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TÊNIS
Sejam bem-vindos
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Mais do que apressar a
adaptação ao saibro e
traçar planos para o fim-de-semana de confronto na Copa Davis, os australianos Patrick Rafter e Lleyton Hewitt têm como
preocupação saber como vai se
comportar a torcida brasileira.
Em Miami, onde disputaram
o Masters Series, essa preocupação não tirou o foco dos aussies: eles chegaram às semifinais
-jogando bem e mostrando
muita força. Mas a preocupação
ficou clara com as conversas que
tiveram com quem já atuou por
aqui e com as ligações telefônicas para saber como estavam as
coisas em Florianópolis.
Rafter e Hewitt têm hoje mais
receio da torcida do que os golpes de Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni. Estes, eles já
conhecem (e sabem o potencial
e imaginam como anular). Mas
o que vai acontecer nas arquibancadas, nos corredores, na cidade, isso eles desconhecem e,
de certo modo, temem.
Você pode até perguntar por
que esses tenistas, experientes,
de primeira linha, talentosos, estão preocupados com isso. São
dois, basicamente, os motivos.
Primeiro, porque a torcida
brasileira (sul-americana, de
um modo geral) não tem boa reputação.
Depois da vitória sobre os
equatorianos, na primeira rodada, um jornalista australiano
perguntou a Rafter como seria
lidar com a "etiqueta da torcida
brasileira". Rafter não titubeou:
"Vou lá jogar tênis; quando sentir que não estiver conseguindo, falo com o juiz".
Não imaginem, portanto, que
Rafter vai parar seus jogos várias vezes por catimba ou frescura. Ele quer ter condições para
jogar, só isso.
Além do árbitro, Rafter acredita que Kuerten, cavalheiro e
esportista de primeira linha,
não deixará que nada de errado
aconteça durante os jogos. Sabe
que Kuerten já atuou em praticamente todos os países do circuito mundial e conhece o que é
permitido e o que não é, o que é
absurdo ou não.
E, segundo, porque o que
aconteceu na Espanha, na decisão da Copa Davis no ano passado, definitivamente marcou a
vida dos australianos.
Foram 14 mil espanhóis
vaiando, gritando, xingando
Hewitt e o resto do time. Um
ambiente agressivo, daqueles
que se vê algumas vezes em estádios pequenos de futebol, jamais em quadras de tênis.
Um integrante do time revelou: ""Parecíamos animais enjaulados, com outros animais
loucos para nos devorar".
Palavras como "nada a ver
com esporte", "pior lugar para
se jogar tênis no mundo" e "inacreditável" foram usadas para
descrever o susto e o medo que
sentiram (sim, os australianos
sentiram o medo físico, de apanhar) em Barcelona.
Agora, em vez de Alex Corretja, o líder espanhol que simplesmente virou a cara para os australianos no confronto em Barcelona porque havia sido provocado por Hewitt semanas antes, em Lisboa, Kuerten, o simpático
anfitrião em sua cidade.
Em vez de Barcelona, Florianópolis. Em vez da torcida espanhola, a brasileira.
Rafter e Hewitt estão se preparando para isso e, mais até, estão loucos para nos conhecer.
Saber de fato e sentir na pele como são os torcedores brasileiros.
Podemos ser uns animais. Ou
podemos ser educados. Vai depender simplesmente do comportamento depois que o juiz falar: "Silêncio, por favor".
Esportividade
Na edição de 2000, o Brasil foi muito bem recebido em Brisbane. O confronto acabou 5 a 0 para a Austrália. Em nenhum momento houve desrespeito ou má intenção contra o Brasil. Que
tal retribuir do mesmo modo, dentro e fora da quadra?
Confiança
Mark Philippoussis, o australiano que não veio para a Davis,
passou por uma cirurgia delicada, no joelho esquerdo, na quinta. Ficará pelo menos dois meses afastado das quadras. Um dia depois, uma empresa de material esportivo anunciou um novo
contrato com o Scud. Por três anos e alguns milhões de dólares.
Categoria
Só a Davis para tirar o espaço de Andre Agassi e Jennifer Capriati nesta coluna. Mas volto a eles em breve. O que andam fazendo é digno não só de registro, mas de uma coluna inteira.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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