponibilizar porque não sou o único dono. Mas, se a CPI votar e entender que as quebras de sigilos
são necessárias para a investigação, não colocarei obstáculos.
Nem vou recorrer ao Supremo
Tribunal Federal", disse Vianna.
Após a terceira recusa, o deputado Dr. Rosinha encaminhou requerimento para devassar a vida
bancária das empresas do sócio
de Pelé, que acabou aprovado na
própria sessão por unanimidade.
Contra-ataque
O ataque ao principal ídolo do
esporte brasileiro é uma resposta
dos parlamentares ao acordo firmado entre o ministro Carlos Melles (Esporte e Turismo), Pelé e Ricardo Teixeira, que, segundo o
próprio presidente da comissão,
Aldo Rebelo (PC do B-SP), minou
os trabalhos da CPI.
Os resultados da quebra de sigilos da empresas de Pelé e de seu
sócio, porém, devem ser inócuos.
Ontem, Rebelo recebeu dos líderes de partidos na Câmara a informação de que não haverá acordo para prorrogar a CPI por mais
dois meses.
Sem o acordo com as lideranças, o requerimento para prorrogação dos trabalhos será votado
amanhã à tarde. As chances de ser
aprovado, no entanto, são mínimas, conforme admitem os próprios integrantes da CPI.
"Sem o acordo fica muito difícil.
Eu falei para o Aécio (Neves, presidente da Casa) fazer o que quiser. Ele falou que vai colocar o requerimento em votação na quinta
(amanhã). Tem muita gente querendo que a investigação pare. Alguns trabalharam para interromper os trabalhos: Teixeira, J. Hawilla (dono da Traffic), Juan Figer
(empresário investigado pela comissão), o próprio governo. Foi
um belo abafa que fizeram", disse
Rebelo, bastante abatido.
Para o deputado, a principal intenção do governo ao brecar a
CPI é dar força ao "pacotão" lançado no último dia 13 e não enfraquecer a união do presidente da
CBF com o ex-ministro, que selaram a paz após oito anos de divergências públicas.
Se as previsões se confirmarem
e o requerimento de prorrogação
for rejeitado, a última sessão pública da CPI acontecerá na próxima quarta-feira, quando será ouvido o empresário J. Hawilla, responsável pela intermediação do
acordo Nike-CBF.
O relator Sílvio Torres também
lamentou o provável fim dos trabalhos da CPI. "A única coisa que
posso dizer é que meu relatório ficará prejudicado."
Até um dos deputados que mais
combateram a CPI, o presidente
do Vasco, Eurico Miranda, disse
que lutaria pela continuidade das
investigações. "Eu queria que os
trabalhos fossem prorrogados
para colocar gente como o Hélio
Vianna na cadeia."
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