São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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FUTEBOL

Rescisão com a Umbro é considerada obscura por membros da comissão

Após seis meses, CPI da Nike ouve enfim a Nike

DO ENVIADO A BRASÍLIA

A multa contratual de US$ 10 milhões paga pela parceria CBF/ Nike à Umbro será um dos principais pontos do depoimento de hoje de dois representantes da multinacional de material esportivo, os executivos Ingo Ostrovsky, porta-voz da empresa, e Amadeu Garcia Júnior à CPI sobre o futebol na Câmara.
Segundo os integrantes da comissão, esse é um dos pontos mais obscuros do acordo firmado entre a Nike e a Confederação Brasileira de Futebol.
Será a primeira vez, desde que a CPI da CBF/Nike foi instalada, em outubro do ano passado, que os deputados vão ouvir representantes da multinacional que batiza a comissão.
A Folha teve acesso ao contrato firmado entre a entidade máxima do futebol brasileiro e a Umbro, antigo fornecedora de material esportivo para a seleção.
O primeiro acordo, que deveria vigorar até junho de 1995, foi firmado em 21 de fevereiro de 1991. Para fornecer material à seleção, a Umbro pagaria US$ 3 milhões.
Em outubro de 1994, pouco depois do título nos EUA, o contrato foi alterado, mas acabou rescindido em 1996.
De acordo com o documento, a Umbro Internacional, em quase seis anos de patrocínio, desembolsou o equivalente a US$ 3,45 milhões para ser parceira da CBF.
Ou seja, após vestir a única seleção tetracampeã do mundo durante mais de meia década -inclusive na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, o momento mais glorioso da história recente do futebol nacional-, a Umbro teve um lucro de US$ 6,55 milhões.

De pai para filho
O relator da CPI, deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), confirmou que os executivos da Nike e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, serão questionados sobre o valor da multa rescisória.
"Foi um negócio de pai para filho para a Umbro. Vamos perguntar à Nike se foi ela que tomou a decisão de pagar os US$ 10 milhões ou se a ordem partiu da CBF. Mas não tenha dúvidas de que o negócio só foi bom para a Umbro", disse o deputado.
Se o contrato, rompido em 1996, não tivesse sido rescindido, a a Umbro teria de pagar à CBF US$ 2,1 milhões (divididos em sete parcelas de US$ 350 mil) para vestir a seleção até junho de 1999.
O acordo firmado entre a Nike e a CBF, em 1996, estabeleceu que o valor total do patrocínio, a ser pago em dez anos pela multinacional norte-americana, era de US$ 170 milhões -dos quais US$ 10 milhões seriam destinados para pagar a multa à Umbro.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, disse, por meio de assessores, que "a última coisa que se deve discutir no contrato com a Nike é se ele foi vantajoso para a seleção". Para o dirigente, "todos, até os parlamentares, sabem que foi o maior valor recebido por uma seleção ou time de futebol em todos os tempos".
De acordo com Teixeira, que vai depor na CPI da CBF/Nike na próxima terça-feira (leia texto nesta página), o valor da multa rescisória não passou pelos cofres da entidade e foi pago diretamente à Umbro pela multinacional norte-americana.
Ontem, o porta-voz da Nike no Brasil, Ingo Ostrovsky, afirmou que não comentaria o contrato ou qualquer outra questão antes do depoimento de hoje.
O executivo também prometeu para hoje uma resposta aos parlamentares sobre se a empresa vai ou não utilizar a cláusula que prevê a ruptura de seu contrato com Ronaldo no caso de o jogador ficar mais de dois anos sem jogar pelo time nacional.
A última vez que o atacante da Inter de Milão (Itália) defendeu a seleção brasileira foi em outubro de 1999, contra a Holanda.
O assessor de imprensa de Ronaldo, Rodrigo Paiva, descartou que o atleta volte a ser convocado em menos de seis meses, abrindo uma prerrogativa para o rompimento do contrato com a Nike.
O então presidente da Umbro do Brasil, Fernando Bagnoli, procurado pela Folha em seu telefone celular, não foi localizado até o fechamento da edição.
(FERNANDO MELLO)


Colaborou João Carlos Assumpção, do Painel FC



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