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FUTEBOL
Figura decorativa
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Como era previsto, a função do coordenador técnico
da seleção, Antônio Lopes, é decorativa. Assim também foi a do
Zico na Copa de 98, ao lado do
Zagallo, e a do Candinho com
Luxemburgo.
Quem escala, treina e decide a
programação técnica é Leão.
Quem resolve os problemas burocráticos e logísticos são os administradores da seleção.
A função do coordenador seria coordenar a comissão técnica e discutir, com o treinador, os
problemas da equipe.
Na prática, o coordenador técnico apenas acompanha e referenda as decisões da comissão
técnica e desfruta das mordomias da seleção.
A maioria dos técnicos brasileiros, como Emerson Leão, não
está acostumada a dialogar no
mesmo nível nem a dividir responsabilidades. Nos clubes, contratam seus auxiliares para dizerem amém.
Esse foi um dos motivos de eu
não aceitar o convite para ser o
coordenador da seleção, mesmo
sabendo que eu escolheria o
treinador. Além de não ter afinidade com a direção da CBF,
não aceitaria um cargo para
não fazer nada.
É preciso pensar em um novo
modelo. Em algumas equipes da
Inglaterra, os técnicos de campo
executam os treinos, sentam-se
no banco nos dias de jogos, mas
é um outro quem planeja, decide o esquema tático e contrata
os jogadores. É também um modelo ditatorial. Só muda quem
manda.
Acredito numa solução diferente e democrática. O treinador de campo acompanharia os
treinamentos, ficaria no túnel
no dia da partida, mas o planejamento, a escalação, a contratação e a dispensa de jogadores
e o esquema tático seriam discutidos e decididos por ambos. Seria utopia?
O único treinador que já demonstrou sobriedade, equilíbrio
emocional e capacidade de dialogar no mesmo nível foi o Parreira na Copa dos EUA, em
1994. Na verdade, Zagallo opinava, mas toda a responsabilidade era do técnico.
Não estou sugerindo a volta
da dupla. Parreira não quer arriscar seu prestígio.
Prefere ensinar e contar sua
experiência, como faz o treinador francês Aimé Jacquet, campeão do mundo em 1998.
Além disso, no atual momento
crítico, a seleção brasileira precisa de um treinador ousado,
inovador, experiente e com conhecimento técnico. Capaz de
mudar a filosofia, o desenho tático, definir uma equipe, fazer
com que alguns jogadores brilhem como em seus clubes e,
principalmente, criar uma empatia, uma cumplicidade dos
atletas com a seleção e o público
brasileiro.
Esse supertécnico só existe na
TV. Trocar de treinador novamente pode ser ainda pior. A razão e o bom senso dizem que é
muito cedo para julgar a atuação de Leão, mas a intuição sussurra no meu ouvido que ele
não tem futuro.
Muitos leitores preferem o Zagallo. O "Velho Lobo" é experiente, bom técnico, merece todas as homenagens pela sua
carreira, mas esse é um momento de renovação.
Zagallo tem ótima saúde, vibra como um jovem, mas suas
idéias são velhas.
Os que iriam gostar de ver o
Zagallo chorando e falando em
amor pela camisa amarela,
diante das câmeras de TV, são
os anunciantes e a economia de
mercado. Eles dominam o mundo, o futebol, e já estão preocupados com a seleção.
Crítico não existe somente para criticar, mas também para
elogiar e observar as coisas boas.
O problema é que, no atual momento do futebol brasileiro, está
difícil gostar de alguma coisa.
Na partida contra a seleção
equatoriana, com exceção das
falhas individuais no gol do adversário, o sistema defensivo
brasileiro foi melhor ou menos
ruim que nos jogos anteriores.
Roque Júnior, um jogador mediano, é melhor do que o Edmilson.
Uma outra constatação positiva no futebol brasileiro é a mudança de comportamento da
maioria dos treinadores. Deixaram de ofender os árbitros e os
auxiliares, dão entrevistas com
bom humor e explicam suas
condutas.
Por outro lado, em Minas Gerais, Abel Braga e Felipão continuam dando show e ofendendo
os árbitros. Merecidamente, o
técnico do Atlético foi suspenso
-e o mesmo deve acontecer
com Felipão.
Os treinadores só mudarão
definitivamente de postura
quando a maioria da imprensa
criticar e deixar de enaltecer o
machismo e o comportamento
teatral desses profissionais.
Temos de aplaudir não somente a preocupação física da
comissão técnica do São Paulo
com o meia-atacante Cacá, em
aumentar sua massa muscular,
mas também a humana e a psicológica.
O treinador Vadão teme que o
excesso de elogios e de convites
para o jogador comparecer às
tevês e festas atrapalhem o jovem.
Cacá não pode se iludir e desconcentrar. Ainda é apenas
uma promessa. Precisa aprender a conviver com o assédio. Separar o profissional do ídolo e
do homem.
O sucesso é prazeroso, sedutor,
mas frequentemente empobrece
o ser humano.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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