São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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TÊNIS

Sejam bem-vindos

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Mais do que apressar a adaptação ao saibro e traçar planos para o fim-de-semana de confronto na Copa Davis, os australianos Patrick Rafter e Lleyton Hewitt têm como preocupação saber como vai se comportar a torcida brasileira.
Em Miami, onde disputaram o Masters Series, essa preocupação não tirou o foco dos aussies: eles chegaram às semifinais -jogando bem e mostrando muita força. Mas a preocupação ficou clara com as conversas que tiveram com quem já atuou por aqui e com as ligações telefônicas para saber como estavam as coisas em Florianópolis.
Rafter e Hewitt têm hoje mais receio da torcida do que os golpes de Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni. Estes, eles já conhecem (e sabem o potencial e imaginam como anular). Mas o que vai acontecer nas arquibancadas, nos corredores, na cidade, isso eles desconhecem e, de certo modo, temem.
Você pode até perguntar por que esses tenistas, experientes, de primeira linha, talentosos, estão preocupados com isso. São dois, basicamente, os motivos.
Primeiro, porque a torcida brasileira (sul-americana, de um modo geral) não tem boa reputação.
Depois da vitória sobre os equatorianos, na primeira rodada, um jornalista australiano perguntou a Rafter como seria lidar com a "etiqueta da torcida brasileira". Rafter não titubeou: "Vou lá jogar tênis; quando sentir que não estiver conseguindo, falo com o juiz".
Não imaginem, portanto, que Rafter vai parar seus jogos várias vezes por catimba ou frescura. Ele quer ter condições para jogar, só isso.
Além do árbitro, Rafter acredita que Kuerten, cavalheiro e esportista de primeira linha, não deixará que nada de errado aconteça durante os jogos. Sabe que Kuerten já atuou em praticamente todos os países do circuito mundial e conhece o que é permitido e o que não é, o que é absurdo ou não.
E, segundo, porque o que aconteceu na Espanha, na decisão da Copa Davis no ano passado, definitivamente marcou a vida dos australianos.
Foram 14 mil espanhóis vaiando, gritando, xingando Hewitt e o resto do time. Um ambiente agressivo, daqueles que se vê algumas vezes em estádios pequenos de futebol, jamais em quadras de tênis.
Um integrante do time revelou: ""Parecíamos animais enjaulados, com outros animais loucos para nos devorar".
Palavras como "nada a ver com esporte", "pior lugar para se jogar tênis no mundo" e "inacreditável" foram usadas para descrever o susto e o medo que sentiram (sim, os australianos sentiram o medo físico, de apanhar) em Barcelona.
Agora, em vez de Alex Corretja, o líder espanhol que simplesmente virou a cara para os australianos no confronto em Barcelona porque havia sido provocado por Hewitt semanas antes, em Lisboa, Kuerten, o simpático anfitrião em sua cidade.
Em vez de Barcelona, Florianópolis. Em vez da torcida espanhola, a brasileira.
Rafter e Hewitt estão se preparando para isso e, mais até, estão loucos para nos conhecer. Saber de fato e sentir na pele como são os torcedores brasileiros.
Podemos ser uns animais. Ou podemos ser educados. Vai depender simplesmente do comportamento depois que o juiz falar: "Silêncio, por favor".

Esportividade
Na edição de 2000, o Brasil foi muito bem recebido em Brisbane. O confronto acabou 5 a 0 para a Austrália. Em nenhum momento houve desrespeito ou má intenção contra o Brasil. Que tal retribuir do mesmo modo, dentro e fora da quadra?

Confiança
Mark Philippoussis, o australiano que não veio para a Davis, passou por uma cirurgia delicada, no joelho esquerdo, na quinta. Ficará pelo menos dois meses afastado das quadras. Um dia depois, uma empresa de material esportivo anunciou um novo contrato com o Scud. Por três anos e alguns milhões de dólares.

Categoria
Só a Davis para tirar o espaço de Andre Agassi e Jennifer Capriati nesta coluna. Mas volto a eles em breve. O que andam fazendo é digno não só de registro, mas de uma coluna inteira.

E-mail: reandaku@uol.com.br



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